Peixe-Boi

24/01/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:24am

Experiência pode aumentar eficiência no retorno da espécie à natureza.

Pesquisadores brasileiros e japoneses testaram pela primeira vez, em Manaus (AM), um equipamento capaz de gravar a "voz" de um peixe-boi embaixo d’água. O principal objetivo é avaliar, por meio dos sons, os hábitos alimentares dos animais que são mantidos em cativeiro, em uma tentativa de aumentar a eficiência de sua reintrodução na vida selvagem.

A experiência, iniciada na última semana e ainda em fase piloto, é feita por meio da instalação de um equipamento acústico no cinto acoplado ao peixe-boi. O receptor grava sons emitidos que, depois de analisados, permitem identificar tipos de alimento que ele consumiu – ou mesmo se está se alimentando.

Importada ao Brasil por meio do Laboratório de Mamíferos Aquáticos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em parceira com pesquisadores japoneses, membros da Divisão Nacional de Ciência e Tecnologia de Tóquio e do Centro de Pesquisa da Vida Silvestre da Universidade de Kyoto, no Japão, a nova técnica pode representar maior eficiência na reintrodução da espécie à natureza no bioma amazônico.

Ameaçado de extinção, o peixe-boi é alvo de pescadores em rios da Amazônia e fica em situação vulnerável principalmente em estiagens prolongadas. Quando resgatado e mantido em cativeiro, o animal perde sensibilidade para distinguir mudanças no ciclo hidrológico natural, e por isso seu retorno ao habitat natural é muito delicado, segundo Diogo Alexandre de Souza, pesquisador do Inpa e membro da Associação Amigos do Peixe-Boi (Ampa).

"Já tentamos devolver à natureza quatro animais, dois em 2008 e dois em 2009. Mas dois morreram, perdemos o contato de um que emagreceu e o cinto caiu e o outro tivemos de resgatar de volta ao cativeiro, porque perdeu 30% do peso em quatro meses", diz Souza. O novo equipamento oferece uma importante variável no monitoramento ao indicar se o animal está se alimentando ou não logo após deixar o cativeiro.

O som fica gravado em um dispositivo que se solta automaticamente do peixe-boi após nove dias e emite um sinal para que seja encontrado pelos pesquisadores. O bicho não corre risco de vida no caso de não se alimentar, segundo Souza, porque tem metabolismo muito baixo e consegue ficar até três meses em jejum.