Peixes

22/11/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:04am

Fomentar uma atividade industrial, aliando produtores familiares, médios e grandes produtores, iniciativa pública e privada, de forma com que o Estado se torne referência na criação de peixes. Este é o grande objetivo da implantação do Complexo Industrial de Piscicultura no Acre. As metas são ousadas e o trabalho já começou. De janeiro a outubro deste ano já foram construídos 700 tanques em 17 municípios, beneficiando diretamente mais de 300 produtores.

Até o final de 2014, mais de mil produtores farão parte do grupo de criadores de peixes que irão fornecer matéria-prima para o frigorífico. O Complexo Industrial Peixes da Amazônia S.A já está sendo construído no quilômetro 30 da rodovia BR-364, em Senador Guiomard. E inclui um centro tecnológico de reprodução de alevinos, uma fábrica de rações para peixes e um frigorífico para o beneficiamento e estocagem de pescados para a comercialização no mercado interno e exportação.

“PARA que seja viável a implantação do frigorífico é preciso que o Estado tenha 3,5 hectares de lâmina d’água”, disse o secretário Lourival Marques
A produção estimada de pescado no Estado é de 5.105 toneladas em 2009, apresentando uma variação de 31,9% em relação a 2007. Entretanto, a produção ainda é insuficiente para atender a demanda local, que é de aproximadamente 7.835 toneladas. Depois dos investimentos, a produção estimada em cinco anos será de pelo menos 20 mil toneladas. E para isso estão sendo construídos os tanques para engorda dos peixes. Ao final do processo, produtores e governo terão instalado cinco mil tanques.

“Para que seja viável a implantação do frigorífico, é preciso que o Estado tenha 3,5 hectares de lâmina d’água. Hoje temos mil hectares, e um estudo sobre o potencial do Acre mostrou a necessidade de investirmos fortemente no setor produtivo com a proposta de garantir renda e gerar empregos aos acreanos”, destaca o secretário de Extensão Agroflorestal e de Produção Familiar, Lourival Marques. Ele ainda completa dizendo que a ideia é tornar o Acre o endereço do peixe na Amazônia.

Além dos investimentos que estão sendo feitos no Complexo Industrial (R$ 40 milhões), outro frigorífico será instalado em Cruzeiro do Sul para agregar valor ao que for produzido na região do Vale do Juruá. Somando os custos de consultoria e assistência técnica, o governo do Estado emprega no setor de piscicultura R$ 53 milhões.

A proposta é de que sejam produzidos 10 milhões de alevinos por ano em Rio Branco e um milhão em Cruzeiro. A quantidade de ração fabricada será de 40 mil toneladas/ano na capital, com produção de 20 mil toneladas de filé de peixe processados anualmente em Rio Branco e de duas mil toneladas em Cruzeiro. Como resultados dos investimentos teremos o valor bruto de produção de R$ 240 milhões, com geração de dois mil empregos diretos e de mais de 10 mil empregos indiretos.

“Estamos na etapa de estruturação da cadeia da piscicultura no Estado. Isso irá garantir matéria-prima para abastecer o frigorífico”, destacou o coordenador do Programa de Desenvolvimento da Piscicultura, Walace Santos Batista.

A expansão da atividade já foi internalizada pelos produtores. É o caso do piscicultor Manuel Barbosa, sócio da Pró-Peixe e da Cooperativa dos Produtores do Bujari. Ele conta que tem um tanque construído com recursos próprios, e agora irá receber o aporte do governo, que contrata as máquinas por 40 horas para cada produtor. “Quero ampliar minha atividade, a expectativa é grande porque estamos tendo o incentivo do governo e a garantia de venda do que será produzido”, disse.

DEPOIS dos investimentos, a produção estimada, em cinco anos, será de pelo menos 20 mil toneladas
Manuel era freteiro, e quando decidiu mudar de vida escolheu a zona rural para apostar em mudanças. Com parte do dinheiro da venda do caminhão, ele construiu o tanque de engorda de peixes. Na primeira despesca conseguiu retirar 10 toneladas. “O lucro é certo. Se nós fossemos investir por nós mesmos, o valor do investimento seria de R$ 10 mil, e com esse programa estamos tirando do bolso o dinheiro do óleo e dos canos. Na ponta do lápis, isso representa um gasto de R$ 2 mil em média”, completa.

Outro associado da cooperativa é o produtor José Mota de Souza. Ele também faz parte do grupo que está ampliando o número de açudes e tanques. Na piscicultura há nove anos, só agora vai tornar a atividade mais rentável. “Produzo pouco. E por isso posso tratar e entregar o peixe na casa de meus clientes. Com o aumento da produção, espero aumentar a renda da família”, destaca.

Parceria pública, privada e comunitária

O modelo econômico adotado no Abatedouro de Aves de Brasileia, chamado de parceira pública-privada-comunitária (PPC) tem resultado em índices satisfatórios e mostrou ao Acre que a iniciativa é proveitosa econômica e socialmente. Com abate de 12 mil aves por dia, e com envolvimento de 60 produtores rurais os lucros são divididos entre empresários e fornecedores de matéria-prima, ao governo coube a tarefa de investir na implantação de criadouros e em assistência técnica.

