Perigos da carne contaminada

18/02/2014 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:59am

DEIVID SOUZA
Aos olhos humanos alimentos aparentemente normais podem abrigar micro-organismos perigosos para a saúde pessoal e com a carne não é diferente. O produto, se contaminado pode causar desde pequenos transtornos até a morte. Um dos problemas mais comuns é causado pela salmonela, gênero de bactérias, vulgarmente chamadas salmonelas. A ingestão do alimento contaminado pode provocar desde enjoos a diarreias graves que podem culminar uma desidratação profunda e até morte. Outro risco dos alimentos em más condições sanitárias é a teníase, doença causada por parasitas. Geralmente ela é transmitida pelo consumo de carne contaminada com cisticercos (larvas do verme), não bem cozida ou assada. Pode causar sérios riscos ao organismo, inclusive problemas nervosos e cegueira quando estiver associada neurocisticercose (infecção no sistema nervoso). (confira mais informações no quadro nesta página)

Para o membro da diretoria do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de Goiás, Rafael Costa Vieira estes problemas ocorrem por falhas nos mecanismos de inspeção sanitária dos alimentos e problemas na conservação dos mesmos. "A contaminação pode acontecer no abate, no transporte ou por falta de higiene. Por isso o consumo de carnes clandestinas ou com ausência de inspeção é um risco", alerta.

A carne quando não passa por inspeção adequada pode abrigar outros riscos para a saúde humana. A presença de resíduos de medicamentos como antibióticos, por exemplo pode contribuir para o aumento da resistência de bactérias no organismo dos humanos. Isso acontece porque animais que recebem aplicação de determinados de um período de carência até serem abatidos. É como se a pessoa que come a carne estivesse tomando indiretamente um antibiótico, isso pode ocasionar alergias, intoxicações e resistência microbiana. "O que acontece é que a pessoa passa a ser classificada como resistente àquele antibiótico ou multidrogas resistente", explica.

Isso vai fazer com que os micro-organismos tenham contato com o remédio e se fortaleçam, quando a pessoa realmente precisar de um antibiótico este terá o efeito mais fraco.

Outra situação que merece cuidado é o abate de animais submetidos a carrapaticidas logo após aplicação do produto. Os resíduos presentes na carne em situações mais críticas podem causar intoxicação.

 FISCALIZAÇÃO

As carnes de Goiás têm o abate, transporte e processamento monitorados pelo Ministério da Saúde, Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) e Vigilância Sanitária. À Agrodefesa cabe o controle de vacinação, inspeção estadual e fiscalização do transporte, ou seja, o órgão cuida do animal até que ele seja entregue nos estabelecimentos de venda na forma de carne. Dentro dos pontos de venda cabe à Vigilância Sanitária – divisão da Secretaria Municipal de Saúde – cuidar do produto. Além disso, como Goiás é um grande exportador de carne, a proteínas produzidas aqui são recebem inspeção federal, o chamado "SIF".

O presidente da Agrodefesa, Antenor Nogueira defende que a carne produzida em Goiás é uma das melhores do País, tendo ampla fiscalização que verifica todas as etapas do processo, mas reconhece que existe dificuldade em resultados perfeitos. "É lógico que coibir 100% das práticas inadequadas é impossível", admite.

Outra questão levantada por Nogueira é o comércio do produto no interior, que para ele carece de mais atenção. "Precisa haver uma melhoria, porque a fiscalização do varejo não é competência da Agrodefesa. As prefeituras do interior precisam implantar a Vigilância Sanitária. Assim a gente fecha esse ciclo e quem ganha com isso é o consumidor", conclui. Em muitos municípios, a pedido do Ministério Público de Goiás (MP-GO), a Agrodefesa monitora as condições dos comércios.

ESTUDO

Um estudo da Universidade de São Paulo (USP), a ser divulgado nos próximos dias, revela que Goiás é um dos Estados brasileiros com menor incidência de abate clandestino. O levantamento financiado pela Associação Brasileira de Supermercados (Abras) começou a ser realizado depois que a Organização Não Governamental (Ong) Amigos da Terra afirmou que 30% da carne brasileira eram provenientes de abate clandestino. O assunto foi amplamente divulgado na mídia em março de 2013 e provocou prejuízos aos supermercadistas.

O diretor da Vigilância Sanitária, Geraldo Rosa afirma que a maioria dos problemas está relacionado a questões como higiene e venda de carne clandestina. Como a Vigilância Sanitária verifica vários critérios, entre eles a documentação, Rosa explica que quando a irregularidade não expõe a população a riscos para a saúde o órgão prefere orientar a multar o estabelecimento. "Nós atuamos orientando os donos dos estabelecimentos, pois existe muita falta de informação", revela.

Em 2012, 605 açougues da Capital foram vistoriados pela Vigilância Sanitária e foram gerados apenas nove autos de infrações. Já em 2013 as fiscalizações saltaram para 972 e as notificações foram 15. (confira quadro nesta página)

As apreensões de carnes das equipes volantes (que não atuam em estabelecimentos específicos, ou seja, ficam em circulação) da Agrodefesa somaram 89.649 quilos em 2013, número 34 vezes maior que o de 2012 (2.585). No entanto, estes valores podem não representar a realidade, já que a quantidade de equipes em atuação faz com que algumas vezes o material apreendido seja encaminhado para descarte sem a devida contabilidade. A maior parte das carnes apreendida é bovina, em 2013 foram 88.213 quilos, equivalente a 98,4% do total. Os números destacados pela reportagem referem-se apenas às apreensões de carnes, sendo desconsideradas a de embutidos, leite e outros produtos também fiscalizados pelo órgão. 

Alguns problemas que a carne contaminada pode causar

Salmonela – Conhecida vulgarmente como salmonela, trata-se de um reino de bactérias que causa infecção. Sintomas podem variar de dor de cabeça à forte diarreia. A desidratação pode levar à morte.

Escherichia Coli – É uma bactéria presente no intestino dos humanos e alguns animais. Existem vários tipos desta bactéria e, se ingerido outro tipo deste micro-organismo a saúde pode ser afetada negativamente. Podem aparecer sintomas como dor de estômago, vômito e até diarreia com presença de sangue.

Teníase – É uma doença causada por parasitas que habitam o estômago de animais. Quando contaminada a carne – e consumida mal passada ou crua – pode ser repassado para o ser humano. O parasita pode passar do intestino para a corrente sanguínea e se alojar no cérebro, olhos, pele ou músculos – inclusive do coração – podendo conferir ao portador quadro de cegueira definitiva, convulsão ou, até mesmo, óbito.