Plano de saúde também é coisa para bicho de estimação

26/05/2014 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:55am

Publicado em O Globo em 25/05/2014

Era uma vez um lindo menino chamado Miguel que queria um bichinho de estimação: um cachorro ou um porquinho- da-índia. Como trabalha muito e tem duas crianças em casa, a mãe do garoto optou por aquele que daria menos trabalho. Assim, no Natal de 2012, Miguel ganhou Thor e logo se tornou seu melhor amigo. Mas o porquinho-daíndia era preguiçoso e, mesmo sendo um roedor, não roía nada. Seus dentes cresciam sem parar, travavam sua língua e ele não conseguia comer.

Precisava ser internado e tomar anestesia geral para o Veterinário cerrar seus dentes. Mas algum tempo depois começava tudo de novo. Já foram três cirurgias, um monte de diárias em clínica especializada em Animais silvestres, exames, medicamentos, mais exames e uma conta que, sem plano de saúde, está na casa dos R$ 5 mil.

-Sou dentista e fui "premiada" com um roedor com problema nos dentes. Cada operação é mais cara do que cobro para extrair dente incluso dos meus pacientes. O Thor já fez ultrassom, exame com endocrinologista para ver se era hipotireoidismo, mas não descobriram a causa do problema – conta Paola Martins, de 40 anos.

Cada vez mais comuns, histórias como a de Paola, Miguel e Thor ajudam a explicar a entrada de grandes empresas no setor de planos e seguros- saúde para animais de estimação no Brasil.

Há um mês, a B2W, gigante do varejo on-line, lançou dois produtos de assistência à saúde para cães e gatos: o For Pets vendido pelo Submarino.

com e o Pet Mais, comercializado pela Americanas.

com. Ambos têm abrangência nacional em rede credenciada e podem custar R$ 14,99 a R$ 29,99 por mês, dependendo da cobertura.

– O segmento tem grande potencial de diversificação de produtos e serviços para atender à forte demanda – diz Thiago Barreira, do Submarino.

MERCADO DE PRODUTOS PET MOVIMENTA R$ 15,2 BI Ano passado foi a vez de a seguradora QBE, a maior da Austrália, entrar forte na grande São Paulo com o PetPlan, um seguro-saúde nos mesmos moldes de um similar para humanos. É registrado na Superintendência de Seguros Privados (Susep) e custa entre R$ 49 e R$ 109 por mês. Em um ano, conquistou 10 mil segurados, todos cães.

– No segundo semestre vamos chegar ao Rio.

Também temos planos de estender o seguro para gatos; mas roedores, por ora, não – conta Marcello Falco, diretor executivo da PetPlan Brasil.

Outros grandes grupos internacionais também estão de olho no mercado brasileiro, o segundo do mundo para produtos pet, atrás apenas dos Estados Unidos. São 106 milhões de animais domésticos que consumiram R$ 15,2 bilhões em 2013, segundo a Associação Brasileira de Produtos para Animais (Abinpet). Com exceção dos seguros, fiscalizados pela Susep, planos de saúde e de assistência para animais não têm regulamentação específica.

– Para estes, vale o Código de Defesa do Consumidor.

Antes de contratar, a pessoa precisa de todas as informações, sobretudo da rede credenciada. Na venda pela internet, há sete dias para desistir – explica Maíra Feltrim, técnica do Procon de São Paulo.

A professora de inglês Tatiana Finkel, 30 anos, fez o plano do Submarino.com para seus dois gatos há duas semanas e está satisfeita.

– Já usei e só o que deixei de gastar com uma consulta cobre a anuidade do plano.

No Reino Unido, maior mercado de planos de saúde animal do planeta, grandes seguradoras, supermercados e instituições financeiras investem no setor que movimenta um bilhão de libras (cerca de R$ 4 bilhões) por ano. São 2,76 milhões de animais segurados , de acordo com a associação britânica de seguradoras.

O custo da mensalidade depende da idade do bicho, de doenças preexistentes e dos benefícios de cada plano. Mas pode começar em cinco libras (cerca de R$ 20). Para se ter uma ideia, uma consulta veterinária sai a partir de 50 libras (cerca de R$ 200), enquanto o o custo médio do tratamento para um cão atropelado é estimado em 674 libras (R$ 2.700), mesmo valor da diária para a internação de cachorros.

– Sem o NHS (o equivalente ao SUS brasileiro) para animais, mesmo o tratamento mais banal pode se tornar uma surpresa horripilante – diz Stephen Sobey, da associação britânica. l