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11/03/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:20am

Fontes do governo americano em Washington vêm afirmando que a liberalização comercial é um dos temas que o presidente Barack Obama pretende discutir com sua colega brasileira, Dilma Rousseff, em sua visita ao Brasil no fim da semana que vem. Mas, com a sua economia ainda patinando e altas taxas de desemprego, é pouco provável que Obama vá gastar muito do seu capital político com o tema, um ano antes de uma campanha para reeleição que promete ser bastante disputada.

Desde que assumiu, há dois anos, o presidente Obama vem reiterando seu interesse em destravar as negociações da Rodada Doha, que está emperrada desde 2008 sobretudo por causa da resistência de países desenvolvidos em reduzir subsídios agrícolas. Há, de fato, alguns sinais novos de interesse no governo americano de levar adiante uma agenda de livre comércio, a despeito do clima pouco favorável entre o eleitorado.

Por insistência dos Estados Unidos, a retomada de Doha foi incluída no comunicado final do encontro de líderes do G-20, grupo que reúne as 20 maiores economias do planeta, ocorrido em Toronto em meados de 2010. Ainda no ano passado, Obama empenhou-se pessoalmente em superar os impasses em torno do acordo de livre comércio com a Coreia do Sul.

Falta apoio ao livre comércio entre os americanos

Mais recentemente, o seu governo passou a trabalhar para levar adiante os acordos bilaterais com Panamá e Colômbia, negociados ainda na administração George W. Bush, mas que acabaram emperrados no Congresso. Uma delegação de funcionários do governo americano foi recentemente à Colômbia para tentar encontrar soluções para casos de violação de direitos humanos naquele país, um dos pontos levantados por parlamentares democratas para a aprovação do acordo. A vitória dos republicanos nas eleições legislativas do ano passado também criam um ambiente mais favorável no Congresso para acordos de livre comércio.

Nesse ano, Obama nomeou um nome pró-abertura comercial, William Daley, como chefe de gabinete, cargo com funções semelhantes à chefia da Casa Civil no Brasil. Ele é um dos arquitetos do Nafta, o tratado de livre comércio da América do Norte.

Toda essa movimentação acontece, de forma paradoxal, num período em que, por causa da crise econômica, os eleitores americanos estão menos propensos a apoiar a globalização e acordos de livre comércio de forma geral. Em fins de 2010, uma pesquisa do "Wall Street Journal" apontou que 47% dos americanos acham que os acordos de livre comércio prejudicaram os Estados Unidos, enquanto apenas 23% acham que ajudaram.

Há uma grande correlação entre a situação econômica do país e a opinião dos americanos sobre acordos comerciais. Em fins de 1999, quando os ventos econômicos eram mais favoráveis, 39% dos americanos achavam que os acordos comerciais beneficiam os EUA, enquanto 30% tinham a opinião de que eram prejudiciais.

Clifford Young, diretor-executivo do Ipsos Public Affairs, um instituto de pesquisas de opinião, afirma que os americanos são hoje mais céticos em relação à globalização e à abertura comercial do que os brasileiros. No Brasil, diz ele, a leitura em geral é que a integração econômica internacional do país contribuiu na história recente de sucesso econômico. "Nos Estados Unidos, há mais medo da globalização", afirma. "A abertura comercial é associada com perda de empregos, queda de salários e competição de empresas estrangeiras."

Se os americanos têm grandes desconfianças em relação à globalização, porque Obama estaria puxando agora uma agenda de liberalização comercial? Uma das explicações é que o governo já gastou o arsenal de instrumentos macroeconômicos para reanimar sua economia. Não há mais espaço político, por exemplo, para medidas adicionais de estímulos fiscais, depois que os republicanos venceram as eleições legislativas com um discurso de austeridade. Os juros já estão perto de zero e o Federal Reserve vem imprimindo mais dinheiro. Resta, basicamente, a alternativa das exportações.

Outra explicação é que, embora sejam contra globalização, os americanos médios não dão muita atenção para o assunto. Há dois dias, o American Enterprise Institute, um influente centro de estudos baseado em Washington, divulgou uma longa análise da opinião pública local sobre abertura comercial. Uma das pesquisas citadas, feita pelo Princeton Survey Research Associates (PSRA)/Pew, mostra que 87% dos americanos mencionaram que a economia é o assunto mais importante para o governo e o Congresso, 84% citaram empregos, e 73% apontaram o terrorismo. Apenas 34% consideram prioritário lidar com o comércio global.

"Não é porque a população não aprova a globalização que necessariamente o presidente Obama vai abrir mão de sua agenda de liberalização comercial", afirma Young, do Ipsos. "Mas ele tenderá sempre a levar esse tema mais para o lado da criação de empregos."

De certa forma, Obama já vem fazendo isso. "Antes de assumir o governo, deixei claro que iria assinar apenas acordos [de livre comércio] justos para os trabalhadores americanos e que promovem os empregos americanos", disse ele em janeiro no "estado da União", um tradicional discurso que os presidentes americanos fazem à nação a cada início de ano.

Pelo menos na retórica, os negociadores americanos tenderão ser mais duros do que em tempos de bonança econômica. Na agenda de comércio de Obama para 2011, por exemplo, recentemente encaminhada ao Congresso, o governo americano diz que vai exigir de países como Brasil, China e Índia mais abertura, em linha com o papel mais importante que essas economias têm hoje no cenário global.

O discurso agrada o público local, mas dificulta o entendimento com os parceiros comerciais. Também comete o erro de tratar como um grupo homogêneo países como Brasil e China que, cada vez mais, têm interesses comerciais diferentes entre si.