Bem-Estar

30/05/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:10am

Quase dois mil profissionais já foram treinados pelo Programa Nacional de abate Humanitário para difundir práticas corretas de manejo e prover qualidade de vida aos animais criados em solo brasileiro

A discussão em torno da necessidade de matar animais para que o homem consuma sua carne está longe de se esgotar na preocupação com o bem-estar dos bichos que serão abatidos. Entretanto, é preciso levar em conta que as pessoas estão ainda mais distantes de abandonar o consumo de carne e que a indústria agropecuária é um dos pilares da economia mundial. Por isso, é necessário avaliar o contexto atual com realismo.

– Todo animal é um ser senciente, ou seja, ele tem capacidade de sentir dor. Tem pessoas que acham que um animal de produção é diferente de um gato ou de um cachorro, mas não é. Estamos falando de seres vivos – afirma Charli Lüdtke, gerente de animais de produção da Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA Brasil).

Desde 2008, Charli coordena o Programa Nacional de abate Humanitário (Steps), uma parceria da WSPA Brasil com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) que promove cursos de capacitação para fiscais agropecuários e profissionais que atuam em frigoríficos. A ideia do programa é difundir as práticas corretas de manejo e abate, considerando as diretrizes da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) e da União Europeia (confira ao lado) – quase dois mil profissionais já foram treinados. Acima da preocupação com a qualidade da carne está a intenção ética de prover qualidade de vida aos bichos.

– O que queremos é um manejo profissional. A interação do homem com os animais e as instalações têm de ser harmoniosa. E isso vai da propriedade até o frigorífico – diz Charli.

Os frigoríficos brasileiros têm de cumprir uma instrução normativa que tornou obrigatórios os procedimentos de abate humanitário desde 2000. Conforme a zootecnista Andrea Parrilla, chefe da Divisão de Bovideocultura e coordenadora da Comissão Permanente de Bem-estar Animal do Mapa, as grandes empresas obedecem a padrões internacionais, mas matadouros menores têm dificuldade de seguir a lei pelos custos de equipamentos. Dados da Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA) dão conta de que o percentual de abates clandestinos é grande no país, variando entre 30% e 50% do total, dependendo da região.

Coordenador corporativo de Bem-estar Animal do grupo Marfrig, Stavros Tseimazides revela que o cuidado durante o processo de abate é viável financeiramente para as empresas. Após uma consultoria externa em 2004, o grupo intensificou ações para garantir o bem-estar dos animais nas últimas horas de vida.

– Quando o animal está muito estressado, a carne fica escura, dura e seca. A carne de um animal bem tratado é de melhor qualidade, de um padrão melhor – explica Tseimazides.