dioxina
10/01/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:24am
As autoridades sanitárias alemãs detectaram altos níveis de dioxina em aves, afirmou no dia 8 de janeiro de 2011, em Berlim, porta-voz do Ministério alemão da Agricultura. Assim, fica confirmada a revelação feita pela revista alemã Focus, com base em informações de um relatório do governo alemão enviado à Comissão Europeia (CE), em Bruxelas. As amostras de gordura de três galinhas empregadas na produção de ovos continham mais de duas vezes o limite de dioxina permitido por lei.
No documento, datado de 6 de janeiro de 2011, o Ministério alemão da Agricultura e Defesa Consumidor afirmou que os estados alemães afetados optaram por não avisar a população "porque não contavam com efeitos adversos à saúde".
As três galinhas contaminadas procediam de uma granja no estado de Renânia do Norte-Vestfália, na qual também foram detectados ovos contaminados com altos níveis de dioxina.
CARNE NÃO CHEGOU AO COMÉRCIO
De acordo com o porta-voz do Ministério da Agricultura Holger Eichele, a carne dos animais afetados não chegou ao comércio. "Os animais foram abatidos e os seus restos, eliminados", garantiu. Ele assegurou também que os ovos da granja foram retirados do mercado. Eichele salientou, ainda, que os testes iniciais em frangos e perus para abate atestaram níveis de dioxina dentro do limite permitido. O mesmo se aplica a seis exames realizados em carne suína.
Como medida preventiva, o estado de Schleswig-Holstein congelou os depósitos da empresa Harles und Jentzsch, a produtora de ácidos graxos para rações de animais suspeita de responsabilidade no escândalo.
Aparentemente, a companhia sabia há bastante tempo da contaminação de seus produtos. Segundo noticiou a revista Der Spiegel, desde março de 2010 a Harles und Jentzsch vinha detectando altos níveis de dioxina em seus produtos, porém ocultou dos inspetores de saúde os resultados dos testes.
EMPRESA PODE TER ENGANADO CLIENTES
Um porta-voz da Secretaria de Agricultura do estado de Schleswig-Holstein disse ao jornal Westfalen Blatt haver "indícios de que a empresa enganou seus clientes, vendendo-lhes óleos para uso industrial no lugar de alimentícios". Uma tonelada de óleo industrial custa cerca de 500 euros, a metade do preço da gordura adicionada às rações.
O estado da Baixa Saxônia estima que 10 mil porcos poderiam estar contaminados com dioxina, e proibiu preventivamente a comercialização de suínos oriundos de mais de 3 mil criadouros. Desde a eclosão do escândalo, as autoridades alemãs determinaram o sacrifício de animais ou a proibição de sua venda. A realização de análises nas amostras coletadas levam tempo. Como os óleos contaminados foram vendidos a centenas de criadouros de aves e suínos, é possível que nos próximos dias sejam revelados mais casos de contaminação.
CORÉIA DO SUL SUSPENDE IMPORTAÇÕES
Alguns países estão começando a tomar precauções. A Coreia do Sul suspendeu as importações de carne de porco e produtos avícolas da Alemanha, e diversos supermercados no Reino Unido retiraram de suas prateleiras os produtos fabricados com ovos oriundos do país. A Rússia também anunciou um controle mais rigoroso da carne alemã.
O Instituto Federal de Avaliação de Risco da Alemanha (BfR, na sigla em alemão), entretanto, argumentou que, com base nos resultados das investigações conhecidas até o momento, não há nenhum risco sério para a saúde dos consumidores.
Muitos produtos agrícolas acusam níveis baixos de dioxina, cuja concentração é medida em picogramas (trilionésimos de grama). De acordo com uma determinação europeia, não podem ser vendidos ovos que contenham mais de três picogramas de dioxina por grama de gordura.
O escândalo de contaminação de rações de animais preocupa autoridades e consumidores da Alemanha há mais de uma semana. Cerca de 4,7 mil criadouros, fazendas e granjas estão interditados no país, devido à suspeita de terem alimentado seus animais com rações contendo altos níveis de dioxina.
SEVESO E IUCHTCHENKO
As dioxinas são compostos de carbono e cloro, principalmente originadas da queima de plásticos. Mesmo em pequenas quantidades, substâncias desse grupo podem causar câncer ou doenças em recém-nascidos. Por isso, são consideradas particularmente perigosa no leite materno.
A dioxina ocupou as manchetes internacionais em pelo menos duas ocasiões. Em 1976, grandes quantidades da substância foram liberadas no desastre de uma fábrica química em Seveso, Itália. Centenas de habitantes tiveram que ser evacuados, porém muitos sofreram de cloracne e a incidência de câncer subiu drasticamente na região.
O segundo caso foi a tentativa de assassinato do atual presidente ucraniano, Viktor Iuchtchenko. Em 2004, após um encontro com funcionários do serviço secreto, foi detectada em seu corpo uma alta concentração de TCDD, a dioxina mais tóxica conhecida, que lhe desfigurou o rosto. Na época, o político era líder da oposição na Ucrânia.