Entrevista

29/06/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:48am

O Brasil deverá voltar à primeira posição no ranking dos maiores exportadores de carne bovina no mundo este ano, graças ao câmbio que melhora a competitividade do país e às restrições enfrentadas por seus concorrentes para ampliar a oferta, disse o diretor-técnico da Informa Economics FNP.

"A ideia é que se tem uma correção do câmbio razoável, que em nossa visão dificilmente fica abaixo do patamar de 2 reais, e isso nos leva a crer que teremos mais competitividade…", disse José Vicente Ferraz, diretor-técnico da consultoria.

"O Brasil vai aumentar os embarques em termos de volume também", acrescentou Ferraz, em entrevista para comentar os resultados do levantamento anual da consultoria, o Anualpec, divulgado nesta quinta-feira.

Pela estimativa da consultoria, o Brasil poderá chegar à primeira posição com um embarque de 1,465 milhão de toneladas equivalente carcaça, à frente da Austrália (1,38 milhão de toneladas) e dos Estados Unidos (1,25 milhão de toneladas).

No ano passado, o Brasil ficou em segundo lugar, com 1,322 milhão de toneladas embarcados, atrás da Austrália (1,35 milhão de toneladas), mas ainda um pouco à frente dos Estados Unidos (1,24 milhão de toneladas).

O levantamento leva em conta os dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) e do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

Ferraz observa ainda que os principais concorrentes terão dificuldades para ampliar a oferta nesta ano. Os Estados Unidos devem ter baixa disponibilidade, depois do grande abate de animais que reduziu o rebanho ao menor nível em mais de 50 anos, e da manutenção do consumo no país.

Já a Austrália, diz ele, teria custos elevados se optasse por expandir sua produção por causa de uma seca endêmica que afeta o país, o que a faria perder competitividade no mercado externo.

"Então, o Brasil encontra uma brecha aí para exportar mais", acrescentou, lembrando que estas são hipóteses levantadas pela Informa para 2012.

O Brasil assumiu a primeira posição entre os exportadores em 2004 e foi ampliando agressivamente sua posição, mas a valorização do real interrompeu esta trajetória, até perder a liderança no ano passado para Austrália, por uma diferença de pouco mais de 10 mil toneladas.

MUDANÇA ESTRUTURAL

O cenário interno também apresenta uma expectativa positiva, com o consumo aumentando mesmo diante da desaceleração econômica do Brasil vista neste primeiro semestre, por causa de uma mudança estrutural neste mercado.

A Informa aponta um crescimento de 2,3 por cento no consumo de carnes no Brasil em 2012, para 97,5 kg por pessoa no ano, sendo puxada pela carne de frango (mais 4 por cento), por de bovino (mais 3 por cento). A demanda interna por carne suína é prevista com alta de 2 por cento.

O diretor-técnico da Informa ressalta que não se trata de movimento pontual, mas é fruto de mudanças de hábitos de consumo, culturais, de incremento da renda, da demografia, entre outros.

Segundo ele, estas mudanças geram um dilema para a cadeia produtiva, que tradicionalmente já vive impasse entre pecuaristas e a indústria frigorífica, que brigam para conseguirem os melhores valores para os seus negócios.

Este cenário, diz ele, torna necessária uma aproximação destes elos da cadeia. "O que antes parecia uma utopia, agora virou necessidade: integrar a cadeia", avaliou.

Grandes frigoríficos, JBS, Minerva e Marfrig, começaram a criar divisões de relacionamento com pecuaristas, com intuito de estreitar os vínculos com seus fornecedores.

A despeito das reclamações de pecuaristas sobre a concentração na indústria, o que diminuiria seu poder de barganha, Ferraz ressalta que esta também é uma oportunidade para os frigoríficos médios.

"Esta pode ser uma válvula para os frigoríficos médios sobreviverem, nesta questão de concentração, eles são menores, mas ágeis, podendo se adaptar às necessidades que esta mudança de hábitos vai trazer", disse.

COMPETIÇÃO COM AGRICULTURA

Sobre a perspectiva da indústria frigorífica de início de um ciclo de baixa no boi gordo, por conta da maior disponibilidade para abates, Ferraz levanta dúvidas sobre a extensão deste recuo.

"Temos visto muitos pecuaristas saindo ou transferindo expressivas parcelas (de suas propriedades) para a agricultura", disse o diretor-técnico da FNP.

Ele pondera que a rentabilidade do setor está boa, com a arroba acima de 90 reais base São Paulo, valor acima da média histórica em torno de 75 reais para o período.

Neste cenário, a tendência era de que o pecuarista elevasse o investimento, mas a opção pela agricultura – por sua rentabilidade ainda maior – pode levar a alguma liquidação do rebanho e interferir no volume de animais para abate e nos preços.

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