Qualidade

20/06/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:10am

Forte concentração do setor no Estado leva pequenas e médias empresas a apostar no diferencial

Na última década, os frigoríficos gaúchos passaram por fortes crises, causadas pela diminuição da oferta de animais no campo, dificuldades financeiras e problemas tributários. Embora parte desses obstáculos tenha sido vencido, as pequenas e médias empresas do setor ainda têm que enfrentar a concorrência com grandes plantas multinacionais.

De acordo com o Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Estado (Sicaderg), o abate de bovinos e bubalinos no Rio Grande do Sul vem crescendo desde 2007, quando foram abatidas 1,34 milhão de cabeças. No ano passado, esse número chegou a 1,88 milhão de animais, um crescimento de 30,11% em relação a 2009. Com isso, em 2010 foram produzidos 428 mil quilos de carne no Estado. Já no primeiro trimestre de 2011 foram abatidas 436.320 cabeças no Rio Grande do Sul.

No entanto, apesar dos bons níveis de abate, os pequenos e médios frigoríficos gaúchos precisam fazer gente à concorrência das grandes empresas do setor, em especial as unidades do grupo Marfrig. “A concentração é forte, tanto na compra quanto na venda, pois os grandes contam com operações entre estados e internacionais também, o que dá um poder de fogo grande”, explica Ronei Lauxen, presidente do Sicardergs.

Para marcar seu espaço no mercado, o frigorífico Silva, de Santa Maria, buscou ampliar suas exportações. Em 2010, a indústria realizou suas primeiras remessas para a União Europeia. “Com isso, conseguimos uma menor carga tributária e linhas de crédito com taxas de juros mais interessantes”, explica Gabriel da Silva Moraes, diretor comercial da empresa.

Outra estratégica usada pelo Silva foi investir na qualidade do produto, buscando nichos de mercado mais qualitativos. “Trabalhamos com diferenciação, classificando mais rigidamente nossa carne e, dessa forma, podemos agregar valor ao produto”, afirma. Os planos têm dado certo. Nos últimos seis anos, o frigorífico Silva conseguiu investir cerca de R$ 35 milhões na expansão da fábrica, gerando mais 150 postos de trabalho.

O caso do Silva, no entanto, não se estende à grande maioria da indústria frigorífica gaúcha, que ainda não pode realizar exportações, e nem mesmo vender seu produto para fora do Rio Grande do Sul, porque possuem apenas fiscalização estadual, através da Coordenadoria de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Cispoa). Um exemplo é o frigorífico Callegaro, de Santo Ângelo. “Acabamos sendo prejudicados por essas restrições de mercado, tendo que sobreviver à forte pressão dos frigoríficos federais, que acabam sendo economicamente mais competitivos”, explica Renato Callegaro, sócio-proprietário e diretor financeiro da empresa.

Segundo Callegaro, um dos fatores para sobreviver aos momentos de crise é investir em relacionamento com os clientes e fornecedores, além de investimentos em logística. “Diferentemente de outros frigoríficos optamos por ter frota própria, que nos proporciona uma maior agilidade, excelência e cumprimento de prazos na entrega”, comenta. Atualmente o volume de abate do Callegaro gira em torno de 4 mil animais por mês, permitindo a comercialização para mais de 70 municípios gaúchos.

A empresa está implementando um projeto de expansão, no qual serão investidos R$ 10 milhões nos próximos cinco anos. “Ele visa a dobrar a nossa capacidade de abate, além de buscar a federalização da planta e futuras exportações e de oportunizar a geração de novos postos de trabalho”, afirma o diretor. O frigorífico Callegaro também investiu na criação de uma nova marca, a Campo Nobre. “Fizemos uma análise de nossa imagem, e vimos que a marca não apresentava nenhuma rejeição, porém não conseguia imprimir os nossos conceitos e estava desatualizada, era hora de mudar”, explica o proprietário.