Cães

01/09/2010 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:25am

No canil da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, cães da raça golden retriever são utilizados em estudos sobre distrofia muscular. Os pesquisadores observam o comportamento dos cães e a evolução da doença, testam técnicas para melhorar a qualidade de vida dos animais afetados e também pesquisa caminhos para que a cura do mal seja descoberta.

Animais com distrofia necessitam de cuidados especiais com alimentaçãoO canil está situado na FMVZ há oito anos. Alguns destes animais são vítimas de distrofia muscular, uma doença genética que, entre outros efeitos, afeta o desempenho dos músculos do organismo. Os cães são designados como Golden Retriever Muscular Distrophy (GMRD). Os indivíduos vitimados pela distrofia têm dificuldade de movimentos e deglutição, entre outras alterações.

O Brasil, com o canil da FMVZ, é um dos três únicos países do mundo detentores deste modelo animal – França e EUA são os outros. A professora Maria Angélica Miglino, responsável pelo canil, conta que entre os frutos acadêmicos do canil estão uma pesquisa que identificou diferentes fenótipos (manifestações externas corpóreas) entre os animais afetados pela doença e outra, de uma ex-mestranda, que desenvolveu um método para facilitar a alimentação dos cães. É na observação do comportamento dos animais e na evolução da doença que se calcam os estudos realizados no espaço.

Na rotina do canil, conta a professora, incluem-se atividades que acabam por se configurar como “um curso de veterinária à parte”. Maria Angélica refere-se às ações corriqueiras que devem ser feitas para que os animais tenham uma boa qualidade de vida – por serem portadores de uma doença agressiva, os bichos demandam cuidados específicos, como a entrega de alimentos diretamente na boca. Outra questão relatada pela professora é a dificuldade de respiração destes animais, o que faz com que os veterinários e estudantes por eles responsáveis acabem se encarregando também de prestar socorro em emergências com este perfil, aprendendo assim outros aspectos.

Recursos
Maria Angélica Miglino explica que todo esse contexto faz com que o canil, além de ser um bom gerador de pesquisas, acabe sendo um espaço para a ótima formação de recursos humanos, com novos pesquisadores e professores adquirindo um conhecimento diferenciado. Os professores Carlos Eduardo Ambrósio e Daniele dos Santos Martins são exemplos de profissionais que tiveram o canil como campo de pesquisa.

Distrofia muscular é um termo amplo utilizado para se referir a um grupo de doenças genéticas que afetam a musculatura e causam fraqueza. A intensidade da fraqueza muscular pode variar de acordo com o tipo de distrofia, bem como o grupo muscular afetado e a velocidade de degeneração. A distrofia muscular de Duchenne (DMD) é forma mais comum dentre as variedades da doença.

A distrofia muscular é causada pela ausência (ou ineficiência) de uma proteína chamada distrofina. A substância é responsável, em conjunto com outras, pelo bom funcionamento das fibras musculares.

As pessoas e cães vitimados pela distrofia não têm a distrofina, ou nelas a proteína não opera da maneira adequada. Tal situação ocorre por questões genéticas. Os vitimados com a distrofia muscular têm uma modificação em seu cromossomo X que faz com que a condição ocorra.

A ciência ainda não obteve uma cura para a doença – terapias gênicas ou celulares, como a inserção de células-tronco, são possibilidades que se sugerem como uma solução, mas ainda estão em fase inicial. Atualmente, ministram-se práticas como fisioterapia e medicamentos, que fazem com que a qualidade de vida das pessoas com a doença seja melhorada.