Prevenção

15/02/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:24am

Ministério da Saúde antecipa ações de prevenção direcionadas ao Mundial de 2014 e ativa Laboratórios Nível de Biossegurança 3 nos estados para barrar epidemias graves

Belo Horizonte — Um país aberto aos turistas, mas que pretende manter portas fechadas para os males que a concentração de torcedores do mundo inteiro pode trazer: vírus, bactérias e outros agentes patológicos, alguns causadores de doenças desconhecidas ou já erradicadas no Brasil, como o sarampo. Sim, ainda faltam mais de três anos para a Copa do Mundo de 2014. No entanto, várias ações do Ministério da Saúde (MS), projetos que começaram antes mesmo de o país ser escolhido para sediar o Mundial, já estão saindo do papel e servirão para proteger a população e os visitantes no período em que o país deve receber pelo menos 300 mil estrangeiros — fluxo de visitantes na África do Sul em 2010.

Um dos projetos prestes a ter início é em Belo Horizonte. A Fundação Ezequiel Dias (Funed) prevê para março a inauguração do primeiro laboratório do estado habilitado em termos de biossegurança para isolar e investigar agentes exóticos e/ou com alto poder de contaminação. O objetivo da monitoração é dos mais importantes: permitir que órgãos oficiais e agentes de saúde tenham resposta rápida frente ao risco de proliferação de doenças, principalmente as endêmicas e pandêmicas, e criem mecanismos de contenção e bloqueio, como a produção de vacinas.

NB3
Denominado Laboratório Nível de Biossegurança 3, ou NB3, a unidade de Belo Horizonte integra uma rede que deve ter mais 11 unidades nacionais e está em fase de certificação de equipamentos para entrar em funcionamento. Segundo declaração do ministério, “a capacidade de realizar diagnósticos é de extrema importância, principalmente sobre doenças cujo grau de risco biológico é desconhecido. Nesses casos, os Laboratórios NB3 são imprescindíveis, pois garantem o nível de segurança biológica adequada à manipulação para confirmação do diagnóstico desses agentes”.

Entre as doenças infecciosas mais preocupantes estão dengue, malária, febre amarela, influenza por H5N1 e H1N1, rubéola e sarampo, meningites, síndromes gastrointestinais, leptospirose, hepatites agudas e aquelas provocadas por bioterrorismo (com transmissão intencional de agentes normais ou modificados).

Além dos laboratórios, o MS já inaugurou 23 unidades dos Centros de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs), como parte de uma iniciativa mundial para compor uma Rede Global de Alerta e Resposta a Emergências de Saúde, principalmente no caso de eventos de massa. “Hoje, existem centros estruturados em todas as secretarias estaduais de Saúde e em 23 das 26 capitais”, diz nota do ministério. Entre essas unidades estão o Laboratório de Saúde Pública do Distrito Federal, os da Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) de Pernambuco, do Rio de Janeiro e da Bahia, o Instituto Adolfo Lutz e o Pasteur, ambos em São Paulo, entre outros.

“Esse projeto não foi criado para a Copa do Mundo, mas veio em uma ótima hora”, avalia Sônia Conceição Machado Diniz, bióloga especialista em diagnóstico laboratorial de doenças tropicais e responsável pelo Serviço de Virologia e Riquetsioses (doenças transmitidas por carrapatos) da Funed. “Aumentamos em muito nossa capacidade de prevenção, inclusive contra agentes desconhecidos que já deram trabalho, como o H1N1, da gripe suína, e o antraz, temido à época do atentado às Torres Gêmeas”, lembra.

