Aves

15/02/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:44am

Em Foz do Iguaçu, no Paraná, a intenção é garantir a reprodução.
Biólogos descobriram que a espécie gosta de privacidade.
Um projeto de criação de harpias em cativeiro, desenvolvido em Foz do Iguaçu, no Paraná, aposta no isolamento das aves para garantir a reprodução. Depois de anos tentando várias técnicas, os biólogos descobriram que a espécie gosta mesmo é de privacidade.

A ave que tem as garras mais poderosas do mundo não resistiu à destruição das áreas de floresta e à caça. A harpia está ameaçada de extinção no Brasil. Em áreas gigantescas como o Parque Nacional do Iguaçu, não há registros de uma ave dessas em vida livre há pelo menos 20 anos.

A sobrevivência da espécie depende de projetos de criação em cativeiros, como o que é desenvolvido no Refúgio Biológico da Itaipu, em Foz do Iguaçu, no Paraná. No ano de 2000, policiais levaram para lá um macho de harpia que estava em uma caixa de papelão abandonada em um bairro da cidade. Dois anos depois chegou a fêmea, vinda de um zoológico de Brasília. Foram três anos de paquera de longe até que os dois pudessem ficar juntos no mesmo recinto. Logo depois vieram os primeiros ovos e os filhotes, que não resistiram por muitos dias. Até que em 2009, os biólogos decidiram criar os recém-nascidos fora dos recintos e a família das harpias começou a crescer.

Já são cinco filhotes nascidos, o último chegou há um mês e depende da dedicação constante do biólogo Marcos de Oliveira para ganhar peso. Mas tanta aproximação, às vezes, exige certo distanciamento. “Para ele, quem dá comida é o pai ou a mãe. Ele pode confundir um humano como o pai ou a mãe e depois não vai reconhecer o par sexual, um potencial reprodutivo”, explicou Marcos.

A partir daí, o isolamento é o que garante o sucesso da reprodução. Quando crescem um pouco mais, as harpias são levadas para viveiros isolados com placas de madeira. É preciso afastá-las de qualquer contato com humano para que a vida do lado de dentro do recinto seja, pelo menos, parecida com a rotina na selva. “O problema das aves de rapina, em geral, é que são muitos visuais, então tudo o que enxergam, tem alguma influência, que pode ser negativa, como no caso reprodutivo”.

Só dá para saber o que acontece lá dentro espiando pelas frestas dos viveiros ou assistindo às imagens feitas pelos biólogos. Fechadas, as harpias concentram-se na convivência e na reprodução. Há quem consiga saber o que se passa ali dentro apenas pelo som. Dirceu Soares é tratador e tem um carinho tão especial pelas harpias, que a impressão que dá é que as aves sabem disso. Ele sabe quando a harpia fêmea está piando para o macho, quando o macho muda o som para defender a fêmea e quando eles piam baixinho por causa do filhote.

O projeto de reprodução das harpias não prevê que as aves permaneçam isoladas por muito tempo. “Nós imitamos o que faz, por exemplo, o projeto Condor, na Argentina. Eles criaram os filhotes e já estão soltando na natureza. Acompanhando o filhote desde a choca do ovo até a liberação, eles trazem junto uma pena dos pais e quando são liberados, essa pena é solta ao vento. Nós esperamos que a gente consiga soltar muitas penas ao vento no dia que a gente consiga colocar este animal de volta na natureza”, contou Wanderlei de Moraes, coordenador do projeto.