Histórias de desalento se repetem

27/01/2014 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:00am

Em cada pequena propriedade entre as cidades de Crato, Juazeiro do Norte, Potengi e Santana do Cariri, é possível ver colmeias abandonadas e ouvir histórias de desalento com a seca dos últimos anos. Ao lado das casas simples, de poucos cômodos e paredes manchadas de barro seco, as cisternas estavam vazias. "Só com carro-pipa", contava o apicultor Francisco Pierre Neto.

"Nunca tinha visto uma seca tão devastadora", explica o produtor, enquanto fiscaliza a preparação de iscas para capturar novos enxames.

Um funcionário faz o serviço, preenchendo com cera as redes onde se fixam as abelhas, chamadas de melgueiras. A maior parte delas estava danificada, roída pelas traças após dois anos inutilizadas – ao todo, foram mais de 700 colmeias perdidas na propriedade localizada na Chapada do Araripe, a cerca de 30 km de Juazeiro do Norte.

Sua produção começou há 15 anos, quando o pai lhe deu cerca de 20 colmeias. Era uma tentativa de encaminhar o rapaz, então com 33 anos, sem estudos e sem profissão. Foi um investimento pequeno, de cerca de RS 100, que deu início a um patrimônio que inclui propriedades, caminhões para o transporte, um ponto comercial e uma produção de frangos.

"Tudo que tenho hoje, o caminhão de transporte das colmeias, o carro da família, o comércio, tudo foi graças à Apicultura", conta. Lembra quando, no início da produção, ia para o terreno preparar os apiários e retirar o mel,e quando se arriscava nas estradas transportando os enxames até o Piauí.

"Levava as abelhas por 300 km, sem parar, até achar um bom lugar para elas ficarem. Uma vez, o caminhão parou e tive de esperar até o amanhecer para consertar. Estava sem telas para as abelhas,é uma carga muito perigosa", conta. "Pense em um sufoco?", diz, com o característico sotaque cearense.

Na memória, tudo vira anedota, mas naquela mesma semana, mais uma vez, ele se preparava para migrar as abelhas até o Estado vizinho. "Na última tentativa, entre 200 apiários, só consegui pegar dois enxames. Cheguei a dizer que nunca mais criaria abelhas, mas não perco a esperança."/a.p.