Mercado
31/05/2010 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:26am
As exportações de carne bovina brasileira para os Estados Unidos estão suspensas. Na quinta-feira à noite, o Ministério da Agricultura interrompeu os embarques de carne bovina processada para o mercado americano, após um recall de produtos do frigorífico JBS Friboi. Os Estados Unidos não importam carne in natura do Brasil.
As autoridades sanitárias americanas pediram um recall de 40 toneladas de carne bovina processada do JBS, na qual identificaram a presença acima do permitido de Ivermectina, um vermífugo utilizado rotineiramente na criação de bovinos, mas que pode ser danoso à saúde humana. O Brasil já chegou a exportar US$ 285 milhões em carne bovina processada para os Estados Unidos.
O bloqueio dos embarques ocorre em um momento delicado nas relações entre os dois países. Os Estados Unidos estão preocupados com a interferência do Brasil em um acordo nuclear com o Irã. E o Brasil, por sua vez, ameaça elevar as tarifas de importação de produtos americanos por causa dos subsídios dados aos produtores de algodão. Há temores no setor privado e no governo brasileiro que a atitude intransigente dos EUA seja uma retaliação.
Em função do incidente com o JBS, o Brasil suspendeu todas as exportações de carne bovina para os EUA, a fim de evitar prejuízos maiores. Mas a decisão foi tomada de comum acordo com os americanos, que se comprometeram a não pedir novos recalls. Ao interromper unilateralmente os embarques, o Brasil pode retomar as exportações mais rápido quando o problema for resolvido. Os frigoríficos que mais exportam para o mercado americano são o JBS, o Marfrig e o Minerva.
Nos dias sete e oito de junho, uma missão do governo brasileiro vai se reunir em Washington com os americanos para discutir o assunto. Segundo o diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa), do Ministério da Agricultura, Nelmon Oliveira da Costa, os EUA fizeram uma mudança repentina em seus critérios técnicos para identificar o vermífugo.
No Brasil, os testes são feitos no fígado dos animais e a concentração da Ivermectina não pode ultrapassar 100 partes por bilhão. Agora, os EUA pedem testes no músculo e aceitam uma concentração de apenas 10 partes por bilhão. Segundo Costa, o critério utilizado no Brasil é recomendado pelo Codex Alimentarius da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
Nós vamos até lá para esclarecer esse assunto. Queremos saber se os Estados Unidos estão adotando esse mesmo critério internamente e porque tiveram uma mudança de postura tão intransigente com o Brasil, disse Costa. O problema vem sendo discutido há quatro semanas entre autoridades brasileiras e americanas, mas só agora as exportações foram interrompidas.
Aftosa. O setor privado brasileiro quer evitar que esse incidente inferira na abertura do mercado americano para carne in natura. Os Estados Unidos estão fazendo uma consulta pública para liberar as importações de carne bovina e suína in natura do Estado de Santa Catarina, que é considerado livre de febre aftosa, uma doença que ataca os animais.
Faz tempo que o Brasil tenta conseguir essa certificação, sem sucesso. O processo só foi agilizado neste início de ano, porque faz parte do pacote oferecido pelos Estados Unidos para evitar a retaliação no caso do algodão. A Organização Mundial de Comércio (OMC) autorizou o Brasil a elevar tarifas de importação contra produtos americanos, porque os EUA se recusam a retirar os subsídios aos produtores de algodão.
De acordo com o diretor executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Carnes (Abiec), Octávio Cançado, ainda não há estimativa de perdas, porque a expectativa é que a situação seja resolvida em breve. Se isso não ocorrer, teremos prejuízos. É um mercado muito importante, disse.