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09/05/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:50am

Além de cuidar de animais, veterinários também podem atuar na área forense, na inspeção de alimentos ou optar pela pesquisa acadêmica
imprimir Ao optarmos por um curso de graduação, ainda que a escolha envolva diversos fatores como, por exemplo, a afinidade com as disciplinas, sempre nos questionamos sobre o mercado de trabalho da profissão que fará parte das nossas vidas durante algum tempo delas. O Globo Universidade deste sábado foi até a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) saber mais sobre o curso de Medicina Veterinária.
Luciana Lacerda iniciou sua graduação em 1997 e ao se formar já emendou no mestrado, seguido de doutorado. Ela enveredou simultaneamente pela carreira acadêmica e pela pesquisa laboratorial. Deu aulas na disciplina de hematologia veterinária na UFRGS, onde estudou desde sua graduação. Atualmente é pós-doutoranda na instituição e trabalha com análise laboratorial dentro do Hospital das Clínicas da universidade.

“Na minha pesquisa faço estudo hematológico, o que permite avaliar se o animal tem uma anemia ou algo que não seja normal e responsável pela alteração da composição do sangue. A partir disso, podemos saber quais doenças levam a determinado tipo de anemia e quais medidas devem ser tomadas para tratá-las. As pesquisas servem, em geral, para diversos animais, mas aplicamos normalmente em cães e gatos, pela disponibilidade de tratamento que eles têm devido ao seu valor sentimental. O dono de uma vaca não vai fazer esse tipo de tratamento porque não vale o custo “, explica Luciana.
Já Miúriel de Aquino Goulart optou pela área clínica. Recém-formada, ela trabalha há seis meses como Médica Veterinária Residente, atendendo animais silvestres no Hospital das Clínicas da UFRGS. Durante a graduação passou pelas áreas de pesquisa, estagiou em laboratório e em clínica de pequenos animais. Para ela, a clínica é fundamental para ajudar no conhecimento em todos os campos de trabalho da medicina veterinária.

“A clínica é a base das coisas, laboratório nenhum consegue fazer diagnóstico se não tiver tido contato com as patologias. Então acredito que este tipo de trabalho ofereça uma grande bagagem profissional”, reforça Miúriel.

Na seu dia a dia, ela lida com hamsters, coelhos, jabutis, passarinhos, calopsitas, periquito, em sua maioria animais de vida livre que são encaminhados ao hospital; as aves são as mais comuns.

Uma das principais áreas de trabalho para um veterinário é a de inspeção de alimentos. Neste tipo de serviço, ele costuma estudar desde o processo de abate do animal, passando pela etapa em que é armazenado em frigorífico, fazendo inspeção da carne até o momento em que o alimento é oferecido nas prateleiras para consumo. O médico veterinário que opta por este trabalho atua na vigilância sanitária de empresas ou órgãos públicos. Quando acontecem surtos de intoxicação alimentar, os veterinários são acionados para inspecionar e averiguar o que aconteceu.

O profissional também pode atuar em clínicas de grandes animais voltadas para as propriedades que possuem ovelhas, cabras, equinos e bovinos. Geralmente vão ao local fazer atendimento. Quem opta pela clínica de pequenos animais funciona como a medicina para humanos. Ou se faz atendimento em clínica geral ou o médico se especializa em cada área, como a ortopedia, a anestesiologia, a cirurgia e endocrinologia, por exemplo.

Há médicos veterinários de área forense que estudam como foi a morte de determinado animal para ajudar a desvendar um crime, por exemplo. Na área de pesquisa, estuda-se a epidemiologia de doenças. Neste caso, os veterinários analisam todo o corpo do animal para impedir que as doenças ocorram.

Animais silvestres podem ser comprados legalmente em criadouros
É possível criá-los, adquirindo-os em locais credenciados pelo Ibama; veja a diferença entre estes animais e os que são comercializados pelo tráfico

O tráfico de animais silvestres é crime no Brasil. Mas a sua comercialização não mais. Sabendo que a prática do comércio deste tipo de espécie é muito comum em diversas regiões do Brasil, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) decidiu estabelecer criadouros para que a compra e a venda de animais silvestres possa ocorrer sem causar desequilíbrio ao meio ambiente. A ideia é que o comprador, em vez de adquirir uma espécie procedente do tráfico, sem saber a origem ou o quanto sofreu até chegar em suas mãos, compre o animal nascido em cativeiro autorizado pelo Ibama, já com todos os cuidados veterinários, nota fiscal e de forma legal.

Esses criadouros existem legalmente desde 1993. Em 2008, uma instrução normativa ampliou as categorias de pessoas passíveis de ter ou criar animais silvestres: criadores científicos para fins de conservação; para fins de pesquisa; e mantenedores de fauna silvestre. Ao adquirir animais de criadouros, contribui-se para não alterar o equilíbrio ambiental. Por terem nascidos em cativeiro, eles não provocam instabilidade na cadeia do bioma.

