Alimento

24/10/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:10am

Vasculhar a evolução da luta contra a fome é uma das responsabilidades da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO)

Ela requer o mapeamento e o escrutínio dos acertos, erros e omissões – de governos e da cooperação internacional – diante da latejante abrangência de um mal que tem cura, mas mantém sua desconcertante presença no repertório das vulnerabilidades humanas do século XXI.

A fome não é um estoque, mas uma dinâmica histórica. Impulsionada por fragilidades locais e globais, ela sofre agora as determinações profundas da mais abrangente crise registrada no sistema econômico mundial desde 1930.

Não há escassez de oferta ou deficiência tecnológica que justifique a procissão de 870 milhões de pessoas com fome no atual estágio de desenvolvimento humano. 12,5% da população da Terra sobrevive em condições de subnutrição.

Os dados condensados na edição de 2012 do Estado da Insegurança Alimentar no Mundo, produzido em conjunto pela FAO, Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (Fida) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA), permitem dimensionar melhor os contornos, as singularidades e os desdobramentos dessa superposição de adversidades.

Ente outras coisas, constata-se a ampliação do fosso entre os que conseguem avançar em meio ao nevoeiro e a perda de fôlego adicional dos que já ocupavam uma posição caudatária na segurança alimentar.

Avisos alarmantes, ao lado de revisões encorajadoras, convergem nessa travessia para um denominador inquietante: um em cada oito habitantes do planeta ainda passa fome em nosso tempo.

Não há escassez de oferta ou deficiência tecnológica que justifique a procissão de 870 milhões de pessoas com fome no atual estágio de desenvolvimento humano.

É aberrante: 12,5% da população da Terra sobrevive em condições de subnutrição, como se o domínio ancestral das técnicas de semear e colher que pavimentou saltos tecnológicos sucessivos, hoje compatíveis com manipular o núcleo celular e ter um robô a passeio em Marte, não tivesse ocorrido.

O desfrute desigual desse percurso tem na persistência da fome uma pendência dramaticamente coagulada nos países pobres e em desenvolvimento.

E já foi pior: em 1990 eram um bilhão de pessoas com fome, representando 18,6% da população.

Ainda é possível atingir a meta do Objetivo de Desenvolvimento do Milênio (ODM) de reduzir à metade a proporção da população com fome até 2015, se ampliarmos os esforços e conseguirmos superar a desaceleração que começou por volta de 2006.

A radiografia estampada no informe da FAO adiciona um complicador a esse mundo plano feito de estatísticas médias. Na verdade, ela exibe uma perversa progressão, com arranques devastadores justamente ali onde gravitam os mais pobres entre os pobres.

Na África subsaariana, o contingente submetido ao torniquete da desnutrição só fez crescer desde 1990: saltou de 170 milhões para 234 milhões, afetando hoje a vida de 23% da sua população.