Vitória

17/03/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:20am

Há 10 anos, mais precisamente no dia 17 de março de 2001, a Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, uma das 46 unidades da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa, comemorava um feito inédito para a ciência brasileira: o nascimento do primeiro bovino clonado no Brasil e na América Latina, uma fêmea bovina da raça Simental que, não por acaso, recebeu o nome de “Vitória da Embrapa”. Hoje, Vitória é a matriarca de uma família composta por filhos e netos, o que comprova o bom potencial reprodutivo e habilidade materna de animais clonados.

O nascimento de “Vitória da Embrapa” coroou anos de esforço da equipe de reprodução animal da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, liderada pelo pesquisador Rodolfo Rumpf e foi um passo determinante para o domínio da técnica de clonagem animal na Embrapa e no Brasil. Vitória foi clonada pela técnica de transferência nuclear a partir de células retiradas de um pedaço da orelha da fêmea doadora.

Desde que nasceu Vitória foi acompanhada de perto por cientistas da Embrapa e médicos veterinários da Universidade de Brasília e sempre mostrou bom desempenho em relação a crescimento e desenvolvimento de acordo com os padrões da raça Simental. Mas a prova de fogo veio no dia de 19 de setembro de 2004, quando deu à luz seu primeiro filhote: a bezerrinha “Glória da Embrapa”.

O nascimento de Glória foi o último e decisivo teste feito com Vitória para provar que é um clone perfeito do ponto de vista científico e de produção. O nascimento da bezerra permitiu à equipe de cientistas da Embrapa avaliar o potencial reprodutivo de Vitória e a sua habilidade materna.

Por que clonar animais?

O interesse da Empresa pelas pesquisas relacionadas à clonagem por transferência nuclear é devido à sua capacidade de multiplicar animais de elevado valor genético. Além disso, é uma importante aliada também da conservação de recursos genéticos animais, que é uma das prioridades da Embrapa, pois pode resultar na formação de núcleos de conservação de fêmeas clonadas, sobre as quais se pode utilizar sêmen de diversos touros, contribuindo assim para aumentar a variabilidade genética, o que é fundamental para a restauração de raças domésticas de animais de interesse agropecuário que estão ameaçadas de extinção.

O domínio da técnica de clonagem é resultado de mais de 20 anos de pesquisa da Embrapa na área de biotecnologia da reprodução animal com o objetivo de melhorar a eficiência da produção de carne e leite. Várias tecnologias vêm sendo dominadas ao longo dos anos e repassadas ao setor produtivo, como: inseminação artificial; transferência, bipartição e sexagem (definição do sexo dos embriões antes do nascimento) de embriões; e fecundação in vitro (FIV).

Essas tecnologias têm grande impacto na pecuária brasileira, já que têm resultados diretos na melhoria do rebanho, através do melhoramento animal e do conseqüente aumento de eficiência na produção. Por isso, têm levado os produtores brasileiros a trocarem a genética importada pela nacional.

A clonagem é a mais sofisticada das biotécnicas e também já está sendo utilizada pelo setor produtivo brasileiro desde 2004, quando a Embrapa assinou um contrato de cooperação técnica com a Brasif S/A Administração e Participações. A parceria com empresas privadas é determinante para o aprimoramento das tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e também para fazer com que cheguem mais rápido ao setor produtivo.

Outros clones da Embrapa

O domínio da tecnologia, alcançado com o nascimento de Vitória, deu origem a outro resultado de sucesso no campo da clonagem animal na Embrapa com o nascimento de “Lenda da Embrapa”, da raça holandesa em 2003.

Em 2005, foi a vez de “Porã”, que além de clone bovino, carrega ainda outro predicado importante: o fato de ser representante da raça bovina Junqueira, que faz parte do Programa de Conservação e Uso de Recursos Genéticos Animais da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia por estar em estado crítico de extinção no Brasil, com menos de cem animais em todo o país.

A clonagem de “Porã” significou um passo decisivo para unir a moderna biotecnologia animal ao resgate de parte da história brasileira, com a preservação de raças de animais domésticos ameaçadas de extinção.

Todos os clones já têm crias, o que comprova o seu bom potencial reprodutivo e habilidade materna.

Avaliar o potencial reprodutivo de animais clonados é fundamental para a pesquisa, como explica o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Maurício Franco, que hoje coordena as pesquisas de clonagem animal.

O domínio da tecnologia da clonagem permitiu aos pesquisadores avançarem para outros resultados, como explica Franco. “O nascimento de filhotes de animais clonados representa o somatório de três tecnologias da reprodução animal juntas: clonagem, inseminação artificial e sexagem de sêmen”.