Globalização
Até a Copa de 2014, muito trabalho será realizado nos NB3 brasileiros. Na lista de ações imediatas, a bióloga de Minas relaciona a investigação de agentes transmissores de dengue (eles já estudam o tipo 4), febre amarela e tuberculose. Vale ressaltar que o laboratório da Funed não produz vacinas, função de outros setores da fundação, localizada no Bairro Gameleira, região oeste de Belo Horizonte, e das demais entidades que trabalham com vigilância epidemiológica, mas é a partir do trabalho deles que a Secretaria de Estado de Saúde e outros órgãos de saúde pública são acionados em caso de riscos. “Não há vigilância epidemiológica sem laboratórios especializados. Os investimentos nesse tipo de infraestrutura representam uma tranquilidade para todos nós, além de minimizar riscos para a população em geral, profissionais envolvidos e meio ambiente”, afirma Sônia Diniz.

Presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, o médico Carlos Starling explica que a demanda existiria mesmo se o país não fosse sediar o Mundial. “Toda grande movimentação de pessoas pelo mundo cria a oportunidade de transmissão de agentes infecciosos de uma região para outra. A Copa do Mundo é um desses megaeventos, com riscos de mão dupla. Mas não podemos esquecer que mesmo o fluxo de viajantes normal é gigantesco. Portanto, a circulação de agentes infecciosos é uma realidade.”

Entre os principais agentes infecciosos Starling destaca o vírus da gripe, “que circula pelo mundo todos os anos e sofre mutações frequentes, exigindo uma monitorização constante para que as vacinas sejam produzidas a tempo”, além daqueles que transmitem malária, dengue, leishmaniose, doença de Chagas e febre maculosa, entre outros. “Todos são exemplos de doenças que podem circular de uma região para outra por meio de pessoas, vetores e animais infectados. Vírus, bactérias, fungos e parasitas viajam pelo mundo de uma forma tão dinâmica quanto as pessoas”, ressalta.

Prevenção
O médico diz que a troca de informações é fundamental como mecanismo de prevenção e destaca a importância das iniciativas do Ministério da Saúde. “A vigilância epidemiológica é a principal arma que dispomos para detecção precoce de casos de doenças infecciosas e de possíveis surtos. Quanto mais rápido o problema for detectado, maior é a possibilidade de controle e bloqueio do agente infeccioso, surtos e epidemias”, defende. “Nesse sentido, a criação dos Cievs é muito importante, para detectar de maneira precoce o aparecimento de uma doença e disseminar informações que possam levar ao seu controle.”

MANUAL DA SAÚDE NA COPA

Por que o cuidado?
Megaeventos podem trazer riscos à saúde pública, com a rápida disseminação de doenças infecciosas “importadas” de seus locais de origem ou pelo adoecimento de pessoas não imunes ou “adaptadas” às doenças ditas locais. Deve-se considerar que, quando uma doença é introduzida em um país ou uma zona até então livres do mal, ela se apresenta normalmente com um quadro mais grave, devido à existência de primoinfectados (pessoas infectadas pela primeira vez).

Doenças que podem aparecer
Serviços de assistência e vigilância à saúde devem estar em alerta para a possibilidade de ocorrência de doenças incomuns e inesperadas ao país. As mais conhecidas são: dengue 4, sarampo, rubéola, poliomelite, além de novos subtipos de influenza, febres hemorrágicas africanas e doenças endêmicas, como malária, febre amarela e outras arboviroses.

O que tem sido feito
A Secretaria de Vigilância em Saúde enviou técnicos para as Olimpíadas de Inverno 2010, em Vancouver, no Canadá, e para a Copa do Mundo da África do Sul para acompanhar as experiências desses países. Material didático da Organização Mundial de Saúde sobre eventos de massa tem sido adequado para a realidade brasileira. Já foram iniciados os estudos de Planos de Prontidão e Resposta para Possíveis Emergências em Saúde. Secretarias de Saúde de cidades-sede da Copa do Mundo estão em fase de realização de planos específicos e de capacitação profissional para a prontidão e a resposta a possíveis emergências.

O que a população pode fazer
Não há motivos para alarde, desde que seguidas as orientações já conhecidas de higiene e prevenção de doenças. A agenda de vacinas deve estar em dia. Existe um planejamento em execução de todos os países perante a OMS, para que as equipes de vigilância em saúde estejam de prontidão durante o Mundial.