Fauna

20/05/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:10am

No Instituto de Biociências (IB) da USP, pesquisa mostra as alterações na fauna que acontecem durante o processo de sucessão ecológica. O biólogo Bruno Trevizan Pinotti analisou as espécies de pequenos mamíferos terrestres (roedores e marsupiais), assim como a disponibilidade de alimento e estrutura de vegetação em diferentes estágios da regeneração de uma área de Mata Atlântica. O resultado do estudo aponta que as informações sobre as espécies existentes, e não apenas sobre seu número, são essenciais para avaliar a biodiversidade em áreas de floresta secundária, surgidas após a ocorrência de desmatamento.

A sucessão ecológica é o processo pelo qual as comunidades biológicas se estruturam ao longo do tempo. “Ela depende dos requisitos ecológicos das espécies, que definem as condições ambientais a que estão adaptadas, assim como as interações entre elas”, afirma a professora Renata Pardini, orientadora do trabalho. “Se há um distúrbio que desestrutura a comunidade, como ações de desmatamento empreendidas pelo homem, inicia-se um processo de reorganização, em que as espécies se sucedem conforme as condições ecológicas do local vão se modificando”.

Os resultados mostraram que para a fauna o processo de sucessão reflete um gradiente ambiental e temporal, como já foi convencionado para plantas. “No início, há maior disponibilidade de alimento, como artrópodes no solo e frutos no sub-bosque, e menor complexidade estrutural, em especial menos folhiço e galhadas no chão da floresta”, aponta a professora. “Nos estágios mais avançados, diminui a quantidade de alimento a disposição e a estrutura do ambiente é mais complexa, o que muda os requerimentos necessários para a ocupação do local”.

Espécies
Nas fases iniciais, observou-se um predomínio de espécies não restritas a Mata Atlântica, que também ocupam biomas mais abertos, como o Cerrado, entre as quais se encontra o roedor Akodon montensis. “Sua abundância diminui com o avanço da sucessão, quando passam a ser mais comuns espécies endêmicas da Mata Atlântica, como o Euryoryzomys russatus”, destaca Renata.

O biólogo analisou a Reserva Florestal do Morro Grande, em Cotia (Grande São Paulo), uma área que se tornou protegida, permitindo a regeneração da vegetação. Por meio de fotos aéreas, a região foi mapeada em três setores com estágios sucessionais distintos, definidos conforme a legislação ambiental: médio, médio/avançado e avançado. “Nesta última categoria se encontra as florestas maduras, sem evidências de que tenham sofrido corte raso, ou seja, derrubada total”, conta a professora.

A professora observa que apesar do número de espécies ser semelhante entre florestas mais jovens e maduras, não se pode afirmar que florestas jovens mantenham a mesma biodiversidade encontrada antes do distúrbio no ambiente. “Para avaliar o valor de florestas jovens na conservação da biodiversidade, é preciso levar em conta não apenas o número de espécies, mas quais estão presentes”, ressalta. “Além disso, conhecer as mudanças ambientais que estão por trás das alterações na fauna é fundamental para embasar as técnicas de manejo e restauração visando acelerar o processo de regeneração de áreas degradadas”.