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06/01/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:01am

As áreas disponíveis em medicina veterinária vão bem além do tradicional atendimento clínico a bichos de estimação. E gostar de animais é só o ponto de partida para escolher a carreira

Com 21 anos de experiência, Marcello Roza deu dicas do mercado de trabalho à universitária Lyteen Wong

O veterinário tem a difícil missão de combinar a frieza necessária a um médico com o amor incondicional aos animais. Os cursos de graduação têm cinco anos e formação generalista — ou seja, o aluno sai da faculdade com o mínimo de conhecimento em todas as áreas em que poderá atuar (veja quadro). A escolha do ofício, segundo o presidente da Associação Brasileira de Odontologia Veterinária (Abov), Marcello Rodrigues da Roza, 44 anos, não é passível de arrependimento: “É uma profissão incrível e realizadora”.

A aluna do sétimo semestre de medicina veterinária Lyteen Wong, 26 anos, já aprendeu que o mercado de trabalho dos médicos veterinários é maior do que se imagina. “Nossa atuação não se restringe aos cuidados com bichos de estimação”, avisa. Para saber melhor o que a espera depois da formatura, a jovem entrevistou o representante da Abov. No encontro, a estudante teve a oportunidade de ouvir sobre o mercado de especializações no Brasil, a integração com outros campos do conhecimento e as possibilidades de construir uma carreira promissora.

Lyteen — Como você avalia os recém-formados em veterinária?

Marcello — A formação é muito heterogênea. Existe uma diferença grande no ensino. Temos estudantes que saem bem preparados das universidades; outros, nem tanto. Não há uma unidade entre as instituições de ensino, os cursos são muito diferentes e isso acaba refletindo no futuro do profissional.

Lyteen — O recém-formado deve se especializar?

Marcello — Eu acho que a especialização é uma coisa sem volta. Cada vez mais, nós vemos profissionais que só exercem atividade em uma área. A especialização é uma escolha definitiva na carreira e tem contribuído muito para a evolução da medicina veterinária.

Lyteen — Qual especialidade você indicaria como promissora?

Marcello — Essa é uma pergunta sem resposta correta. Nós temos uma formação muito interdisciplinar na medicina veterinária. Além da área clínica, temos colegas que trabalham, por exemplo, com higiene de alimentos; inspeção; tecnologia de produtos de origem animal e seus derivados. A primeira coisa que se deve observar é a afinidade da pessoa.

Lyteen — Com o conhecimento da graduação, já dá para encarar o mercado de trabalho?

Marcello — Vai depender do que o aluno tiver obtido durante a graduação. Se ele foi um estudante que fez estágios, participou de congressos e combinou isso com o conteúdo da faculdade, ele estará apto. Mas, sem um trabalho de complementação do curso, eu acredito que a colocação que ele vai encontrar no mercado não seja tão boa.

Lyteen — Que conselhos você daria para quem está querendo estudar veterinária?

Marcello — A profissão é maravilhosa e, se você pretende seguir essa carreira, procure desde cedo sua afinidade. Não espere terminar a faculdade para procurar uma área de atuação. Quando me formei, a principal dificuldade é que não tínhamos tanta facilidade de cursos. Atualmente, nós já temos muitas pós-graduações, além da grande tecnologia à nossa disposição. É preciso aproveitar esses recursos.

Lyteen — Como você vê a odontologia veterinária no Brasil?

Marcello — Hoje, a odontologia veterinária está muito desenvolvida. Nós somos um país que tem se destacado nesta área. Desde 2002, temos uma associação que reúne os profissionais interessados nesse campo do conhecimento. Já temos dois cursos de pós-graduação. Agora, em 2012, vamos fazer o sexto Congresso Brasileiro de Odontologia Veterinária, em Curitiba. Além disso, em 2007, tivemos, pela primeira vez no Brasil, uma edição do mundial de odontologia veterinária. Dessa forma, acredito que estamos muito bem.

Lyteen — Quando foi que surgiu seu interesse por esse ramo?

Marcello — O meu caminho foi um pouco diferente. Quando eu comecei a trabalhar com odontologia veterinária, a especialidade ainda não estava tão bem desenvolvida. Naquele tempo, não existiam os cursos de pós-graduação. Então, tive de ir à faculdade de odontologia, onde peguei as matérias que mais me interessavam e comecei a fazer pequenos cursos e treinamentos.

Lyteen — O Distrito Federal tem um mercado bom para a nossa profissão?

Marcello — Vejo o mercado se expandindo tanto nas especialidades quanto na área geral. Nós temos um campo muito grande nos órgãos públicos, o que também é uma vantagem. Desenvolver isso ainda mais depende de colocar o médico veterinário nos postos de trabalho em que ele realmente precisa estar.

Lyteen — A residência em medicina veterinária não é obrigatória. Você acha que todos deveriam passar por essa etapa de formação?

Marcello — A residência é um complemento muito legal para a graduação, mas não sei se seria possível viabilizar que todos os alunos fizessem residência. Nós não temos número de vagas suficiente para isso, falta estrutura.