Para se tornar um criador, é preciso fazer um registro no Ibama. Os animais que vivem em criadouros não podem ser soltos, nem se reproduzir. As espécies que servem para abate, como a paca e o jacaré (vende-se a carne posteriormente), entram na categoria “criadores comerciais de fauna silvestre”. Também para este caso é necessário fazer um projeto técnico que viabilize o criadouro para aprovação do Ibama.

Mas esta postura do órgão ambiental para diminuir o impacto provocado pelo tráfico de animais silvestres não fez com que a forma ilegal perdesse força; este tipo de comércio fora da lei só perde, em receita, para o de armas e o de drogas. Segundo Raulff Lima, coordenador executivo da ONG Renctas, o número de animais traficados é de 38 milhões de espécimes por ano no país. Destes, entre 70% e 80% são aves. Entre elas, araras, papagaios, periquitos, jandaias, tucanos e pássaros canoros. Depois das aves, os répteis, tais como serpentes, lagartos e quelônios, são a segunda espécie mais traficada. As regiões que mais fornecem bichos para o tráfico são a Norte, o Centro-oeste e o Nordeste. Para Raulff, a fiscalização ainda não é suficiente:

“A fiscalização ainda é muito precária, principalmente por parte do Ibama. Embora os órgãos de combate aos crimes ambientais, tais como a Polícia Florestal e a Polícia Federal, estejam mais atuantes, é necessário maior empenho por parte do Ministério do Meio Ambiente em definir uma política para o combate ao tráfico das espécies silvestres, além de dar maior apoio à fiscalização do Ibama.”

Há um fator que dificulta a fiscalização: os animais que durante muito tempo ficavam expostos em feiras livres foram, em alguns casos, substituídos por portfólios. Ou seja, uma sofisticação do crime ambiental. O interessado em comprar um macaco, por exemplo, vê em um álbum fotos das espécies e escolhe o animal.

Segundo Márcia das Graças Ferreira, superintendente substituta do Ibama no Rio de Janeiro, o Instituto hoje trabalha com ações em nível nacional. “O grupo de inteligência faz as investigações, pontua os problemas, e com essas informações a coordenação de fiscalização geral envia a demanda de irregularidades para as superintendências regionais. Atuamos em parceria com a Polícia Federal, a Policia Rodoviária Federal e outras autoridades instituídas em cada estado. O nosso foco são feiras livres e outros corredores, como feiras comuns de hortifrúti, além de ocorrências esporádicas de forma ilegal que chegam até nós. Há um leque muito amplo, e atendemos a todos os pontos levantados para que se tenha maior resultado”, explica Márcia.

O último levantamento com ocorrência de animais silvestres, feito há dois anos, constatou 56 feiras no estado do Rio de Janeiro, em municípios como Deodoro e Duque de Caxias. Com a fiscalização do Ibama, esses traficantes começam a buscar outras feiras que deem abertura ao seu comércio, como recentemente ocorreu no bairro da Glória, no Rio de Janeiro. “A questão da sofisticação do tráfico, com os portfólios, torna o nosso trabalho muito escorregadio, porque temos que buscar formas de combater o que não está visível”, reforça Márcia.

Em 2011, foram apreendidos 838 animais no Rio de Janeiro. Neste ano, até o mês de abril, foram 49. As denúncias no estado são feitas através do sistema Linha Verde, que recebe entre 30 e 40 ligações por dia, sem contar as enviadas pelo 0800 da sede em Brasília. Este telefone recebe denúncias do país inteiro e as repassa para as superintendências regionais.

A pessoa que for pega em porte de animais silvestres sem autorização é multada pelo Ibama e responde a um processo no Ministério Público Federal. Para a posse de animal ameaçado de extinção, cobra-se R$ 5 mil por exemplar. Se não for ameaçado, a multa é de R$ 500,00. Dois papagaios, por exemplo, custam R$ 10 mil.

Segundo Márcia, normalmente os animais apreendidos em feiras ou em beiras de estrada são armazenados de forma muito cruel. “Noventa por cento deles morrem, porque estão biologicamente desequilibrados. Quando encontrados, são encaminhados para centros de reabilitação do Ibama, como o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Seropédica. Lá, eles recebem cuidados e são examinados para ver se há a possibilidade de soltura, isto é, verifica-se se há condições de ele ser reintroduzido para o meio ambiente. Há casos em que uma arara vem com a asa cortada, por exemplo, então ela tem que ser destinada para criadouros com fins de conservação ou para algum zoológico”, finaliza Márcia.