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02/10/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:10am

Imunologista da Fiocruz planeja viabilizar desenvolvimento de vacinas

Cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo são afetadas pelas doenças tropicais negligenciadas, como a malária, a doença de Chagas, a leishmaniose, a esquistossomose e a dengue. Antes relacionadas somente aos países pobres localizados entre os trópicos, tais males romperam barreiras e chegaram às ricas nações do Hemisfério Norte. É nesse contexto de expansão global das enfermidades tropicais que Cláudio Tadeu Daniel Ribeiro, imunologista do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), assume a presidência da Federação Internacional de Medicina Tropical.

Ribeiro é o primeiro brasileiro a atingir o cargo e garante que o olhar de um sul-americano sobre a instituição certamente proporciona diferentes perspectivas sobre as doenças tropicais. “Historicamente, são colocações distintas. Enquanto a medicina tropical para o Hemisfério Norte representava as doenças dos países colonizados, tinha um perfil de cuidado com os nacionais que se deslocavam para as colônias; no Brasil e nos países do Hemisfério Sul, a medicina tropical tem outra conotação, que é a de desenvolvimento”. Ribeiro explica que as doenças tropicais começaram a aparecer com mais força ainda durante o período em que o Rio de Janeiro abrigava o governo central. Foi no contexto de ocupação e expansão da colonização brasileira que as doenças restritas, por exemplo, à região amazônica foram tomando o interior do país rumo ao litoral.

Mas se foi o desenvolvimento que trouxe as doenças, haverá de ser ele que também as combaterá. Entre os desafios para a nova gestão, Ribeiro destaca o fomento às pesquisas na área e, principalmente, investimentos capazes de viabilizar o desenvolvimento de vacinas como a malária e a dengue. Em entrevista ao Correio, o imunologista fala de suas expectativas para a nova gestão e defende a importância do fomento a eventos como o Congresso Internacional de Medicina Tropical e Malária, cuja 18ª edição ocorreu semana passada, no Rio de Janeiro.

Ribeiro, que presidiu também o Comitê Científico do evento, celebrou o sucesso do congresso que atraiu mais de 2.500 participantes, de 59 países. Durante uma semana, os cientistas se reuniram e trocaram experiências no desafio de encontrar soluções para acabar, de vez, com as mazelas tropicais.

O senhor será o primeiro brasileiro a assumir a presidência da Federação Mundial de Medicina Tropical, criada em 1988. Ou seja, só depois de 24 anos, temos um representante do Brasil à frente da instituição. Como o senhor avalia sua nomeação?
O Brasil é um país que tem grande parte de seu território na região intertropical, que possui 61% da Amazônia e que tem muitas doenças prevalentes nessa área. Então, evidentemente, faz sentido que o país assuma a presidência da federação. Outro ponto que acho fundamental — e esse eu enfatizaria — é que isso acontece em um momento em que o Brasil está chamando a atenção do mundo por várias razões, uma delas é o seu desempenho econômico. Hoje, nós somos a sexta potência econômica do mundo. Além disso, nas últimas duas décadas, sobretudo nos últimos 10 anos, o país fez um investimento importante em pesquisa e em desenvolvimento tecnológico. O Brasil é o país que mais cresce em produção científica. Somente em 2010, foram 32.400 artigos publicados em periódicos. Hoje, somos o 13º no ranking da produção científica internacional. Isso fica melhor ainda na área de medicina tropical, em que Brasil é o segundo país a produzir conhecimento, com 20% dos artigos publicados em periódicos indexados de todo o mundo. Então, eu acho que tem uma história que explica o porquê de o Brasil assumir a presidência agora.

Qual a expectativa para a sua gestão?
Como estamos falando de uma federação, ela deveria contar com uma pequena contribuição de cada membro das sociedades inscritas. O ideal é que a gente consiga um dólar de cada membro da sociedade peruana, um dólar de cada membro da sociedade brasileira e por aí vai. Deveria ser suficiente, mas isso, na prática, não tem acontecido, o que nos deixa com poucos recursos e mantém, de certa forma, esse perfil relativamente modesto no repertório de atividades