arnica

13/06/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:10am

Muitos brasileiros já recorreram, em algum momento da vida, àquele líquido de cheiro característico, guardado em uma garrafa tampada no armário, como os avós ensinaram. O extrato da arnica embebida em álcool e água é considerado quase “milagroso” para tratar dores e inflamações, assim como pomadas e óleos feitos com a planta, do gênero Lychnophora, conhecida como arnica brasileira. Engana-se quem imagina tratar-se apenas de crendice da medicina popular. O tratamento fitoterápico, da maneira tópica usada pela população, teve sua eficácia comprovada por pesquisas realizadas na Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), mas é preciso estar atento ao uso indiscriminado da planta, especialmente no que se refere à ingestão das folhas imersas em bebidas.

A arnica brasileira tem 60 espécies catalogadas e é característica de campos rupestres, com ocorrência principalmente no Cerrado de Minas Gerais, Bahia e Goiás. O uso popular da planta começou com a chegada dos imigrantes europeus ao país. Eles procuraram a Arnica montana, típica do Velho Mundo — com a qual faziam chás e infusões desde a Idade Média —, mas não encontraram. Atraídos pelo odor semelhante do óleo essencial de uma planta, descobriram a Lychnophora, que é da mesma família da Arnica montana (a Asteraceae), e passaram a utilizá-la com os mesmos objetivos terapêuticos, porque as classes de substâncias responsáveis pelos efeitos da planta europeia são as mesmas da brasileira.

Do total de espécies de arnica brasileira existentes, as quatro mais usadas e disseminadas pela população são estudadas por uma equipe formada por 10 pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas (CiPharma) da Ufop, financiada pela Fapemif, pelo CNPq e pela Capes. Entre os quesitos avaliados pelo grupo — por meio de experimentos in vitro e in vivo (testes de inibição enzimática, em culturas celulares e em camundongos e ratos) — estão, além das propriedades terapêuticas creditadas à planta, a identificação dos princípios ativos, o nível de toxidade, a estabilidade do extrato (ou seja, quanto tempo ele permanece ativo) e a metodologia para controlar a qualidade da substância. São informações imprescindíveis para que os estudos possam avançar e, futuramente, gerar o desenvolvimento de fitoterápicos.

Uso popular
De acordo com Dênia Antunes Saúde Guimarães, professora de farmacognosia e fitoterapia da Ufop e coordenadora da pesquisa, a mesma forma de preparo do extrato realizada pela população é reproduzida nos estudos, como a imersão da planta em álcool comercial. “Existem muitas espécies de arnica brasileira e a nossa preocupação era saber se a população saberia diferenciá-las, por serem bem parecidas, e se tinham as mesmas propriedades.” Entre as espécies comparadas, concluiu-se que algumas têm maior poder analgésico, em outras, sobressai o efeito anti-inflamatório e há também as que concentram os dois.

A pesquisadora explica que foram induzidas inflamações, dores e feridas em animais e, depois, realizou-se o tratamento com o extrato. “As atividades anti-inflamatória, analgésica e cicatrizante mostraram-se excelentes no uso tópico”, afirma Dênia. Outra forma de uso, com a arnica embebida na cachaça, motivou a avaliação da toxicidade do extrato da planta. Dessa forma, ele mostrou-se nocivo, principalmente aos rins e ao fígado. “Avaliamos a toxicidade aguda (curto prazo) do extrato pela administração por via oral nos camundongos e analisamos os órgãos posteriormente.” Apesar desse resultado, são necessárias outras avaliações para confirmar a toxicidade por via oral.

Existem alguns medicamentos homeopáticos feitos com arnica europeia (Arnica montana) diluída para uso oral, mas, de acordo com a pesquisadora Neila Márcia Silva Barcellos, que faz parte do grupo da Ufop, a diferença de concentração é grande. Segundo Neila, existem algumas pesquisas sobre o uso homeopático da arnica europeia. “O conceito da alopatia é muito distinto do da homeopatia, para a qual quanto mais diluído e energizado o medicamento, maior a sua potência. Na alopatia, a concentração é maior e o uso interno da arnica não é indicado.”

O poder da arnica brasileira

A planta é indicada para:

» dores reumáticas
» contusões
» cortes
» coceiras
» picadas de insetos

Age como uma substância:
» analgésica
» anti-inflamatória
» antirreumática
» antimicrobiana
» cicatrizante

Modo de preparo do extrato:
» O preparado deve ter um litro de álcool e um de água (nunca álcool puro). As folhas devem ficar embebidas na mistura por, no mínimo, uma semana. O líquido deve ser passado sobre a pele para tratar inflamação, dor, hematomas e picadas de insetos