BEM-ESTAR

14/02/2013 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:05am

Ainda considerados essenciais para a indústria farmacêutica, os animais vivos utilizados como cobaias começam a sair de cena no mundo acadêmico. Nos últimos anos, estudantes de grandes universidades passaram a contar com a ajuda de cães simuladores para procedimentos corriqueiros da Medicina Veterinária – desde aplicações intravenosas de medicamentos até cirurgias simples, como a retirada de útero, campeã em número de ocorrências no Brasil.

Mas não é só. Vetados também das salas de biologia do ensino de segundo grau, os animais de laboratório foram substituídos por formas mais criativas na aprendizagem de anatomia. Hoje, já há disponível no mercado aplicativos para tablets em que o aluno consegue "dissecar" sapos e ratos com o abrir e fechar dos dedos na tela, em uma simulação bem próxima da realidade. "Estamos indo mais fundo em matérias que não podíamos antes por falta de ferramentas", diz Henrique Soárez, diretor do Colégio 7 de Setembro, em Fortaleza, que adotou a tecnologia em 2011.

Menina dos olhos da Universidade Anhembi Morumbi, os cães simuladores importados dos EUA chegaram à sala de cirurgia em 2009. Os 20 modelos – com nome próprio, pelos e sinais vitais embutidos – fazem parte da estratégia global do grupo Laureate, controlador da Universidade Anhembi Morumbi, de fazer o uso racional dos cães em atividades práticas. A universidade diz ter sido a primeira do mundo a transpor a tecnologia da faculdade de medicina (os bonecos que simulam pacientes) para a veterinária. Em 2010, a Universidade de Cornell, nos EUA, também adotou cães simuladores.

O processo teve início em 2004, com a regulamentação do uso dos cães e adoção de medidas com objetivo de reduzir o estresse nos animais. No mesmo ano, foram agregados ao curso de veterinária os conceitos de Bem-Estar Animal.

"Os alunos ficam envolvidos com os cães simuladores. Eles precisam cuidar do animal e dialogar com o dono", diz César Dinóla, docente e assessor acadêmico da universidade, referindo-se à presença de atores voluntários. Antes de cada aula, o professor programa no computador os sintomas que o animal deve apresentar ao dar entrada no centro cirúrgico – um quadro de infarto, infecção, etc. O grupo de alunos deve reagir. Errar a dose do remédio pode causar espasmos ou matar o animal. O programa responde automaticamente a procedimentos não esperados, mas o professor pode fazer interferências surpresas para checar o preparo do aluno.

"No fim da aula", diz Rui Carlos Vicenzi, diretor acadêmico adjunto da Escola de Medicina Veterinária da Anhembi Morumbi, "discutimos cada procedimento. Aqui é o espaço certo para errar".