Uso de hormônio no frango, carne mais consumida no Brasil, é mito

28/05/2014 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:55am

Publicado em FolhaOnline em 28/05/2014

É mito ou verdade que o frango que consumimos no Brasil tem hormônio? Mito, dizem os especialistas ouvidos pela Folha.

A polêmica voltou à tona em fevereiro, quando avicultores foram autorizados pelo Ministério da Agricultura a estampar no rótulo de frangos a frase sem uso de hormônio, como estabelece a legislação brasileira .

Como funciona uma criação de frangos

De fato, a lei veta uso de hormônio desde 2004. Além de ser ilegal, diversos estudos já mostraram que não existem vantagens técnicas e econômicas , diz Gerson Scheuermann, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves.

Mas é verdade que o bicho cresce mais -e muito mais rapidamente- do que há 30 anos. E isso não se deve a hormônios, e sim ao Melhoramento genético.

Frangos com peito desenvolvido, por exemplo, são selecionados e usados para reprodução de forma que a geração seguinte tenha o peito mais carnudo. O mesmo vale para os animais com maior apetite -comem mais e crescem mais.

Não traz riscos a humanos, mas precisa de aperfeiçoamento constante, pois pode causar problema nas Aves , diz Ariel Mendes, diretor da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

Geneticistas já observaram, em diferentes épocas, aumento de casos de síndrome de morte súbita e de problemas nas patas de frangos de corte, prejudicadas pelo sobrepeso do animal.

STATUS À MESA

Embalado por esse mito do hormônio e por um abate industrial -o Brasil é o terceiro maior produtor mundial-, o frango perdeu o status à mesa.

Quando chegou ao Brasil, trazido pelos portugueses, a ave honrou a tradição europeia: era prato de festa, predileção da nobreza.

Hoje, no entanto, quando o país abate 6 bilhões de Aves por ano -e cada brasileiro come 45 kg de frango ao ano- são exceções os consumidores que lhe dão valor à mesa.

A produção em larga escala, no Brasil, fez o frango perder a nobreza -e um pouco do sabor , diz Ricardo Maranhão, autor do livro O Frango – História e Gastronomia e pesquisador da Universidade Anhembi Morumbi.

Edrey Momo, sócio do Tasca da Esquina, completa: O frango era uma iguaria; hoje, está descaracterizado .

No supermercado, é possível encontrar quatro tipos de frango, criados de diferentes maneiras (com as Aves soltas ou confinadas, alimentadas com ração ou livremente, com ou sem antibióticos).

A despeito de variações de textura e sabor, cozinheiros dizem que o frango de granja tem, sim, qualidade. Temperos e tempo certo de cocção garantem gosto e suculência.

CONHEÇA AS DIFERENÇAS DOS FRANGOS CRIADOS NO PAÍS

Industrializado

Orgânico

Caipira

Sem antibióticos

O número de Aves por m² e a idade e o tamanho de abate podem variar; fontes: Antônio Gilberto Bertechini (Zootecnista), Ariel Mendes (Associação Brasileira de Proteína Animal), Gerson Scheuermann (Embrapa Suínos e Aves) e Luiz Demattê (diretor industrial da Korin)