Vetores

31/01/2013 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:05am

Formigas podem ser vetoras mecânicas de microbactérias patogênicas, segundo pesquisa de doutorado da veterinária Ana Paula Macedo Ruggiero Couceiro, realizada na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP em 2011. Análises microbiológicas realizadas por amostragem em um hospital no interior de São Paulo apontaram a ocorrência de microbactérias ambientais, relacionadas à infecções oportunistas. Essas infecções podem ocorrer na pele, por exemplo, com a formação de abscessos, além de não responderem à terapia convencional com antibióticos.

O hospital, pertencente à Secretaria Estadual de Saúde, é especializado na assistência a pacientes com tuberculose. Justamente em centros como esse, os internos estão fragilizados imunologicamente devido à convalescência, e, por isso, a infestação com esses patogênicos implica em mais riscos. As formigas foram coletadas num tubo estavam em diversos pontos das instalações do hospital.

Segundo a pesquisadora, as microbactérias ambientais estão amplamente distribuídas, inclusive em hospitais. Mas o monitoramento destes microorganismos não é habitual. No entanto, com o aumento de surtos relacionados às mesmas em estabelecimentos de saúde, a preocupação com estes agentes aumentou.

Desde 2003, enquanto fazia seu projeto de mestrado, Ana Paula verificou que formigas contribuíam para contaminação de testes de diagnósticos e disseminavam partículas. No levantamento para seu doutorado, notou que algumas características inerentes às formigas facilitavam a sua dispersão, como o fato de andarem até 200 metros a partir do seu ninho em um único dia. Por ter uma dieta generalista, o inseto é um animal de fácil adaptação, convivendo bem em diversos ambientes. Pesquisas anteriores, segundo ela, descrevem a formiga em ambiente hospitalar como transportadora de microrganismos, porém seu trabalho é o primeiro que investiga a disseminação de microbactérias desta maneira. As formigas, neste caso, podem contaminar roupas, alimentos e água utilizados pelas pessoas internadas.
Identificação

As formigas coletadas para o estudo eram da espécie Tapinoma melanocephalum e dos gêneros Dorymyrmex e Camponotus, todas encontráveis em domicílios brasileiros. Após a coleta, as formigas eram congeladas, e pelo menos 24 horas depois, eram maceradas com soro fisiológico e inoculadas em meio de cultura.
Durante a incubação, a veterinária acompanhou o crescimento das colônias de microrganismos e, a partir disso, fez identificação específicas. Ainda submeteu as amostras ao Centro de Referência Professor Hélio Fraga para sequenciamento do código genético das bactérias, de forma a caracterizar corretamente as colônias isoladas.

As microbactérias isoladas foram da espécie M. chelonae, M. parafortuitum e M. murale, além de microbactérias que não puderam ser identificadas talvez porque ainda não tenham sido descritas. A M. chelonae, encontrada nos vasos sanitários dos quartos dos pacientes, considerada uma microbactéria ambiental patogênica e já descrita em surtos hospitalares no Brasil.

Na coleta das formigas, a veterinária percebeu que a estrutura dos locais favorecia a sua infestação, uma vez que havia nas proximidades a presença de áreas verdes e também de inúmeras residências. Para Ana Paula, é importante alertarse quanto aos riscos que estes artrópodes representam na disseminação de infecções hospitalares, e revisar a frequência e a efetividade das desinsetizações.(Com Agência USP)