RESULTADO

09/05/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:20am

Os pecuaristas mato-grossenses se preparam para confinar o maior volume de bovinos já observado na história da atividade. Conforme dados do 1° levantamento das intenções de confinamento em Mato Grosso, divulgado ontem pela Associação dos Criadores do Estado (Acrimat) e pelo Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), 770.226 animais irão para engorda em currais, contra 592.834 confinados no ano passado, incremento anual de 29,93%.

Mesmo com a projeção de números recordes – tanto na variação percentual, quanto no número de cabeças – o confinamento 2011 não será suficiente para atender à demanda da indústria frigorífica por animais prontos para abate e tão pouco preenche a capacidade estática de confinamento de 1,67 milhão de bovinos. Se o volume de mais de 770 mil cabeças se confirmar ao longo dos próximos meses, apenas 46% da capacidade local será atingida. Mato Grosso detém o maior rebanho de bovinos do Brasil com 28 milhões de cabeças e possui 200 unidades de confinamento.

“Apesar do aumento de quase 30% na oferta, o gado confinado não será suficiente para atender à demanda dos frigoríficos”, exclama o superintendente da Acrimat, Luciano Vacari. Como explica, no mês de setembro, quando será entregue o maior percentual do gado confinado, o número de animais vai representar 20% da produção, o que significa dizer que atenderá a 40% da capacidade de abate dos frigoríficos, “os outros 60% as indústrias terão de buscar o boi gordo no pasto e essa oferta será restrita, o que nos leva a dizer, que pode faltar boi gordo”, ressalta.

Ele lembra ainda que a oferta de boi confinado se concentra em alguns meses do ano “e isso não atende à dinâmica do mercado”. Por conta da falta de pastagem, a escala de entrega do gado confinado também foi antecipada. Em 2010 apenas 3% do confinamento foi entregue em junho, este ano a previsão é 10%, ou seja, dos 770 mil animais previstos, mais de 77 mil estarão sendo entregues logo no início do período de confinamento, que no Estado era um momento que atendia à entressafra da atividade, durante a seca e agora está sendo antecipada.

Fazendo uma avaliação para o mercado consumidor, Vacari acredita que “apesar da restrição de gado pronto para o abate, tanto de confinamento quanto de pasto, não podemos falar em aumento no preço da carne para o consumidor final, pois isso vai depender muito da margem de lucro que o varejo vai colocar na hora de cortar o bife da carne do boi”, salientou Vacari. Nos últimos cinco anos, segundo levantamento do Imea, enquanto os preços da arroba e dos produtos dos frigoríficos tiveram um reajuste de 84% o varejo aumentou o preço da carne para o consumidor em 140%.

COCHO – O confinamento acontece quando os animais são retirados das pastagens e acomodados em piquetes ou currais.

O alimento, em geral grãos como milho e outros suplementos, é fornecido em cochos. Isso leva a um ganho de peso mais rápido.

Apesar de parecer simples, esta modalidade da pecuária é onerosa e requer maior habilidade gerencial do criador, que além de ficar de olho no mercado futuro da arroba para avaliar a viabilidade em se confinar, tem de ir para o mercado e travar preços para assegurar o retorno financeiro da engorda.

Atividade começa a se expandir no Estado, mas de uma forma controversa. Como aponta a Acrimat, a expansão do confinamento não está sendo uma opção do pecuarista, e sim, a única alternativa para garantir alimento ao gado e conseqüente, a engorda. “O incremento da intenção de confinamento só vem confirmar o que estamos falando desde o início do ano: o gado de Mato Grosso não tem pastagem e uma das alternativas é o confinamento, por isso esse aumento”, frisa Vacari. Conforme diagnóstico feito há alguns meses pela Acrimat e pelo Imea, o Estado está com mais de 2,2 milhões de hectares de pastagens mortas – conseqüência da forte estiagem do ano passado, como também reflexo do ataque da cigarrinha – e tem outro 5 milhões considerados degradados.

“A falta do boi gordo no Estado é resultado do alto índice de abate de fêmeas registrado no período de 2005 a 2007, aliado à falta de pastagem. Esses pontos refletem diretamente na oferta de animais e por falta de comida para o gado o produtor tem que ter duas preocupações na hora de optar pelo confinamento, que é o estar perto de regiões que produzem grãos e dos frigoríficos, pois precisam ter para quem vender”, analisou Vacari.

REGIÕES – O analista de bovinocultura do Imea, Daniel Latorraca, aponta que “a região do médio norte, por exemplo, que tem boa produção de grãos e frigoríficos, será responsável por 17% do gado confinado, com 134.156 cabeças. Em contrapartida, a região noroeste, que não tem produção de grãos e poucos frigoríficos, será responsável por 1%, ou, 4.750 cabeças”. (Veja quadro acima)