MEIO AMBIENTE
26/12/2009 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:28am
Estudos indicam que as unidades de conservação — que englobam, entre outras, parques nacionais, reservas biológicas e extrativistas — são o melhor mecanismo de proteção do habitat dos animais silvestres.
Porém, segundo uma pesquisa da Universidade de Brasília (UnB), a fragmentação dessas áreas, em especial a do cerrado do Distrito Federal, pode levar à extinção local de aproximadamente 10 espécies de mamíferos nos próximos 50 anos, caso medidas efetivas não sejam colocadas em prática.
A falta de conexão entre as unidades de conservação, que contribui para o isolamento cada vez maior dos animais em ambientes menores, é o principal motivo para o possível sumiço de espécies como a anta (Tapirus terrestris), o veado-mateiro (Mazama americana) e a sussuarana (Felis concolor).
O cerrado consiste no segundo maior bioma da América do Sul, ocupando uma área total de 2 milhões de quilômetros quadrados.
Mas, devido a uma grande quantidade de espécies endêmicas, o bioma se encontra frequentemente ameaçado.
Segundo o estudo, o processo de ocupação das terras no Distrito Federal de 1954 até 1998 resultou na supressão de 57,7% da cobertura vegetal natural.
“A destruição da vegetação do Distrito Federal se mostra especialmente grave quando se constata a existência de ocupação desordenada do solo, com implantação de parcelamentos irregulares que atingem até mesmo as nascentes e cursos d’água, rompendo os corredores que ligam as áreas remanescentes de vegetação natural e impedindo a movimentação da vida selvagem e do fluxo gênico”, afirma o estudo da bióloga e doutora pela UnB Keila Juarez.
A manutenção de corredores ecológicos está prevista na legislação brasileira, de acordo com a bióloga.
Porém, além da falta de conexão entre as principais unidades de conservação do Distrito Federal, os mamíferos do cerrado ainda têm de conviver com a ameaças constantes da caça, entre diversos outros perigos oferecidos pela aproximação do homem.
“Algumas pessoas abandonam filhotes de cães domésticos às margens das unidades. Esses filhotes crescem e passam a disputar espaço com os animais silvestres. Durante o estudo, presenciei e registrei em imagens alguns desses ataques, principalmente ao lobo-guará, que também é um canídeo”, conta Keila, lembrando que espécies como o caititu (Pecari tajacu) e o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), por exemplo, já não conseguem mais deixar a reserva por conta da ameaça humana.
O isolamento dos mamíferos silvestres em regiões menores também incentiva a endogamia — reprodução entre membros da mesma família.
“A falta de reprodução entre grupos diversos contribui para o desenvolvimento de doenças, pois ocorre a perda da variabilidade genética e, como resultado, temos a extinção”, explica a pesquisadora.
Para chegar ao resultado final do estudo, ela distribuiu 70 armadilhas fotográficas ao longo de dois anos, nas três principais unidades de conservação do DF.
“A situação é séria e precisa ser avaliada com muito critério pelas autoridades. Para se ter uma ideia, estudos anteriores confirmavam a existência de 35 espécies de mamíferos, no total. Meu primeiro questionamento, ao iniciar a pesquisa, era saber se todas essas espécies continuavam existindo nas mesmas proporções”, diz
Fonte: Correio Braziliense