EXPANSÃO da atividade já foi internalizada pelos produtores. É o caso do piscicultor Manuel Barbosa, sócio da
Pró-Peixe e de cooperativa
E agora a implantação do Complexo Industrial de Peixes também conta com a participação estatal, da iniciativa privada e dos produtores. Para gerenciar o empreendimento, foi montado um consórcio de empresários, cooperativas e governo do Estado. Ao todo, são 18 empreendedores. Para gerir o negócio foi criado a Peixes da Amazônia S/A. O governo comprou duas cotas, que serão repassadas aos pequenos produtores, e os investidores garantiram a outra parte dos recursos necessários para a construção do complexo (R$ 20 milhões).

“Acredito que a piscicultura servirá para desenvolver a economia e setor produtivo do Acre. Uma atividade que, depois de implantada como o todo o sistema funcionando, pode gerar uma movimentação financeira de R$ 350 milhões por ano”, enfatiza o governador Tião Viana.

De acordo com o secretário de Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia, Indústria e Comércio, Edvaldo Magalhães, a meta é garantir a participação mais efetiva do setor privado e do pequeno produtor familiar nesse processo. Com isso, gera-se mais trabalho e renda, criando condições básicas para emancipação dos empreendimentos industriais voltados à exportação de produtos processados internamente, como suíno, peixe, frutas e outros.

COMPLEXO Industrial Peixes da Amazônia S.A. já está sendo construído no quilômetro 30 da BR-364
Ações se espalham pelo interior do Estado

Em Sena Madureira, por exemplo, o governo do Estado já cadastrou 13 produtores para fazer parte do programa. Nessas propriedades a construção dos açudes para a criação de peixes já está em fase de conclusão. Para a implantação de cada tanque o Estado investe em média R$ 8 mil, e os produtores, em contrapartida, gastam em torno de R$ 3 com o combustível e compra de canos. Os técnicos da Secretaria de Extensão Agroflorestal e Produção Familiar (Seaprof) atuam na qualificação e acompanhamento dos produtores. O trabalho da Seaprof inclui ações de orientação para que os criadores possam integrar os demais programas de governo, como o Compra Antecipada ou o Pronaf.

Warderley Oliveira Campos sempre morou na zona rural. Atualmente trabalha com a pecuária, mas, segundo ele, sempre sonhou em criar peixes. “Estou aproveitando ao máximo essa oportunidade. Os cursos oferecidos pelo Senar [Serviço Nacional de Aprendizagem Rural] e os incentivos do governo são os grandes diferenciais dessa iniciativa. Minha expectativa é grande”, destacou o produtor.

No Bujari, o produtor rural Arildo Tursheto trabalha com a pecuária e piscicultura. Ele possui sete tanques e cinco açudes e destaca as vantagens da criação de peixe. “O valor de mercado do peixe é bem maior se comparado ao gado. Em um hectare de lâmina d’água podem ser retirados de oito a dez toneladas de peixe; em um hectare de terra dá pra ter três cabeças. Além disso, temos os benefícios para o meio ambiente, a criação de peixe tem menos impacto.”

Já o produtor rural do Projeto de Agroflorestal de Brasileia, Jairo Carvalho, destaca a importância dos cursos de qualificação que os produtores estão fazendo para aprender a criar alevinos. “Os planos são de que possamos aumentar a renda familiar, com lucro de 10 a 11 mil reais”, disse.

Para muitas famílias a piscicultura significa mais uma forma de diversificar a produção. “os produtores familiares precisam ter alternativas de culturas. Com uma aérea pequena podemos ser produtivos. Estamos apostando nesse projeto”, disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasileia, Rosildo de Freitas.

Mercado promissor

Com experiência de mais de dez anos na criação de peixes, os irmãos Sobrinho Martins e José Romildo Martins apostam na concretização da política estadual de piscicultura. Eles já trabalham com seis hectares de lâmina d’água. A produção anual é de 120 toneladas por ano, sendo que parte é exportada para o Amazonas e o restante, para o mercado local.

“Já trabalhamos há bastante tempo com a criação de peixes, mas começamos a partir de agora a vislumbrar novas oportunidades. Com a implantação do complexo industrial de peixe novos horizontes se abrem. A produção passa a ter valor agregado”, destacou José Romildo.

COM experiência de mais de dez anos na criação de peixes, José Romildo Martins aposta na concretização da política estadual de piscicultura
Os próprios produtores investiram na compra de maquinário, através do Fundo Constitucional de Financiamento do Norte (FNO) do Banco da Amazônia, e na construção de cinco açudes de engorda de peixes. E agora estão construindo mais quatro tanques para a criação de alevinos. Hoje eles compram os alevinos em outros Estados, mas em breve estarão vendendo para os produtores locais.

“Nossa meta é ampliar a criação dos peixes de engorda, mas também investir na criação de alevinos juvenis para comercializar”, finaliza Sobrinho.