Integração

10/01/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:24am

Se as carpas simbolizam persistência, coragem e sucesso para as tradições culturais chinesas, no Brasil, elas podem representar prosperidade, geração de renda e melhor aproveitamento da água de açudes. Significados nem tão distantes assim. Na região de Taquara, no Rio Grande do Sul, a Emater vem incentivando uma alternativa para a criação de quatro diferentes espécies do peixe em um mesmo ambiente. É o chamado policultivo de carpas.

O objetivo é, a partir dos hábitos alimentares de cada alevino, melhorar a qualidade da água dos açudes. Para isso, Claudionir Fernandes da Rosa Ávila, técnico em agropecuária da Emater/RS explica que são utilizadas as carpas capim, húngara, prateada e cabeça grande e que todas trabalham em áreas distintas, o que garante harmonia na convivência entre elas dentro do açude.

A capim, como o próprio nome diz, se alimenta de gramíneas, que, segundo as orientações de Claudionir, devem ser plantadas próximas às represas onde os peixes serão criados. Já a húngara é um tipo onívoro, ou seja, come resíduos vegetais ou animais no fundo dos lagos. E, por último, os dois tipos que funcionam como filtros: a prateada, que consome fitoplânctons, e a cabeça grande, os zooplânctons.

Cada uma delas fazendo seu trabalho, melhora a qualidade da água para a outra. A húngara, por exemplo, limpando o fundo, diminui o acúmulo de material orgânico, enquanto as outras ajudam a consumir os plânctons. O produtor deve ter as plantações de capins perto dos açudes, para facilitar o fornecimento diário e, na formação dos organismos microoscópicos, até em função de custos, recomendamos a adubação orgânica através de esterco animal disponível na propriedade rural mesmo. Afinal, as rações são caras – comenta o técnico da Emater.

Claudionir Ávila acredita que os grandes benefícios do policultivo para o agricultor são aproveitar os açudes de forma adequada e, também, oferecer ao mercado peixes criados em sistema orgânico. Para chegar a um produto de qualidade, ele ressalta que a área de criação não deve ser muito grande, principalmente porque a região de Taquara é predominantemente formada por pequenas propriedades, algumas com relevo bastante ondulado. Os açudes podem variar de mil a 3 mil metros quadrados, com a densidade de um alevino para cada 4m2.

Para agregar valor à produção, o criador que tiver condições pode realizar a rotação dos animais em diferentes açudes. Isso facilita o manejo, pois, na hora da despesca, um viveiro estará seco enquanto o outro funcionará normalmente. E até para realizar a desinfecção anual essa técnica é bastante apropriada. Mas, se houver um açude apenas, a limpeza deve ser feita a cada dois anos. Outro ponto importante é a questão da entrada e saída de água. Quando se tem mais de uma represa, cada uma deve ter o fornecimento de água independente, pois isso evita que doenças sejam transmitidas – reforça Claudionir.

Outra preocupação que o piscicultor precisa ter é com os predadores. O principal deles é a traíra, que se alimenta das carpas. Por isso, e ainda por eventuais perdas, o produtor se utiliza da densidade orientada, com o acréscimo de 50% de alevinos. Por exemplo, num âmbito de mil metros quadrados, seriam colocados 365 alevinos, com 35% de carpas capim, 35% de húngara, 15% de prateada e 15% de cabeça grande.

A pesquisa nasceu há mais de 15 anos no município, por iniciativa da Emater. Temos tentado trabalhar e dar prosseguimento a isso. Temos a unidade de observação participativa, no intuito de trazer mais pessoas para a atividade. Aqueles que estão iniciando, ou tem vontade de começar a sua criação, e não tem conhecimento, conseguem observar a produção de peixes em grupo e chegar a algumas conclusões, para finalmente implementar o método em sua propriedade – conclui o técnico.