CFMV reúne orientações sobre a varíola dos macacos

03/06/2022 – Atualizado em 30/10/2022 – 9:00pm

Desde maio deste ano, a saúde pública mundial está em alerta com a transmissão da doença zoonótica conhecida como varíola dos macacos, causada pelo vírus Monkeypox, do gênero Orthopoxvirus e família Poxviridae. Comumente encontrado nas florestas tropicais da África Ocidental e Central, o vírus ocasionalmente pode ser identificado fora dessas regiões em pessoas que viajaram para as áreas onde ele é endêmico. Em nota técnica, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) destaca que, apesar do cenário geográfico sugerir uma transmissão em andamento, “nenhum óbito associado foi relatado até o momento”.

De acordo com a Anvisa, as ações imediatas para impedir uma maior disseminação se concentram em orientar com informações precisas aqueles que podem estar em maior risco de infecção, que são os indivíduos que tiveram contato físico próximo com pessoas sintomáticas, principalmente os profissionais de saúde.

A orientação do órgão máximo de Vigilância Sanitária do país vai ao encontro do informativo da Sociedade Brasileira de Primatologia (SBPr) de que o surto atual tem “ocorrido de pessoas para pessoas (transmissão comunitária de humano-humano), sendo essa forma de contágio o fator relevante para o estabelecimento de medidas de controle”.

Esse é o intuito da nota publicada pela Anvisa, em 31 de maio de 2022, e atualizada em 2 de junho. Com o conhecimento disponível até o momento, passível de atualizações quando novas evidências forem identificadas, a agência apresenta um plano de contingência para orientar os serviços de assistência à saúde sobre as medidas de prevenção, preparação e resposta. Para a Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária, do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CNSVP/CFMV), é essencial a vigilância ativa e o rastreamento de casos suspeitos e seus contatos.

O Ministério da Saúde, a partir da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS), ativou a Sala de Situação de Monkeypox, que monitora a investigação dos casos e elabora documentos técnicos para subsidiar possíveis ocorrências. O monitoramento visa alertar o Sistema Único de Saúde (SUS) e a população com informações rápidas e fidedignas sobre medidas de proteção e controle.

A Sala de Situação tem o caráter de alertar os profissionais de saúde de rede privada ou pública sobre a notificação obrigatória e imediata, em até 24 horas, de casos suspeitos às autoridades de saúde pública e vigilância, conforme disposto na Portaria GM/MS nº 1.102, de 13 de maio de 2022. ATUALIZAÇÃO DE CASOS: No dia 9 de junho, a SVS publicou o Informe nº 18 com a confirmação do primeiro caso no Brasil, na cidade de São Paulo, e o mapa da situação epidemiológica no país.

Em nota publicada em seu site, a Sociedade Brasileira de Virologia (SBV) afirma que os casos registrados até o momento são brandos e sem letalidade associada. De acordo com a entidade, a possibilidade de uma pandemia causada pelo Monkeypox é baixa, pois o vírus não é transmitido tão facilmente como o SARS-CoV2, causador da covid-19. “A infecção acontece pelo contato próximo com pessoas infectadas, através de fluidos orgânicos contaminados, principalmente originados das lesões cutâneas. Não há indicação da transmissão respiratória, como acontecia com o vírus causador da varíola”, explica a instituição.

Veterinários, médicos com V de vida

O CFMV recomenda que os médicos-veterinários, como profissionais de saúde pública, estejam atentos aos casos suspeitos e preparados para reforçar a prevenção e o controle da transmissão do Monkeypox nas unidades de saúde públicas, privadas e seus respectivos territórios, bem como em estabelecimentos veterinários.

Apesar de, até o momento, não haver nenhum caso notificado em animais, a Comissão Nacional de Animais Selvagens (CNAS/CFMV) alerta os profissionais da área da Medicina Veterinária de silvestres que os roedores são considerados os mais suscetíveis ao vírus, mas que não apresentam sintomas clínicos, como ocorre nos primatas. A recomendação é de que os médicos-veterinários redobrem os cuidados nos atendimentos, utilizando sempre equipamento de proteção individual (luvas, máscaras e roupas de proteção descartáveis), a fim de evitar uma possível disseminação do vírus.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza que os profissionais de saúde estejam atentos ao aparecimento de pacientes que apresentem erupção cutânea atípica que progride em estágios sequenciais de máculas, pápulas, vesículas, pústulas, crostas frequentemente associadas a febre, linfadenopatia e mialgia.

Nos animais, a Associação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens (Abravas) explica que os sinais clínicos são: febre, conjuntivite, secreção ocular, perda de apetite, tosse, espirros, ruído respiratório, lesões cutâneas, prurido, linfonodos palpáveis e irritação na pele. Dependendo da dose infectante, alguns animais podem ser assintomáticos e, em macacos e grandes símios, podem ocorrer erupções cutâneas.

A associação destaca que muitos mamíferos selvagens podem ser suscetíveis ao vírus, como esquilos, ratos gambianos, arganazes, primatas não humanos, entre outros. Até o momento, a Abravas informa que não há evidências documentadas da doença em animais domésticos, como gatos, cães e gado bovino. A prevenção sugerida pela entidade é o isolamento dos animais ou de pessoas doentes e práticas de higienização correta e frequente das mãos.

Ao atender um caso suspeito, além dos EPIs, a Abravas recomenda ao médico-veterinário:

  1. Descartar adequadamente o lixo infectante e todo o material utilizado nos cuidados com os doentes;
  2. Limpar as superfícies com desinfetante de propriedade detergente e de uso hospitalar, preparado de acordo com as recomendações do fabricante;
  3. Lavar as roupas contaminadas com água quente e detergente, sem sacudir ou manusear de forma que possa dispersar as partículas virais;
  4. Assegurar uma boa coordenação e comunicação entre os serviços de vida selvagem, os serviços veterinários e os serviços de saúde pública;
  5. Coletar amostras para testar a presença de vírus ou evidência de exposição ao vírus em laboratório de referência oficial (amostras utilizadas para diagnóstico da doença: swab das lesões, escaras, conjuntivais e secreções orais e nasais, e sangue);
  6. Notificar o caso suspeito à SVS/MS;
  7. Notificar a Organização Mundial da Saúde Animal (OIE), por e-mail para information.dept@oie.int. 

Cuidem dos primatas

Apesar de ser uma zoonose viral, transmitida aos seres humanos a partir de animais, a SBPr esclarece que, nos casos relatados até o momento, não foi possível identificar um animal ou local de origem da transmissão do agente causador da doença, tampouco foi possível identificar o animal considerado reservatório na natureza, aquele que carrega o vírus sem apresentar sintomas clínicos.

A sociedade alerta que, apesar de “o vírus receber a nomenclatura de varíola dos macacos, o atual surto não tem a participação dos animais na transmissão para seres humanos”. Segundo a SBPr, até o momento, os casos notificados às “agências de saúde no mundo foram atribuídos à contaminação por transmissão entre pessoas”.

O CFMV, com o respaldo das suas Comissões Nacionais de Animais Selvagens (CNAS) e de Saúde Pública Veterinária (CNSPV), ratifica o informativo da SBPr sobre a importância da conservação das espécies para a proteção da saúde humana.

“Os macacos (primatas não-humanos) não são os “vilões”, e sim vítimas como nós (humanos), e não devem sofrer nenhuma retaliação, tais como agressões, mortes, afugentamento, ou quaisquer tipos de maus-tratos por parte da população. Muitas vezes os primatas adoecem antes e isto nos alerta antecipadamente sobre a presença do patógeno causador de uma doença que pode causar impacto sobre a saúde das pessoas. Ou seja, os macacos servem como animais sentinela sobre o risco de estarmos expostos a potenciais agentes causadores de doenças. Eles fazem parte da nossa biodiversidade, têm importante papel na manutenção das florestas e contribuem com a manutenção da saúde ambiental e humana”, defende a SBPr.

Estudos observados pela CNAS indicam que o vírus teve origem em roedores silvestres e esquilos no continente africano. No entanto, os primeiros casos notificados da doença foram em macacos, o que levou a denominação infeliz da doença, uma vez que os animais são tão vítimas quantos os humanos.

Em casos da observação de qualquer animal silvestre próximo à sua localidade ou para quem cria um animal, mesmo que de origem ilegal, e está com receio de ser infectado, as orientações são:

  1. Nunca solte na natureza;
  2. Acione os órgãos ambientais competentes, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ou o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), para que o animal seja adequadamente resgatado;
  3. Avise aos órgãos de saúde do seu estado ou município, caso aviste algum macaco doente ou morto.

Veja a íntegra das notas da:

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)

– AAssociação Brasileira de Veterinários de Animais Selvagens (Abravas)

Sociedade Brasileira de Primatologia (SBPr)

Sociedade Brasileira de Virologia (SBV)

– Acesse também a Sala de Situação, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS), com a atualização dos casos no Brasil

Conselho Federal de Medicina Veterinária