Concentração na indústria
10/03/2010 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:27am
Mais um passo na consolidação da indústria veterinária mundial foi dado na terça, dia 9, com a criação de uma nova líder global do segmento, e que também assume a liderança no mercado brasileiro, um dos mais cobiçados nos últimos anos. Duas das maiores empresas farmacêuticas do mundo, a americana Merck e a francesa Sanofi-Aventis, decidiram unir seus negócios na área de saúde animal e criaram uma joint venture entre suas controladas, respectivamente, Intervet/Schering-Plough e Merial.
A empresa que surge dessa união nasce com um valor de mercado de aproximadamente US$ 16,5 bilhões e participação de 25% no mercado global de saúde animal, que em 2008 movimentou US$ 19 bilhões.
A estratégia das empresas de criar um grupo global tem como um dos seus focos o mercado do Brasil. O que está em jogo é a maior fatia de um segmento que movimentou no ano passado quase R$ 3 bilhões, mas que apresenta um dos maiores potenciais de crescimento entre os países produtores de carnes e já é quase 10% do mercado veterinário mundial. No Brasil, a nova empresa passa a ter pouco mais de 20% do mercado.
Com o maior rebanho bovino comercial do mundo, líder nas exportações de carne bovina e de frango e com uma rápida expansão de sua suinocultura, a expectativa é de que o mercado veterinário do Brasil cresça entre 7% e 10% nos próximos anos, mantendo o ritmo médio de 7,5% registrado entre 2002 e 2009, segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan).
As atenções para o Brasil não são por acaso. Em recente entrevista ao Valor, o diretor-presidente da Intervet/Schering-Plough do Brasil, Vilson Simon, que assumiu o posto no fim de janeiro deste ano, disse que o país é o segundo maior mercado para o grupo, atrás apenas dos Estados Unidos. As vendas no Brasil representam, sozinhas, 10% do faturamento global da Intervet/Schering-Plough, que em 2008 foi de US$ 2,8 bilhões.
Para destacar a importância que o Brasil passou a ter para o grupo, Alfredo Ihde, presidente da Merial para o Cone Sul afirmou, também em recente entrevista a este jornal, que mesmo em um ano de crise, o desempenho dos negócios no Brasil superou as expectativas. A empresa fechou 2009 com faturamento de R$ 300 milhões, crescimento de 12,7% ante o ano anterior e bem acima da média do mercado.
Procurados ontem para comentar a operação em âmbito global, nenhum dos dois executivos falou sobre o assunto.
Estimativas do mercado colocam o novo grupo como líder nacional no mercado veterinário, superando a americana Pfizer. A empresa havia assumido a primeira colocação no Brasil depois de ter comprado em janeiro a concorrente Wyeth . Essa aquisição trouxe para a Pfizer a Fort Dodge, o que acabou reforçando o segmento de saúde animal da empresa, mas que ocupa agora a segunda colocação no país.
Mas a joint venture vai além das apostas no mercado brasileiro. A fusão dos negócios entre as duas empresas era algo esperado pelo mercado já que a Merck detinha até 2009 metade do controle da Merial. Essa participação, no entanto, foi vendida para sua sócia, a Sanofi, que tinha os outros 50%, quando a empresa americana comprou globalmente os negócios da Intervet/Schering-Plough. A aquisição tinha como objetivo principal o segmento farmacêutico da Intervet, mas acabou envolvendo também todo o braço veterinário da empresa.
Como Intervet e Merial têm até hoje uma grande linha de produtos veterinários, líderes em seus respectivos segmentos, a participação da Merck no segmento de saúde animal passaria a ser muito grande. Com receio de que as agências reguladoras vetassem toda a compra da Intervet, incluindo a vedete farmacêutica, a Merck decidiu vender, em junho do ano passado, sua participação na Merial para a Sanofi, que passou a controlar 100% da empresa.
O acordo de venda da Merial incluía, no entanto, uma cláusula que dava à Sanofi a opção de se associar à Intervet. Foi exatamente essa a opção exercida pela empresa ontem e que criou o maior grupo veterinário do mundo. Com isso, Merck e Sanofi voltam a ser sócias no segmento veterinário, detendo cada uma 50% do controle da nova empresa que se forma.
A sociedade passa a controlar uma fatia de US$ 4,8 bilhões de um mercado que movimentou em 2008 expressivos US$ 19 bilhões e tem perspectiva de crescer em média 5% ao ano durante os próximos cinco anos. Nesse setor, os produtos para animais de companhia representam cerca de 40% das vendas totais, enquanto os animais de produção – avicultura, suinocultura, bovinocultura, piscicultura e outros – participam com 60%. É nestes últimos em que o Brasil tem o maior destaque.
Toda a estratégia e a constituição da companhia ainda estão sujeitas a acertos finais e aprovação das autoridades americanas, europeias e dos países onde as empresas estão presentes. A expectativa é de que todo o processo esteja concluído nos próximos 12 meses.
"Estou convencido de que, juntos, constituiremos uma companhia com alto valor agregado, que trará melhor e mais ampla oferta nos mercados pet e de animais de produção. Esse negócio representa outra consistente iniciativa em nossa estratégia de diversificação para proporcionar crescimento sustentável à Sanofi-Aventis", disse em nota Christopher A. Viehbacher, CEO da Sanofi-Aventis.
Do lado da Merck, Richard T. Clark, CEO e presidente da empresa disse que "a nova empresa conta com uma rede muito atrativa de tecnologias globais e conhecimento para oferecer soluções em saúde animal com base nas necessidades dos clientes, as quais variam de acordo com as regiões do planeta".