ameaça

25/07/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:43am

Colado na cotação da bolsa de Chicago, o preço do milho brasileiro não está respondendo aos resultados da boa safra. As notícias de quebra da produção nos Estados Unidos, maior produtor mundial do grão, fizeram a cotação do grão disparar bem à beira de uma colheita recorde. As estimativas do mercado futuro elevaram o preço do milho, base da ração animal. A saca saltou de R$ 18 para R$ 26, alta de 30% no intervalo de 15 dias, acendendo a luz vermelha para a Avicultura, que continua recebendo pelo produto preços abaixo do custo de produção. Na outra ponta, o consumidor não sentiu fortes quedas no custo do frango. Segundo levantamento do Mercado Mineiro, em julho o preço médio do quilo da ave resfriada se manteve estável nos frigoríficos em R$ 3,37, valor que pode ser pressionado pela alta de preços no cenário internacional. As granjas, que já amargavam alta superior a 70% na tonelada do farelo de soja apurada entre janeiro e julho, viram o custo bater no teto. Com as previsões de produtividade da safra americana caindo a cada semana, avicultores entregaram ontem ao Ministério da Agricultura uma pauta onde reivindicam medidas de proteção ao setor, entre elas o monitoramento das exportações. Com o aumento do consumo, principalmente em países asiáticos, e os olhos dos compradores mundiais voltados para o Brasil, o receio é que o grão saia do país para abastecer outros mercados, encarecendo ainda mais a produção doméstica e os preços para o consumidor."Com a notícia de quebra de safra nos Estados Unidos, os navios se deslocam para o Brasil", afrima Antônio Carlos Vasconcelos, presidente da Associação dos Avicultores de Minas Gerais (Avimig). Segundo ele, se somado o frete, a saca de milho estava chegando na porta da fábrica por até R$ 21 no fim de junho. Na segunda-feira, o preço já atingia R$ 32, alta de 50%. No estado, a cadeia da Avicultura é responsável por gerar 50 mil empregos diretos e o desaquecimento do setor não é boa notícia, já que pode levar a uma redução da oferta. "Além de alta nos preços, a queda da oferta pode provocar inflação e desemprego."O último informativo do USDA (Departamento de Agricultura Americano) revisou para baixo a produtividade da safra de milho, de 174 sacas por hectare para 158 sacas por hectare. Como o milho tem formação de preços internacionais, o tsunami na bolsa de Chicago tem efeito rápido no Brasil. "Essa recente alta de preços não é uma situação nacional, estamos muitos próximos de uma safra recorde de milho aqui", reforça o coordenador técnico da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Pierre Vilela. Esse ano o Brasil deve colher 69 milhões de toneladas de milho, segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), crescimento de 23% em relação à última safra. Vilela aponta que as notícias globais que apertaram o cinto do produtor têm outros contextos agravados por quebra de safras mundo afora, onde o clima afeta lavouras também na Europa, especialmente no leste do continente, e Austrália. "Com a menor colheita de trigo na Rússia, os preços do milho são afetados, já que o grão é o substituo imediato do trigo." Segundo o especialista, até que se apure o estrago da estiagem nas lavouras, a instabilidade do mercado futuro deve sufocar o setor produtivo. "O varejo não trabalha com grandes flutuações. Assim, os efeitos da alta de preços dos insumos chega bem mais rápido ao produtor." Na composição dos custos da ração, o milho pesa cerca de 60% e a soja próximo a 30%. Levantamento da Avimig mostra que, em média, o quilo do frango vivo está sendo vendido entre R$ 2,50 e R$ 2,60, em Minas. "Para cobrir o custo da produção, o quilo deveria ser vendido por R$ 3,30 em média", calcula Antônio Carlos Vasconcelos. Ricardo Santin, diretor de mercados da União Brasileira de Avivultura (Ubabef), diz que os preços estão com movimentos especulativos. "O governo deve intervir com a utilização de estoques regulatórios", apontou. Expectativa eleva valores A visita de uma missão russa ao Brasil, que acontece nas próximas duas semanas, já provoca repercussões positivas no mercado de carne suína. Somada à alta do milho e da soja, a possibilidade de o país voltar a vender para os russos fez o preço pago pelo quilo do animal vivo reagir nas últimas duas semanas. Produtores acreditam que a elevação de R$ 2,20 para R$ 2,60 no preço do quilo do animal vivo é sinal das boas perspetivas de negócios a partir do próximo mês. "Acreditamos em uma nova elevação no preço a partir dessa semana", diz João Bosco Martins de Abreu, presidente da Associação dos Suinocultores de Minas Gerais (Asemg). O preço pago pelo quilo do suíno, assim como do frango, segue ainda abaixo do custo de produção, próximo a R$ 2,80 por quilo. Segundo levantamento da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg) de janeiro a junho os preços ao produtor caíram 20%. Para o consumidor a queda foi bem menor, equivalente a 2,4%. O roteiro da comitiva russa inclui visitas aos três estados embargados – Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul -, além de Pará, Goiás e Santa Catarina. No total, 21 estabelecimentos de bovinos, Suínos e Aves serão inspecionados por oito técnicos divididos em três grupos, um para cada tipo de carne. Todos estão com exportações suspensas temporariamente para a Rússia. O objetivo da missão é dar continuidade à avaliação do sistema de inspeção e controle de segurança dos produtos de origem animal exportados para o país, revertendo o embargo às carnes das três unidades federativas. (MC)