Aumento da cota
25/03/2010 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:27am
A União Europeia (UE) sinalizou ao Mercosul que só poderia dar a metade das cotas para três produtos de especial interesse do bloco: carnes bovina e de frango e também alho. A outra metade ficaria para as negociações da Rodada Doha, na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Em março de 2006, o Mercosul tinha pedido cota, com tarifa menor, de 300 mil toneladas de carne bovina, 250 mil toneladas para carne de frango e 20 mil toneladas para alho. E a posição europeia de insistir em combinar concessões nas rodadas birregional e multilateral, pagando à prestação o que vai ganhar em retorno, deixou frustrados certos negociadores.
O setor privado brasileiro advertiu ontem o Itamaraty para cobrar mais concessões dos europeus. Ele estima que hoje o acesso ao mercado brasileiro, em plena expansão econômica, vale bem mais que o combalido mercado europeu. O maior interesse hoje é de empresas europeias em fechar um acordo. O mercado automotivo brasileiro, por exemplo, é um dos maiores do mundo e os europeus só têm a ganhar com a abertura, avaliam representantes do setor privado.
Os europeus continuam cobrando melhoras na oferta do Mercosul. Também insinuaram que gostariam de um acordo de livre comércio nos moldes do que Bruxelas negociou recentemente com Peru e Colômbia, com o qual conseguiu uma abertura significativa. Essa possibilidade já foi descartada.
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, passou a cobrar publicamente ofertas boas da UE, argumentando que o Mercosul melhorou sua oferta.
Representantes de segmentos industriais que acompanham a negociação não acreditam em uma proposta imediata da UE que possa ser considerada interessante para o Mercosul.
O assunto foi discutido ontem, em São Paulo, em reunião da Coalização Empresarial Brasileira (CEB). No encontro, representantes de vários segmentos ouviram o relato sobre o andamento das negociações do chefe do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty, Evandro Didonet.
O que há de novo é que o Brasil está mais interessante politicamente e que o Brasil e a Argentina estão muito mais alinhados com o objetivo de fazer um acordo, diz um dos participantes da reunião. O lado europeu ainda continua difícil. Pelo que estamos acompanhando, a UE não sinaliza com mais ofertas ou não está sendo mais positiva talvez em função da situação economicamente difícil de seus países.
Segundo a fonte, as entidades que representam os diversos segmentos industriais têm dado apoio ao acordo, mesmo com o impacto que a eliminação de tarifas pode ter na produção nacional de bens. A preocupação, diz, é que a oferta da União Europeia em relação às barreiras para produtos agrícolas não seja boa o suficiente para retribuir as facilidades propostas pelo Mercosul. Há uma sensação de que já passamos por um estágio de negociação muito parecido com esse. O aspecto positivo é que os europeus nunca deixaram essa negociação apagar de vez, conclui.
Para outro participante da reunião, a reação da União Europeia não gera expectativa de um acordo a ser fechado até o fim deste ano. A UE continua com a mesma posição de 2004, quando as negociações pararam: ou demandando mais ou oferecendo menos. A mudança pela qual o Brasil passou, diz um representante do setor privado, não está sendo levada em consideração pelos europeus. A sensação generalizada é que hoje o país é mais interessante do que era em 2004, com crescimento praticamente constante, entre os maiores produtores de veículos do mundo. O mesmo não aconteceu com a União Europeia, que está sofrendo com o enfraquecimento de algumas economias e o problema fiscal da Grécia, por exemplo. Isso, porém, parece que não está sendo levado em consideração na elaboração de uma proposta pela outra parte, diz.