AVES

13/11/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:10am

País vive auge de migração de Aves. Ponto de encontro reúne 500 milhões de animais no Lago do Hula, que passam em sua rota de fuga em busca de terras mais quentes no Sul

O guia dá a dica: "Coloquem as mãos atrás das orelhas em forma de concha". O gesto ajuda a escutar o burburinho das Aves que se concentram no Lago do Hula, no extremo Norte de Israel. A cacofonia se intensifica ao mesmo tempo que bandos de espécies distintas sobrevoam em círculos o trator que leva os turistas. O veículo é camuflado para não afugentar os pássaros e, dentro dele, os visitantes presenciam um dos maiores espetáculos da natureza: a migração anual de cerca de 500 milhões de Aves, que passam pelo país em sua rota de fuga do rigoroso inverno, no Hemisfério Norte, em busca de terras mais quentes, no Hemisfério Sul.

Israel, que fica na interseção entre África, Ásia e Europa, é uma espécie de "casa" para 260 espécies de Aves. Esse número chega a 540 espécies no período de migração – que também acontece, no sentido contrário, durante a primavera. O país já é apontado como a meca dos ornitólogos e, segundo a revista BBC Wildlife, o 9º melhor lugar do mundo para tirar fotos de pássaros.

– Esse grande número de espécies num país tão pequeno quanto Israel é incrível.

Pense que no Brasil há algo em torno de 1.600 espécies – discorre o ornitólogo, fotógrafo e guia turístico Lior Kislev, de 42 anos, amante de pássaros desde a infância.

Kislev define Israel como uma "autoestrada de pássaros", já que fica no cerne da Fenda SírioAfricana – uma depressão geológica de 7,2 mil quilômetros, que se estende da Turquia até Moçambique, formando um corredor entre os hemisférios Norte e o Sul. Não bastasse isso, o país é dotado de pântanos e desertos separados por poucos quilômetros, o que agrada a Aves de diferentes origens: europeias, asiáticas e africanas.

O Lago do Hula é o ponto de encontro das Aves migratórias. É lá, entre as montanhas da Alta Galileia e das Colinas do Golã, que pelicanos, flamingos, corujas, estorninhos, cartaxos, garças, mergulhões, patos, falcões e outras 25 espécies de Aves de rapina sobrevoam a região e aterrissam como se estivessem pagando uma espécie de pedágio natural. Entre os pássaros mais raros estão espécies da Europa, como a águia-gritadeira, a águia-imperial- oriental e o bútio-rabo-canela. Aves locais, como o francolim negro e o cormorão, também dão as caras nessa festa ornitológica Começou no último domingo o segundo Festival Internacional do Pássaro do Vale do Hula, que termina dia 18.

– Nossa localização geográfica pode ser um desastre político, mas é um paraíso para os amantes de Aves – diz o professor Yossi Leshem, da Universidade de Tel Aviv, uma das maiores autoridades no estudo de Aves, em Israel, e fundador do Centro Internacional para o Estudo da Migração de Pássaros de Latrun. – Há 100 milhões de apreciadores de Aves no mundo. Mas o número de curiosos é muitas vezes maior. Os turistas que visitam o Lago do Hula e outros pontos da migração adoram o fato de que podem clicar os pássaros como se fossem fotógrafos profissionais da revista "National Geographic".

A rota de uma das mais importantes migrações de Aves do planeta é sempre a mesma.

As Aves percorrem milhares de quilômetros e, sem erro, optam por descansar e buscar comida em pontos específicos de Israel, como o Monte Carmelo (Norte), as montanhas no entorno de Jerusalém (Centro) e o deserto do Negev (Sul). Os pássaros voam em bandos, levados apenas pelo instinto que guia gerações anteriores há centenas de milhares de anos. A migração acontece em geral à noite. As Aves voam usando o reservatório de gordura que acumularam nos corpos nos meses que antecedem o outono. Justamente por isso é que, antes de chegarem ao destino final, sempre param para se "reabastecer".

Além dos pássaros, milhões de borboletas também colorem os céus de Israel em migração em destino ao Sul. Uma das espécies é a monarca africana, que tem frequentado o Lago do Hula nos últimos anos graças a um recente reflorestamento no local.

– A espécie tinha abandonado a região há 50 anos, quando os israelenses, nos primeiros anos após a criação do país, acreditavam que o Estado judeu só conseguiria se desenvolver através da secagem de todos os seus pântanos.

Eles temiam a malária e outras doenças – conta Inbar Rubin, diretora de conteúdo e de passeios guiados da Reserva do Hula.

Mas os temores e os esforços desenvolvimentistas desses precursores, típicos dos anos 50, que, no Brasil, ficou conhecido pelo lema "50 anos em 5", causaram uma mudança drástica no ecossistema regional. Nos anos 90, os israelenses tentaram consertar o erro inundando a região – a esperança era reparar o dano causado pela drenagem. Sementes de plantas típicas que tinham sido preservadas foram replantadas. O resultado é a volta de espécimes a seu habitat natural.