Conduta no tratamento de animais suspeitos de intoxicação por petiscos contaminados
06/09/2022 – Atualizado em 30/10/2022 – 9:00pm
Na última sexta-feira (2), o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) interditou preventivamente uma fábrica por suspeita de contaminação de petiscos para animais pela substância monoetilenoglicol. Em virtude da emergência estabelecida e a necessidade de orientar os médicos-veterinários com urgência, o Sistema Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária (CFMV/CRMVs) atendeu à solicitação de apoio do ministério no sentido de divulgar as condutas recomendadas no atendimento clínico dos animais suspeitos de intoxicação, tendo em vista que a legislação eleitoral vigente no momento prevê a permissão de comunicados em casos de gravidade e prejuízos à sociedade brasileira.
Desde a semana passada, o CRMV-MG e de CRMV-SP acompanham as investigações, uma vez que a fábrica está instalada em Guarulhos, São Paulo, e as primeiras perícias dos corpos de animais foram realizadas pela Polícia Civil de Minas Gerais, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Com as informações apuradas até o momento, os regionais publicaram as orientações preliminares aos profissionais.
Confira a íntegra das notas emitidas pelo CRMV-MG e CRMV-SP.
Sintomas e consequências
Os sintomas apresentados pelos animais intoxicados incluem comprometimento hepático, com vômito, diarreia, abatimento e prostração. O quadro tende a avançar rapidamente para insuficiência renal grave. Em menos de 72 horas, o animal poderá vir a óbito.
Inicialmente, o animal pode apresentar sinais semelhantes à embriaguez, com um andar cambaleante. Em seguida, é comum verificar um quadro de depressão, com possível dificuldade de caminhar, e, eventualmente, sinais de agressividade, demonstrando acometimento do sistema nervoso central.
Outros sintomas que também podem ser observados: queda da temperatura corporal, respiração rápida e rasa, ofegante e aumento na ingestão de água.
O quadro poderá evoluir para insuficiência renal, o animal ficar letárgico e apresentar náuseas, vômitos, uremia e convulsões.
De acordo com a assessora técnica e médica-veterinária do CRMV-SP, Anne Pierre Helzel, o Etilenoglicol é um composto químico comumente utilizado como anticongelante, presente em produtos automotivos e em refrigeradores. Em sua forma pura, costuma atrair animais por conta de seu sabor doce.
“O Etilenoglicol será metabolizado no fígado por uma enzima chamada Álcool Desidrogenase. O produto final desse processo do organismo será o Oxalato de cálcio. Essa substância promove a intoxicação nos túbulos dos rins, que é o que causa a falência renal e a morte do animal”, explica Silvana Gorniak, Integrante da Comissão Técnica de Pesquisa Clínica do CRMV-SP e especializada em Patologia e Toxicologia Animal.
Conduta clínica e tratamento
Para tentar reverter o quadro e evitar o óbito, o responsável pelo animal deverá buscar o auxílio de um médico-veterinário assim que identificar ou suspeitar de intoxicação pelos petiscos supostamente contaminados.
O profissional vai avaliar o quadro clínico do paciente considerando o tempo que se passou da ingestão, até a chegada do animal para o atendimento, realizando condutas que podem incluir, dentre outras:
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Indução de vômito
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Lavagem gástrica
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Aplicação de medicamento específico *
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Correção do equilíbrio ácido-base
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Diminuição de edema pulmonar
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Hemodiálise
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Diálise peritoneal
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Terapia emergencial de suporte à vida
Em todos os casos, o médico-veterinário deverá realizar um exame clínico completo, com histórico detalhado, verificar diagnósticos diferenciais, realizar a coleta de exames complementares, manter a vigilância e monitoramento. Em caso de óbito, indicar a necrópsia.
As Comissões de Medicina Veterinária Legal dos dois regionais (MG e SP) destacam a importância da perícia médica-veterinária como prova para confirmar a causa da morte e o delito. Ainda sinalizam para que os profissionais fiquem atentos à possibilidade de o atendimento clínico subsidiar a confecção de provas, se requisitadas pelas autoridades competentes.
* etanol médico por via intravenosa, consecutivamente e sob monitoramento constante, em concentração e dose específicas para “ocupar” a enzima Álcool Desidrogenase com outra substância, de forma que o Etilenoglicol seja metabolizado.
Fiscalização
O Mapa manterá a empresa interditada até que sejam apresentadas todas as informações requeridas pela fiscalização do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (Dipoa/Mapa). A medida é preventiva e poderá ser alterada em razão das informações que venham a ser obtidas com as investigações que estão sendo conduzidas.
O órgão determinou ainda a fiscalização dos estabelecimentos distribuidores o recolhimento nacional de todos os lotes de produtos da empresa suspeitos de contaminação e risco à saúde dos animais. Os Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária do ministério já estão analisando as amostras coletadas.
Aos usuários, o Mapa orientou que formalizem as denúncias junto à Ouvidoria munidos de informações sobre lote e data de fabricação dos produtos suspeitos. Já para fins de ressarcimento, os consumidores devem entrar em contato com o fabricante ou com o estabelecimento que comercializou o produto.
O Sistema CFMV/CRMVs reforça a relevância da atuação dos responsáveis técnicos nos estabelecimentos que comercializam produtos para uso veterinário, uma vez que cabe a esses profissionais verificar a conformidade dos produtos comercializados, retirando-os, inclusive, de circulação/comercialização até o total esclarecimento das investigações, minimizando os riscos para o consumidor.
Departamento de Comunicação do CFMV, com informações do CRMV-MG, CRMV-SP e Mapa.