Debate sobre os métodos alternativos ao uso de animais em ensino e pesquisa é assunto de artigo do Presidente do CFMV na Revista Cães e Cia

17/02/2016 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:50am

No artigo publicado na edição de fevereiro da revista Cães e Cia, o presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária, Benedito Fortes de Arruda,  fala sobre a importância do debate sobre os métodos alternativos ao uso de animais em ensino e pesquisa. Confira:

Ensinar veterinária respeitando os animais

Embora desafiador, o debate sobre métodos alternativos ao uso de animais em ensino e pesquisa é inadiável

Desde os tempos antigos, a humanidade usou animais como modelos para pesquisas. Por outro lado, uma das principais demandas atuais da sociedade com relação aos animais diz respeito a minimizar o sofrimento causado às diferentes espécies. Os tempos mudaram, a ciência evoluiu, a tecnologia também e hoje os métodos alternativos ao uso de animais em ensino e pesquisa são uma realidade. Nas universidades, novas técnicas permitem o repasse de conhecimentos aos estudantes sem prejuízo à aprendizagem e sem comprometer o bem-estar e a saúde animal. Assim, os aspirantes a médicos-veterinários adquirem e desenvolvem habilidades para o bom desempenho das suas – tão esperadas – futuras atividades profissionais.

Métodos alternativos

Para a formação cirúrgica, que envolve complexos conceitos teóricos e práticos, têm sido desenvolvidos diversos métodos alternativos. Entre eles, a utilização de cadáveres preservados, o emprego de artefatos confeccionados a partir de espuma, látex e outros materiais sintéticos, manequins de resinas e peças de matadouros para o treino de suturas. O uso desses materiais permite a maior quantidade de repetições a cada aula prática até que os alunos se sintam seguros para dar o próximo passo: atender animais que realmente necessitam do tratamento.

Sensibilização

A passagem pela vida universitária também abrange a formação de cidadãos completos e profissionalmente competentes. Buscar alternativas que minimizem o sofrimento dos animais contribui para a sensibilização do futuro médico-veterinário.

Mudar métodos

A adoção de métodos alternativos é um desafio que precisa ser encarado pelas Universidades. O retrato atual mostra que a minoria delas possui formas e métodos bem estabelecidos para substituir o uso de animais no ensino.

Esse é um assunto que está na pauta de discussões das comissões assessoras do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), como, por exemplo, a Comissão de Ética, Bioética e Bem-Estar Animal e a Comissão Nacional de Educação da Medicina Veterinária.

A adoção de métodos alternativos ao uso de animais no ensino difere da discussão sobre o uso de animais para a pesquisa, definida pela busca de um conhecimento ainda em construção. A legislação brasileira de Crimes Ambientais (Lei Federal nº 9605/1998) proíbe a utilização de animais quando há métodos alternativos. Até agora, já foram reconhecidos pelo Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, 17 métodos alternativos que têm por finalidade a substituição, redução ou refinamento do uso de animais em pesquisas. Em alguns casos, é possível substituir o uso de roedores, coelhos e cães, por exemplo, em procedimentos para avaliar irritação da pele, irritação ocular, toxidade aguda e absorção cutânea, entre outros.

Embora a substituição ao uso de animais seja o objetivo principal, nem sempre é possível alcançá-lo por completo. São três os conceitos de substituição, simbolizados por “três erres”, ou seja, substituição (em inglês, replacement), redução e refinamento. Dessa forma, minimiza-se o sofrimento dos animais, sem comprometer o rigor das pesquisas científicas.

O CFMV é parceiro do Concea nas ações referentes à experimentação animal no país, principalmente com relação às atribuições e responsabilidades do médico-veterinário.

Pesquisa nacional

A iniciativa mais recente envolvendo o CFMV e o Concea foi a assinatura de um termo de cooperação para visitas técnicas às instalações que mantêm animais com fins de ensino ou pesquisa científica em todas as regiões do país. O acordo, com vigência de cinco anos, visa conhecer a realidade do que ocorre no campo da experimentação animal, avaliar as condições das instalações e a presença do médico-veterinário responsável técnico, preservando o bem-estar dos animais e tomando as medidas corretivas, quando necessárias.

Por Benedito Fortes de Arruda, presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária