Capes
15/09/2010 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:25am
Os futuros mestres e doutores brasileiros ainda recebem formação em programas que não atendem um padrão mínimo de qualidade. No Brasil, 85 dos 4.099 cursos avaliados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) não alcançaram a nota mínima 3, que indica um desempenho regular. As notas foram calculadas para o triênio 2007-2009 e divulgadas ontem.
Os cursos que tiraram as notas 1 e 2 — ou seja, que não receberam a recomendação da Capes e, como consequência, podem não ser autorizados pelo Ministério da Educação (MEC) — integram 75 áreas do conhecimento. Se considerados as 2.718 áreas avaliadas, eles representam 2,7% do total. De acordo com a assessoria de imprensa da Capes, a proporção de cursos abaixo do desempenho regular era um ponto percentual menor no triênio anterior, correspondendo a 1,7%.
A Capes, no entanto, reforça a comparação das notas obtidas pelos cursos no triênio avaliado. De acordo com a fundação, 71% dos cursos mantiveram suas notas, 19% aumentaram e 10% diminuíram. Os cursos são avaliados de acordo com a seguinte escala: 1 e 2 reprovam o programa; 3 corresponde a um desempenho regular, atendendo ao padrão mínimo de qualidade; 4 equivale a um bom desempenho; 5 é considerado um nível muito bom; 6 e 7, um desempenho equivalente ao alto padrão internacional. Para a avaliação, são considerados cinco eixos: a proposta do programa, o corpo docente, o corpo discente (teses e dissertações produzidas pelos alunos), a produção intelectual e a inserção social (impacto e integração com outros centros de pesquisa).
Na avaliação do presidente da Capes, Jorge Almeida Guimarães, a pós-graduação do país está em crescente melhoria. “O número de doutores no Brasil é de apenas um décimo em relação ao que o país precisaria. Mas o sistema universitário brasileiro é muito jovem e o que percebemos é que as instituições, em geral, estão se aperfeiçoando. Buscam o melhor desempenho até pelas consequências positivas que esse resultado agrega a elas”, afirma. O número total de discentes formados nesse triênio é de 139.736, dos quais 99.645 conquistaram título em mestrado acadêmico; 32.005, em doutorado, e 8.086, em mestrado profissional.
Em relação à quantidade de cursos avaliados pela Capes, esse número cresceu 20,8%, se comparado ao da avaliação envolvendo os anos de 2004 a 2006. A Região Norte aparece com maior crescimento de cursos avaliados em relação ao ano de 2007, com 35,3%. Em seguida, vêm as regiões Nordeste, 31,3%; Centro-Oeste, 29,8%; Sul, 24,2% e, por último, a Região Sudeste, com 14,9%. O Sudeste ainda é a área do país com o maior número de cursos (2.190), representando 53,4% do total. O Sul representa 19,8%, com 810 cursos. O Nordeste, 16,4% (672 cursos); o Centro-Oeste, 6,6% (270 cursos), e a Região Norte 3,8% (157 cursos).
Centro-Oeste
Na Região Centro-Oeste, 135 cursos estão no Distrito Federal. Apesar de representar a metade desses cursos, o DF foi o local em que menos cresceu o número de cursos em pós-graduação (19,5%). A unidade federativa com maior avanço foi o Mato Grosso, com 52,9%. Em segundo lugar está o Mato Grosso do Sul, com 46,2%, seguido de Goiás (36,5%).
No Distrito Federal, apenas um programa conquistou a maior nota da avaliação: o de antropologia ministrado pela Universidade de Brasília. É a segunda vez seguida em que o programa é o único a conquistar a nota na avaliação trienal. O doutor Luis Cayón, recém-formado no curso, garante a qualidade: “Eu vim da Colômbia para a UnB justamente para reforçar a minha formação. Quando me encontro com amigos que foram estudar em centros renomados dos Estados Unidos, da França e da Inglaterra, descobrimos que estamos lendo as mesmas coisas”, conta.
O coordenador da pós-graduação em Antropologia da UnB, José Pimenta, reforça que um dos motivos para a boa classificação do programa é a união entre as diversas gerações presentes no curso. “Os professores aposentados incentivam os atuais professores, com o conhecimento e o incentivo à produção de conteúdos para serem publicados nas melhores revistas acadêmicas do mundo”, revela.
Qualidade na publicação
O Brasil ocupa a 13ª posição mundial em relação à produção de conhecimento, de acordo com o Institute for Scientific Information (ISI), da Thomson Reuters Corporation. O dado foi apontado pelo presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Jorge Almeida Guimarães, como um dos indícios da melhoria dos cursos de pós-graduação do Brasil. “Mais de 90% da produção científica brasileira vem da pós-graduação. E quando consideramos o desempenho científico, tivemos uma melhoria considerável”, afirma.
O mesmo instituto aponta que, entre os 30 países que mais produzem no mundo, o Brasil ocupa a 22ª posição em relação à qualidade dessas publicações. Para medir isso, é considerada a quantidade de citações de um artigo dois anos depois de ele ter sido publicado. De acordo com a avaliação trienal da Capes, o Brasil teve 307.149 artigos publicados em periódicos técnico-científicos. Desses, apenas 23.092 integraram as melhores publicações do mundo.
“Precisamos dar mais visibilidade à produção brasileira feita a partir da inserção de boas publicações, ou da melhoria de nossas atuais publicações, que devem ser compostas de um corpo editorial rigoroso, regularidade, e textos com tradução em inglês”, aponta Guimarães. (LL)