Presidente do CFMV ressalta em artigo que o combate à raiva é dever de todos
16/08/2017 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:44am
Em artigo publicado na última edição da Revista Cães&Cia, o Presidente do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Benedito Fortes de Arruda, fala sobre o desafio de combater a raiva. O tema ganha importância no mês de agosto, quando tradicionalmente são realizadas as campanhas de vacinação contra a doença.
Esforços de prevenção já reduziram consideravelmente o índice de transmissão do vírus no país, mas a doença continua sendo uma ameaça para animais e humanos. A responsabilidade de combater a zoonose, ressalta Arruda, cabe a médicos veterinários, aos serviços públicos de saúde e também à sociedade, que tem o dever de praticar a guarda responsável e vacinar cães e gatos anualmente.
Leia o texto na íntegra:
Eliminar a transmissão da raiva exige prevenção
No mês de vacinação contra a raiva veja como andam os índices de contágio e como podemos prevenir este zoonose
Uma zoonose que pode ser prevenida, mas que continua infectando milhões de pessoas e animais em mais de 150 países e territórios. A raiva é uma doença negligenciada, altamente letal e que é transmissível por meio de mordeduras e arranhaduras dos mamíferos suscetíveis ao vírus causador, como cão e gato, dentre outros. Estima-se que 95% dos casos de raiva em humanos, em âmbito mundial, sejam causados por ataques de cães infectados, um quadro que médicos veterinários, os serviços públicos de saúde e a sociedade têm a responsabilidade de mudar por meio da adoção de medidas simples de prevenção.
O cão pode ser infectado pela raiva ao ter contato com outros animais positivos para o vírus, como outros cães ou um morcego. Uma vez infectado, ele terá o vírus na saliva, e poderá transmiti-lo para outros animais ou para humanos por meio de mordeduras.
Entre 2010 e 2015, foram registrados pelo Ministério da Saúde 17 casos de raiva humana no Brasil, sendo 53% de transmissão pelo ciclo urbano e 47% pelo ciclo silvestre. O índice é notavelmente menor do que o registrado no passado (nos anos 1990, foram 73 ocorrências da doença em humanos), mas, apesar dos esforços para evitar o contágio do vírus entre cães e humanos, a raiva continua representando um risco real para a sociedade.
Baixa conscientização, falta de abordagens multidisciplinares contra a doença e limitações no recebimento de profilaxia pelas vítimas da raiva são alguns obstáculos que contribuem para novos casos de infecção causada por cães.
Desafio
O desafio de eliminar a transmissão da raiva por variantes caninas a humanos tem prazo: espera-se que os cães sejam cortados da lista de espécies que representam uma ameaça de infecção pelo vírus rábico até 2030. A meta foi estipulada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), em colaboração com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e com o apoio da Aliança Global para o Controle da Raiva (GARC).
O objetivo é sustentado por um conjunto de diretrizes construídas com base na colaboração dos quase 300 representantes de entidades de diversos países, que se reuniram para debater o tema em uma conferência global promovida pela OMS em 2015. Entre os pilares definidos no marco internacional está o aspecto sociocultural, voltado principalmente para a conscientização da população a respeito das formas de evitar que cães se tornem transmissores do vírus.
Prevenção
O combate à raiva canina tem início nas práticas de guarda responsável, que devem ser observadas desde antes da adoção ou aquisição do animal. O principal desses cuidados é a vacinação antirrábica periódica, que representa a medida mais segura e eficaz contra a transmissão da doença.
A vacinação periódica é recomendada a todos os cães e gatos, sejam de áreas urbanas, rurais, ou mesmo de rua. No Brasil, os tutores podem ter acesso à vacina por meio das campanhas promovidas pelas secretarias de saúde, ou buscar a imunização durante o checape realizado anualmente pelo veterinário.
Tanto a vacina fornecida pelo governo quanto a adquirida diretamente nas clínicas veterinárias são seguras e representam uma proteção confiável, mas ambas precisam ser renovadas anualmente. Com o decorrer do tempo, a concentração de anticorpos adquiridos pela imunização é reduzida, portanto é essencial que o animal seja vacinado todos os anos. Ressaltando-se que as vacinas só podem ser administradas por um médico-veterinário ou sob a supervisão deste profissional. De forma nenhuma leve seu animal para receber a imunização com uma pessoa não-habilitada – no caso de efeitos adversos, o atendimento ao cão deve ser feito por um veterinário.
Risco
Além de garantir a vacinação, é dever do veterinário auxiliar na luta contra a raiva atuando na prevenção de fatores que possam levar ao comportamento agressivo do cão, orientando os tutores sobre a saúde e o comportamento dos animais, e esclarecendo às pessoas que convivem com o cão sobre a importância da socialização para prevenir ataques. É importante ressaltar que as agressões causadas por animais são um grave problema de saúde pública não somente pelo perigo de transmissão da raiva, mas também pelo risco de contágio de outras zoonoses e de infecções secundárias, além das lesões e incapacitações que podem decorrer das mordeduras.
Esse risco pode ser reduzido com o acompanhamento do médico-veterinário, o único profissional preparado para fazer o diagnóstico e o tratamento de enfermidades, físicas ou mentais, que poderiam causar as ocorrências de agressividade. Esse processo pode ser acompanhado, de acordo com a indicação do veterinário, por um trabalho de adestramento, visando à modificação comportamental e à prevenção de agressões.
*Benedito Fortes de Arruda, presidente do CFMV