Experimentos em Animais

28/10/2013 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:00am

A perspectiva do mundo é a sua evolução constante. Para que isso ocorra o conhecimento necessita ser aprofundado, melhor dizendo, a ciência precisa buscar novos caminhos, novas opções para o crescimento econômico, social e político da humanidade. Sem a ciência não existe tecnologia. Sem a tecnologia não há desenvolvimento. Sem o desenvolvimento a humanidade talvez não mais existisse ou estaríamos em processo de autodestruição.

Não fosse as pesquisas realizadas no mundo todo, o leite, mel, ovos, carne, frutos do mar e outras fontes de alimentos de origem animal estariam promovendo enfermidades e mortes em todo o planeta por deficiências, toxi-infecções alimentares e pelas antropozoonoses. A agricultura e suas técnicas não são as mesmas da Idade Média. A televisão não é mais em preto e branco. O computador modifica continuamente. Os meios de transporte são mais velozes, enfim, tudo se transforma graças à aplicação continua da ciência em beneficio da humanidade.

O recente e rumoroso caso dos cães da raça Beagle desencadeou discussões calorosas nos meios de comunicação e na pessoas. Ativistas acusam o Instituto Royal de ter submetido os cães a maus-tratos. Assertiva esta que não ficou provada em nenhuma circunstância, pois o Ministério Publico do Estado de São Paulo, a Vigilância Sanitária, e Conselho Nacional de Controle da Experimentação Animal (CONCEA), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, apresentaram pareceres contrários à denúncia.

Penso que os referidos órgãos públicos, por terem em seus assentos, inclusive, representantes das sociedades protetoras dos animais, não seriam  coniventes com as supostas irregularidades apontadas pelos invasores. Fico perplexo sobretudo quando vejo pessoas esclarecidas aplaudirem as ações dos ativistas, que ao meu ver, depõem contra princípios de obediência à lei e à ordem. Já disse em outras oportunidades que o nosso mal é acatarmos toda e qualquer informação ou “deformação” como sendo verdadeira, sem refletirmos. Na nossa língua portuguesa isso tem nome: generalização apressada.

Não estamos procurando saber quem está certo ou errado. O bem-estar animal, em todos os aspectos, é uma tônica mundial de que todos estamos conscientes de sua real importância e necessidade. Quando o assunto é a utilização de animais para pesquisas, nossa atenção deve ser redobrada. Cientistas de diversas áreas se debruçam sobre o tema, apontando soluções e buscando alternativas. É unânime que se deve reduzir, refinar, substituir a utilização de animais nas pesquisas, pois há de ser incansável a busca pelo bem-estar animal.  Não creio que grupos radicais sejam, efetivamente, defensores dos animais. Creio sim que sejam produtos de má formação, péssima informação e desvio de comportamento. Esse assalto ao Instituto Royal é mais um eco das manifestações que eclodiram nas ruas do nosso país este ano, desde junho. Querer que não se utilize animais para pesquisas é demonstração inequívoca de falta de maturidade intelectual e de conhecimento da realidade. Não fosse as pesquisas levadas a efeito em animais, provavelmente muitos de nós não estaríamos aqui.

A expectativa de vida no começo do século passado mal ultrapassava 40 anos e hoje  quase que dobramos esta idade. Sem a experimentação animal, estaríamos fazendo cirurgias sem anestésicos, e morrendo de qualquer tipo de infecção. A heparina não existiria e as cirurgias ortopédicas já teriam dizimado milhares de pessoas. A penicilina e outros antibióticos não estariam salvando vidas, e os remédios para pressão alta continuariam sendo um sonho. O transplante do coração e outros órgãos não seriam possíveis. Os medicamentos para enxaquecas seriam o repouso longe do barulho. A incubadora para bebês prematuros seria uma hipótese. Os 120 mil diabéticos brasileiros, hoje insulinodependentes, teriam poucas chances de sobrevivência. O tratamento para o Mal de Parkinson no controle dos tremores estaria sendo tão somente imaginado e as células-tronco que já vem sendo estudadas há mais de uma década não estariam criando perspectivas para curar doenças.

O que desejam os ativistas? Que voltemos à Idade Média ou que os testes sejam feitos em humanos? Quais são os primeiros ativistas ou defensores que se habilitam?

Peter Singer, em 2006, durante um debate com Tipu Azis, um neurocirurgião da Universidade de Oxford, recebeu a seguinte pergunta: “Qual sua opinião sobre um experimento com 100 macacos sobre a doença de Parkinson, sabendo que este estudo já beneficiou mais de 40 mil pessoas que sofriam da doença?”. A resposta de Singer foi de que a pesquisa era “justificável”, se não houvesse outra maneira de chegar ao mesmo conhecimento e salvar vida. Consultado pela Revista Época, Singer assim se manifestou : “Tudo depende do bem maior”. E o bem maior que está escrito na nossa Carta Política é a defesa de nossa espécie, ou seja, o Direito à Vida. Sabemos quanto é nobre a defesa dos animais, mas existe uma nobreza maior, que é a defesa dos Direitos Humanos. Sejamos conscientes e responsáveis com as nossas e as futuras gerações.

Med.Vet. Benedito Fortes de Arruda
Presidente do CFMV