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25/05/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:48am

Criação de pequenas espécies, como aves e hamsters, se tornou uma solução para donos de sítios com terras improdutivas. Cinco casais de calopsitas podem render a um produtor familiar mais que uma vaca

A produção de animais domésticos, silvestres e exóticos se tornou uma solução para os donos de micros e pequenas propriedades rurais em áreas improdutivas no Distrito Federal. Em muitos casos, a criação das mais distintas espécies, dos mais diferentes tamanhos, supera os ganhos da agropecuária tradicional.

A atividade inclui Aves, como faisões, galinhas ornamentais, marrecos e pavões, além de pássaros e mamíferos, por exemplo cães, gatos, porquinhos-da-índia e hamsters. Há ao menos 300 produtores em todo o DF. No entanto, eles ainda não conseguem suprir a demanda do mercado interno, o que comprova a oportunidade de crescimento do setor.

O investimento depende da espécie escolhida, mas o retorno financeiro é garantido. Com R$ 4 mil ou R$ 5 mil, é possível montar um criadouro com 10 casais de calopsitas – ave dócil, natural da Austrália -, por exemplo. Uma ou duas pessoas conseguem cuidar dos animais, que, dependendo da espécie, não necessitam de muito espaço.

Para se ter uma ideia da lucratividade desse comércio, cinco casais de calopsitas podem render a um produtor familiar mais que uma vaca, pelos cálculos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (Emater-DF). Cada animal é vendido a cerca de R$ 100 nas lojas.

Fornecedor regular

Grande entusiasta da atividade, o técnico agrícola Sizelmo da Silva Santana, da Emater-DF, percebeu o nicho de mercado há cerca de 10 anos. Quando viu esse potencial, ele o relacionou ao contexto de Planaltina, onde trabalha e tem um sítio. A área rural da mais antiga cidade do DF tem centenas de pequenas propriedades, já que o fracionamento de terra é grande. Em função da escassez de espaço, do relevo acidentado e da baixa qualidade do solo, os produtores da região procuram a Emater-DF em busca de opções de renda. Com as possibilidades reduzidas, Sizelmo apostou nos animais para venda.

O técnico agrícola enfrentou muita resistência no começo. "Me falaram que era coisa de criança, mas consegui provar que é um trabalho sério. Fiz uma pesquisa e observei que quase 100% das lojas agrícolas e pet shops não tinham fornecedor idôneo e regular", recorda. Sizelmo Santana lembra que é comum um chacareiro ter um casal de Aves por acaso, desistir e levar a uma loja. Os animais são vendidos facilmente, mas o lojista não encontra outros exemplares com a mesma facilidade.

Dessa forma, a Emater passou a divulgar o projeto e a receber pedidos de orientação dos interessados quanto a manejo, legalização, venda, tecnologias disponíveis. Mas o Distrito Federal ainda não é autossuficiente nessa cultura. "Ainda hoje, grande parte dos animais vendidos no DF vem de outros estados. São Paulo, por exemplo, vende R$ 300 mil por mês aos brasilienses", ressalta Santana.

Dificuldades

Uma das dificuldades da atividade é a falta de crédito. Uma das poucas linhas de crédito a que a atividade se encaixa é a da Secretaria de Trabalho, que chega ao máximo de R$ 22 mil para o produtor dar início à atividade. No intuito de derrubar essas barreiras, o analista judiciário e produtor de Aves silvestres e exóticas Luiz Augusto de Menezes Belota, 51 anos, tem se articulado com outros colegas e órgãos. Eles pleiteiam, por exemplo, o reconhecimento da atividade como agronegócio no Ministério da Agricultura e a redução dos tributos em cima da produção e da venda de animais de estimação, hoje em torno de 45% em impostos.

Luiz Augusto tem uma chácara de pouco mais de 3 mil metros quadrados, em Planaltina. Ele a comprou para ter mais espaço e tranquilidade, além de começar a produção de Aves. "Meus filhos estão em idade de entrar no mercado de trabalho. Pensei em ter uma atividade rentável porque no momento que passarem alguma dificuldade, podem vir me ajudar e ganhar um dinheiro", explica.

Hoje, Luiz Augusto tem dois criadouros, com sete espécies de pássaros silvestres nacionais e 10 de exóticos. Segundo ele, os primeiros são mais procurados pelo canto e os outros, pela beleza da coloração e das plumagens. Além disso, tem cinco cachorros shitzu, com os quais pretende começar um canil e abrir uma hospedagem para cães.

Apenas os animais exóticos são para venda. Um casal de catarina – Aves exóticas – é comprado por R$ 400. Os de Luiz são verdes. O filhote deles nasceu com a plumagem amarela, o que eleva o valor para R$ 1.000. Mas o produtor ainda não conseguiu toda a documentação exigida pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para a venda dos pássaros silvestres. A legislação tem diferenças entre criação e criação comercial de Animais silvestres e exóticos (leia quadro).

Diferenças

Animais silvestres

Espécies nativas, aquáticas ou terrestres, tipicamente brasileiras. O acesso, a criação, a reprodução e a venda são controlados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Exemplos: ema, papagaio, arara, tico-tico, galo-da-campina, jiboia, borboleta, galo da serra, tucano, mutum, inhambu, asa-branca, beija flor e outros.

Animais exóticos
As espécies ou subespécies introduzidas no Brasil pelo homem em estado selvagem são consideradas exóticas, bem como aquelas introduzidas fora das fronteiras brasileiras e que tenham entrado expontaneamente em território brasileiro. Exemplos: ferret, javali, esquilo, tartaruga-japonesa, cacatua, arara-da-patagônia, hamster, rosela, ecletos, crou coroado, chinchila e entre outras.

Animais domésticos
Aqueles que, por meio de processos de manejo e melhoramento Zootécnico, tornaram-se domésticos, com características biológicas e comportamentais de dependência do homem – podendo inclusive apresentar aparência diferente da espécie silvestre que os originou. Exemplos: gato, cachorro, búfalo, galinha, pato, marreco, peru, avestruz, canário-belga, periquito-australiano, mandarim.

Assistência
Para conhecer melhor a atividade, basta contatar o escritório da Emater-DF, em Planaltina, pelos telefones 3389-1861 e 3388-1915. Os interessados podem frequentar o grupo de criadores de animais exóticos, silvestres e domésticos organizado pela empresa.

"Me falaram que era coisa de criança, mas consegui provar que é um trabalho sério. Fiz uma pesquisa e observei que quase 100% das lojas agrícolas e pet shops não tinham fornecedor idôneo e regular"

Sizelmo da Silva Santana, dono de aviário