Ganhar com cavalos é para quem entende do assunto

29/01/2014 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:00am

A paixão é um ingrediente importante não só para quem investe em carros clássicos, moedas e selos raros, vinhos ou obras de arte. Esse componente vale também para os amantes de cavalos de raça, que apostam parte de seus recursos em mais uma modalidade alternativa de investimento. É o caso de Luciano Cury, 55 anos. Ele faz parte do mundo equestre desde 1989, quando trocou seu emprego em uma empresa de comércio exterior por uma renda menor, movimento na carreira compensado com maior satisfação. Alguns fazem do hobby uma das paixões; eu fiz da paixão uma profissão , conta.

Após estudar o mercado e, principalmente, a raça árabe, Cury começou a dar consultoria sobre o assunto. É com essa função, somada às vendas de seus cavalos em leilões, que ele monta sua renda no fim do mês. Mas o retorno é vantajoso financeiramente? É muito difícil de ganhar dinheiro com cavalos , diz.

O sócio da Brasil Plural, Eduardo Moreira, compartilha a visão. Há quatro anos, ele comprou um sítio e um cavalo, mesmo sem ter conhecimento sobre o animal. Após sofrer um acidente, Moreira decidiu fazer um curso sobre encantamento de cavalos, ministrado por Monty Roberts, criador do método Doma Gentil para domesticação de cavalos. A partir daquele momento, o hobby passou a ter mais efeito na vida dele. Resolvi criar cavalos das raças manga-larga e marchador. Eu era chamado para ensinar a técnica de doma sem violência , conta.

Atualmente, Moreira tem 15 cavalos em seu sítio e faz questão de ressaltar a paixão pelo animal. Costumo dizer que, no caso de cavalos, você começa como criador e vira colecionador , diz o autor do livro Encantadores de Vidas , baseado no acidente ocorrido e na experiência com o método de Monty Roberts. Segundo ele, não é fácil ganhar dinheiro investindo, mas há duas maneiras para ter resultado financeiro: vendendo produtos (sêmen, por exemplo) que vêm dos animais ou criando os cavalos para prática de esporte, como adestramento, polo e turfe.

A paixão por cavalos entre profissionais do mercado financeiro tem outros integrantes além do sócio da Brasil Plural. Paulo Bilyk, diretor de investimentos da Rio Bravo, herdou a vontade de criar o animal de seu pai polonês. A Polônia sempre foi muito voltada para cavalaria e meu pai fez parte da cavalaria durante a Segunda Guerra Mundial. E ele passava esse envolvimento com cavalos para nós, meus irmãos e eu , conta.

Em 1995, Bilyk comprou os primeiros alqueires na cidade de Campos do Jordão, em uma região mais próxima de Minas Gerais. Quando o espaço aumentou, comprei de um amigo quatro éguas das raças árabe e anglo-árabe. Com isso, comecei a me interessar por criação , diz.

O que no início ele chamava de brincadeira foi se tornando algo mais profissional. Decidi construir um centro hípico, o Polanas, localizado em fundo de vale, cercado de mata nativa , afirma. O local tem quase dez anos de existência e conta, atualmente, com 60 cavalos. Vendemos, anualmente, em leilões, 12 ou 13 cavalos , conta. Para fazer a gestão do centro, Bilyk trouxe a experiência do mercado financeiro. Temos um controle muito rígido dos custos e também implantamos um sistema administrativo de uma empresa.

Esses são alguns dos exemplos de brasileiros que transformaram o gosto por criação de cavalos em gestão profissional. E assim o mercado ganha movimento, com leilões Brasil afora, além de esportes como polo, hipismo e turfe. Só para se ter uma ideia, o setor movimenta R$ 14 bilhões por ano, de acordo com o Centro de Estudos Econômicos da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP). Os especialistas, entretanto, alertam para os cuidados ao investir.

Cavalo dá dinheiro para poucos profissionais, o restante movimenta o mercado , diz Roberto Arruda de Souza Lima, professor da Esalq. Segundo Lima, é necessário buscar informações com profissionais do ramo antes de fazer a aposta. O grande erro é que as decisões são tomadas sem planejamento. A compra não pode ser por impulso , aponta.

Mais do que obter todos os dados da raça dos cavalos, como histórico e necessidades específicas, é fundamental ter os recursos financeiros para montar a estrutura que abrigará os animais. Precisa checar se será local próprio ou não , diz o professor.

Existem opções de aluguel para quem não tem condições de bancar os custos de manutenção de um haras. No caso do investimento em um haras próprio, a lista se torna maior e mais cara, segundo o criador Luciano Cury. É preciso considerar os seguintes elementos: estrutura com baias; espaço para exercitar os cavalos; lavador; farmácia pequena; depósito para feno e para ração; Veterinário; para cada 20 animais, um funcionário; gastos com reprodução ou com a compra de um garanhão , elenca.

Cury fez uma estimativa ao Valor de quanto custa manter uma estrutura desse porte, já descontado o valor da terra que, segundo ele, é o ponto de partida. O investimento fica em torno de R$ 150 mil. Isso significa para começar , ressalva. Para quem não está disposto a desembolsar desse montante para cima, as fazendas de aluguel são as alternativas recomendadas. Com todos os cuidados necessários para o cavalo, mensalmente é gasto entre R$ 500 e R$ 1 mil , diz. Outro componente que deve ser levado em conta é o aspecto físico do animal. É preciso conhecer o pedigree, a genética do cavalo. Para isso, uma recomendação é buscar auxílio de um profissional para ajudar na escolha , afirma Fernão Salles Vaz Guimarães, diretor da Agência Paulista do Puro Sangue (APPS).

No caso dos cavalos de corrida, os mais valorizados no mundo, vale a pena conhecer as características da linhagem do cavalo, elementos que podem ser descobertos por meio dos treinadores. Por isso, o salário desses profissionais e o gasto com centro de treinamento também devem ser incluídos na planilha.

Há atividades esportivas. Dá pra mandar o cavalo para correr, o que custa R$ 4,5 mil, mas os prêmios podem chegar a R$ 15 mil , diz Cury. De acordo com Guimarães, os locais mais procurados são os centros de treinamento na serra fluminense, no Rio de Janeiro, ou hipódromos, como o Jóquei Clube, em São Paulo. Para participar dos circuitos de competição, é preciso viajar com o cavalo, o que exige gastos com hospedagem, transporte, Veterinário para o animal no lugar da disputa, entre outros custos , exemplifica Moreira, da Brasil Plural.

Outra recomendação é procurar instituições que oferecem cursos na área. Na cidade de Sorocaba, em São Paulo, a Universidade do Cavalo é uma opção, segundo Lima, da ESALQ. A instituição, por exemplo, oferece um curso de equinocultura. Quem deseja ter sucesso neste mercado precisa se capacitar para lidar com o cavalo , indica.