Governo apura suspeita de mal da vaca louca em Mato Grosso

25/04/2014 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:56am

Publicado pelo jornal O Globo em 25/04/2014

 

Caso pode prejudicar as exportações brasileiras de carnes

O Ministério da Agricultura iniciou investigação sobre a suspeita de um caso atípico do mal da vaca louca em um boi em Mato Grosso. O órgão informou que foi detectada a possível ocorrência de enfermidade em um animal durante fiscalização de rotina em estabelecimento de abate no estado.

A investigação preocupa, pois pode afetar a imagem do Brasil no exterior. Em 2012 e no início do ano passado, cerca de dez países suspenderam a importação da carne bovina brasileira, devido aos temores relacionados à identificação do agente causador do mal da vaca louca em um animal que morreu no Paraná em 2010. Mercados como Peru, Japão, China, África do Sul, Coreia do Sul, Taiwan e Arábia Saudita fecharam as portas temporariamente.

Em nota, o ministério disse que as investigações de campo indicam tratar-se de uma única suspeita de caso de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), agente causador do mal da vaca louca. O animal foi criado em sistema extensivo, a pasto e sal mineral, e abatido em idade considerada avançada, com cerca de 12 anos.

"Essas são as principais características de um caso atípico de EEB, pois ocorre de forma esporádica e espontânea, não relacionada à ingestão de alimentos contaminados", informou o ministério.

O órgão destacou que os produtos derivados desse bovino não ingressaram na cadeia de alimentação humana ou animal e que o material de risco foi incinerado.

Por precaução, todos os animais contemporâneos ao caso provável foram identificados individualmente e interditados.

– A notícia veio em mau momento.

Os preços da carne estão subindo no mercado internacional e isso estaria ajudando a compensar a baixa cotação de outras commodities. Sem contar que a suspeita pode levar parceiros internacionais a suspenderem as importações do Brasil – disse o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Em nota, aAssociação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) afirmou que as investigações iniciais indicam a existência de uma única suspeita e o caso não representa riscos para a cadeia de alimentação humana ou animal. Da mesma forma pensa o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne Suína (Abipecs), Pedro Camargo.

– Não creio que os principais países compradores, como os europeus, apresentem restrições – disse Camargo.

De acordo com o Ministério da Agricultura, o animal com a suspeita foi enviado para abate em 19 de março deste ano, devido a problemas reprodutivos causados pela idade avançada e sem sintomas de distúrbios neurológicos. Na inspeção, no entanto, o fiscal federal responsável pelo frigorífico observou que havia um "animal caído". Com esse quadro, o bovino foi direcionado ao abate de emergência e submetido à colheita de amostras para o teste de EEB.

 

Mal surgiu nos anos 90

Paraná registrou um caso em 2010, e grandes compradores suspenderam importações de carne produzida no país

Aencefalopatia espongiforme bovina, conhecida como doença da vaca louca, atinge, além de vacas, bois e ovelhas. Quando contamina pessoas, chama-se síndrome de Creutzfeldt- Jacob. O mal foi detectado no início dos anos 90, na Europa, e atingiu milhões de animais, que podem ter adoecido por causa da ração.

A crise começou no Reino Unido – ao menos 53 pessoas morreram entre 1992 e o ano 2000, época em que a moléstia começou a surgir em outros países da região, levando pânico aos europeus e receios de uma epidemia global. Centenas de animais foram sacrificados, e os exportadores de frango do Brasil foram beneficiados pela situação.

Em 2001, o Canadá registrou os casos e, em 2003, foi a vez dos EUA de ter um surto e sacrificar rebanhos.

No Brasil, o Paraná registrou um caso em 2010 e, por isso, uma série de países – incluindo Rússia, Japão, China e África do Sul – suspendeu a compra de carne brasileira.