Ovinos
01/10/2010 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:25am
O quarto teste de desempenho de ovinos Morada Nova, promovido pela Embrapa Caprinos e Ovinos no município de mesmo nome, a 172 km de Fortaleza (CE), foi marcado por uma novidade: a participação dos produtores na avaliação dos animais.
O objetivo do teste, que faz parte do projeto de conservação e melhoramento genético da raça, foi selecionar reprodutores e dar subsídios para que os criadores comparem o mérito genético de seus animais com os de outros criatórios. "A lógica deste trabalho é neutralizar o efeito ambiente igualando o manejo. As diferenças no desempenho serão em função da constituição genética dos animais", explicou o pesquisador da Embrapa Caprinos e Ovinos, Olivardo Facó.
Trinta e cinco animais, com idade entre 4 e 6 meses (entre 12 e 25 kg), de nove criatórios participaram do teste. Após serem recebidos no Parque de Exposições do município, foram inspecionados, receberam vermifugação e complemento vitamínico. Durante 93 dias, os ovinos receberam alimentação rica, com feno de Tifton e concentrado, oferecida com abundância. Eles foram pesados a cada 14 dias e no dia 24 de setembro aconteceu a pesagem final, a medição do perímetro escrotal, além de exame de ultrassom para verificar a cobertura de gordura e área de olho de lombo.
Durante o teste, os ovinos foram avaliados quanto ao ganho de peso médio diário, perímetro escrotal (que tem relação com a fertilidade); área de olho de lombo (ligado à proporção de partes nobres) e espessura de gordura (que garante a maciez da carne). Posteriormente, os animais foram julgados por especialistas quanto a conformação, tipo racial e aprumo.
A avaliação feita pelos produtores, alguns deles donos de animais participantes do teste, levou em consideração os mesmos aspectos dos juizes. Joaquim Bezerra de Araújo Filho, técnico agrícola e criador há 50 anos, considera muito importante o envolvimento dos criadores neste processo. "Os ovinos Morada Nova são um patrimônio do município que estava sendo extinto e estamos procurando resgatar com criatórios particulares. Não temos animais para atender nem a demanda local, acredito que o projeto é um grande avanço", afirmou.
Os resultados preliminares desse julgamento indicam que os criadores avaliaram bem os animais que se classificaram mal no teste de desempenho. "Está havendo uma contradição entre a caracterização racial e o desempenho dos animais. As características da expressão racial não podem ser um impedimento para o melhoramento genético da raça", ponderou Facó.
Especialistas da área comentam o projeto
A solenidade de encerramento do teste de desempenho contou com a presença de dois especialistas em melhoramento genético: José Bento Ferraz, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (FZEA/USP) e Luiz Ininguez, pesquisador aposentado do International Center for Agricultural Research in the Dry Areas (Icarda). "Gostei muito da experiência de conhecer a raça Morada Nova e considero este projeto de fundamental importância na geração de renda para os produtores", afirmou Ferraz.
Ininguez teve a oportunidade de visitar a propriedade do criador João Granja, que hoje possui 64 matrizes e participa do projeto desde o início. O pesquisador mostrou-se impressionado com as características da raça, destacando a boa produção de leite, lactação prolongada e boa habilidade materna. "Esta é uma experiência quase única no mundo e os resultados servirão para trabalhos desenvolvidos em países como a Bolívia e a Colômbia. Uma das vantagens é conhecer a genética dos animais e saber, por exemplo, onde buscar bons reprodutores. Porém, para ver os resultados de um projeto como esse há que se ter paciência", disse.
Parcerias
Liderado pela Embrapa Caprinos e Ovinos, o projeto conta com a parceria de diversas instituições e com o apoio dos produtores. "A riqueza desse trabalho é esta diversidade das instituições envolvidas. Os pesquisadores unem seus conhecimentos aos dos produtores e se complementam. Na verdade, o melhoramento genético é a porta de entrada para a organização de um arranjo produtivo e para o desenvolvimento da cadeia", afirmou o chefe adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da instituição, Marco Bomfim.
O secretário de Agricultura, Pecuária e Recursos Hídricos de Morada Nova, Edmundo Araújo, afirmou que 43% da merenda escolar do município é composta por produtos da agricultura familiar e em breve a carne de ovinos Morada Nova será introduzida nas escolas e nos hospitais. "Temos planos para que o encontro nacional da raça seja realizado aqui, em 2011. Isso vai fomentar, inclusive, as outras cadeias produtivas da região". A prefeitura disponibilizou dois funcionários para trabalharem no projeto, um deles é o técnico agrícola José Ariston Nobre, que acompanha os criadores principalmente no trabalho de escrituração zootécnica.
São parceiros do projeto a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Rural do Município de Morada Nova (Seder), Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Estado do Ceará (Sebrae-CE), Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Ceará (FAEC), Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia e Universidade Estadual do Ceará (UECE).