Último dia de congresso apresenta pesquisas e estratégias para a promoção do bem-estar animal nos diferentes setores

24/04/2017 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:45am

Por Carolina Menkes 

No último dia do IV Congresso Brasileiro de Bioética e Bem-estar Animal, nesta quarta-feira (20), propostas de avanços em bem-estar animal e os desafios do mercado foram apresentados pelos palestrantes. O evento reuniu mais de 300 participantes ao longo dos três dias de evento.

O professor do Laboratório de Ciências Animais da Universidade Drexel de Filadélfia, Richard Huneke, discutiu estratégias ligadas às pesquisas com animais de laboratório.

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               Professor Richard Huneke

Ele ressaltou que o medo, o estresse e a dor afetam a pesquisa ao gerar alterações psicológicas nos animais. “Animais saudáveis têm como consequências boas pesquisas”, declarou.

Segundo pesquisas recentes apresentadas por Huneke, 66% dos americanos apoiam a necessidade de pesquisa animal, desde que seja feita de forma humanitária. “Queremos ao longo do tempo reduzir o uso de animais em pesquisas, obtendo as mesmas informações com menor quantidade de animais”, explica.

A redução de testes com animais de produção também foi defendida por Fernanda Vieira, da Humane Society International Brasil, que apresentou o movimento global pela eliminação de gaiolas para aves. Vieira apresentou evidências científicas que indicam que confinar animais intensivamente em gaiolas não é o caminho a ser seguido.

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               Fernanda Vieira, da HSI Brasil. 

“O futuro da produção de ovos no Brasil é ser livre de gaiolas e o setor corporativo vem acelerando este processo”, diz.  Segundo ela, a produção livre de gaiolas melhora a competitividade das empresas ao atender às expectativas do consumidor, fornecendo melhores práticas de bem-estar animal.

O médico veterinário Adroaldo Zanella, primeiro a obter doutorado em bem-estar animal no mundo, falou sobre a contribuição do período pré-natal e neonatal nas emoções dos animais. Ao falar da origem fetal de doenças crônicas, ele ressaltou que sinalizar a doença ainda no útero é válido, considerando o alto investimento na fêmea que está gestando. “Há hipóteses de que eventos que envolvem estresse, dor e sofrimento em animais gestantes comprometem o sistema nervoso central dos fetos”.

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                 Adroaldo Zanella, médico veterinário. 

Zanella também relatou que neonatos com maior saúde e bem-estar tem mais acesso ao úbere da mãe, além de brincarem mais, algo essencial em sua visão. “Brincar é algo seríssimo e o melhor indicador de bem-estar positivo. Trabalhei com desmame de leitões prematuros e mostramos que quando isso ocorre eles não brincam e falham em testes de memória”, afirmou.

Viabilidade econômica

A economia ligada aos avanços de bem-estar animal foi analisada pelo zootecnista da Universidade de São Paulo, Augusto Gameiro, que também ressaltou avanços das grandes empresas com base nas demandas da sociedade, que não admite mais certas práticas.

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               Augusto Gameiro, da USP. 

Segundo ele, há uma relação direta entre o aumento de renda e o aumento da demanda por produtos que se preocupam com o bem-estar animal. “Não tem como trabalhar em prol do bem-estar animal sem trabalhar com o bem-estar social. Lutar pelo bem-estar animal é lutar contra a pobreza humana”, afirmou Gameiro.

Ele ressaltou a relação entre bem-estar animal e produtividade e que é possível aumentar a eficiência sem prejuízo aos animais, o que normalmente não é feito. “Precisamos massificar pesquisas sobre o tema de bem-estar animal, pois é um problema de todos”, acredita.

A advogada do Instituto Piracema, Fernanda Medeiros, apresentou o conflito que existe entre as normas que afetam o avanço para o bem-estar animal. “Será que ética vai ser sempre voltada ao homem? Precisamos romper barreiras e superar hábitos que herdamos como se fosse sempre o natural”, disse, citando o filósofo Shoppenhauer.

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                Fernanda Medeiros, advogada do Instituto Piracema. 

Para Medeiros, excluir animais de práticas éticas é admitir que a espécie humana continue agindo de forma arbitrária e moralmente inaceitável. “Sair da zona de conforto é ruim mas é necessário e precisamos insistir na suposta inexistência de direito dos animais para que isso mude”, finalizou a advogada.

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