AGRONEGÓCIO

04/11/2009 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:28am

O uso de hormônio em frangos ainda é crença de grande parte dos consumidores.

No sistema produtivo, essas aves vivem cerca de 45 dias entre sair do ovo e atingir o peso ideal para o abate, e o pouco tempo dessa trajetória reforça a ideia de aplicação de substâncias anabolizantes ou com ação hormonal na avicultura.

Especialistas, no entanto, derrubam o mito: “Desde o início da avicultura de corte, a eficiência na produção de frango é questionada, inclusive, por médicos e nutricionistas, mas o rápido crescimento de frangos não é milagre”, afirma o chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Suínos e Aves, Gerson Scheuermann.

Essa história surgiu por volta das décadas de 1930 e 1940, quando foram construídas as atuais estruturas de aviários, com mais de 15 mil aves que crescem cada vez mais e em menos tempo.

E foi justamente o avanço técnico do segmento que contribuiu para que, em anos de pesquisa, se chegasse ao balanceamento de nutrientes e energia nas dietas e em um ambiente adequado para a criação das aves, com controles de temperatura, umidade do ar e ventilação das instalações.

O monitoramento de doenças e o manejo apropriado também merecem destaque no cenário atual da avicultura.

Outro fator relevante para acelerar o crescimento e engorda dos frangos foi o melhoramento genético a partir da seleção de aves por ganho de peso e desempenho.

Quem também desmistifica a aplicação de hormônios exógenos em frangos é o Dr.Leandro Feijó, Médico Veterinário da Secretaria de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SDA/Mapa):

“O tempo de vida do animal até o abate inviabiliza qualquer tentativa de utilização de hormônios nesta espécie, assim como o tempo suficiente para a sua atuação no organismo”, defende.

Feijó coordena o Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes (PNCRC), que monitora, continuamente, a presença de medicamentos veterinários de uso proibido no País em carnes, incluindo hormônios.

Ele explica que, nos últimos quatro anos, foram realizadas mais de 2,8 mil análises em frangos e atesta que, “a partir dos resultados obtidos, a conclusão é de que não há indícios da utilização dessas substâncias nas carnes de aves consumidas pela população brasileira e exportada a mais de cem países”.

Por meio de um plano estatístico definido, são coletadas amostras não só de aves, mas também de espécies bovina, suína e equina, além de leite, mel, ovos e pescado, em estabelecimentos registrados no Serviço de Inspeção Federal (SIF).

O PNCRC é uma ferramenta que garante a segurança do alimento tanto à população quanto aos consumidores dos países que fazem parte das relações comerciais do agronegócio brasileiro.

Todos os frigoríficos registrados no Serviço de Inspeção Federal (SIF) são inseridos para participar dos sorteios semanais para a coleta de amostras, inclusive aqueles habilitados para emitir Certificado Sanitário Internacional.

Um sistema informatizado – o SISRES – gerencia as informações do plano e realiza o sorteio aleatório dos estabelecimentos onde as amostras serão coletadas pelos fiscais do Ministério da Agricultura. São, em média, 52 sorteios semanais, com coletas realizadas em todo o País, entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de cada ano.

Esta metodologia torna possível avaliar a utilização de medicamentos veterinários e a exposição dos setores produtivos monitorados diante de contaminantes ambientais, como metais pesados e pesticidas utilizados das pastagens. “O Plano pode ser considerado um raio-x do processo”, afirma Feijó.

Uma vez identificada violação de Limite Máximo de Resíduo (LMR) ou a utilização de uma droga de uso proibido no País, o Ministério da Agricultura adota ações regulatórias imediatas a fim de evitar que o produto contaminado vá para o mercado.

Além disso, são colocadas em prática ações na propriedade com a finalidade de identificar as causas dessa infração.

O plano é estruturado para pesquisar substâncias anabolizantes.

Para isso, os Laboratórios Nacionais Agropecuários (Lanagros) do Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Pernambuco e São Paulo, assim como os laboratórios credenciados pelo Mapa, estão equipados com alta tecnologia para detectar resíduos dessas e outras substâncias, contando com modernos recursos de análise, como a espectrofotometria de massa, na qual é possível detectar quantidades muito baixas desses resíduos.

Boas Práticas – A importância deste programa para a avicultura de corte e de postura faz parte da adoção das chamadas Boas Práticas para o Uso do Medicamento Veterinário, que visam o aperfeiçoamento do manejo sanitário, da diminuição de custos e da disponibilização de produtos com qualidade, em que o consumidor é o grande regulador.

As bases legais do programa levam em consideração as recomendações do Codex Alimentarius, fórum internacional de normatização de padrões de segurança do alimento.

O controle de resíduos e contaminantes em produtos de origem animal é reconhecido pela União Europeia e por países como: Estados Unidos, Canadá, China e Rússia, que realizam auditorias anuais nas ações do plano.

Resultados de 2008 – Os resultados do monitoramento no Programa de Controle de Resíduos e Contaminantes em carnes de aves, bovinos, suínos e equinos, leite, ovos, mel e pescado, em 2008, segundo Feijó, podem ser considerados satisfatórios.

“No entanto, demonstram a necessidade de vigilância contínua para mitigar o risco de violações que foram detectadas”, alerta.

Das 19.211 análises concluídas, 99,85% não apresentaram resíduos de medicamentos veterinários ou contaminantes acima dos limites estabelecidos.

Destaque para mel, camarão de cultivo e pescado de cultivo, que não apresentaram nenhuma irregularidade no ano passado.

O Programa para aves também alcançou percentual positivo no último ano. Das 8.209 análises concluídas, apenas cinco, ou 0,06%, apresentaram resíduos.

Fonte: Mapa