Poluição

04/09/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:43am

O petróleo do pré-sal ainda não começou a jorrar, mas o impacto da indústria já é sentida por animais marinhos. Eles são os primeiros a serem afetados em caso de derrame de óleo, que tanto pode ser um grande acidente ou apenas um vazamento de pequeno porte. Biólogos, veterinários e oceanógrafos estão sempre a postos, prontos para entrarem em ação e prestarem socorro. Trabalhando anonimamente na Universidade Federal do Rio Grande (FURG), esses profissionais fazem parte do Centro de Recuperação de Animais Marinhos – uma emergência veterinária que cresce no mundo à medida que a indústria de petróleo ganha escala e explora em águas cada vez mais profundas. Mas os pequenos acidentes, aqueles que espalham manchas órfãs no mar, também oferecem sérios riscos à fauna marinha.

Até a próxima sexta-feira, os principais cientistas que estudam o assunto estarão reunidos com representantes de empresas exploradoras de petróleo no 2º Congresso Latino- americano de Reabilitação da Fauna Marinha.

O objetivo é trocar experiências que envolvem desde casos conhecidos, como a explosão na plataforma British Petroleum no Golfo do México, que gerou o pior vazamento de petróleo na história dos Estados Unidos, até acidente bem menores, mas igualmente danosos à fauna marinha. O acidente da BP ocorreu em abril de 2010.

Aqui no Brasil, um dos acidentes mais recentes sequer teve causa descoberta. Continua sem resposta e sem explicação. No final do ano passado, quase 200 animais, a maioria deles pinguins, foram encontrados cobertos de óleo no litoral do Rio Grande do Sul. Os animais foram levados para o centro de recuperação de Rio Grande. Um dos pesquisadores que participou do resgate foi o coordenador da instituição, o Veterinário Rodolfo Silva.

Ele virou referência no assunto, depois de participar de ações de resgate não só na costa brasileira como também nos mares da América Central, Europa e África. Na África do Sul, no Treasure, possivelmente o acidente com maior impacto sobre os animais, cerca de 20 mil pinguins foram afetados no ano 2000.

Equipes do mundo inteiro foram enviadas e, segundo Silva, 90% das Aves foram salvas e puderam retornar ao habitat. Situações como essa serão debatidas no congresso, que tem como objetivo a troca de experiências sobre o treinamento de equipes para os resgates no mundo inteiro.

– Há outros acidentes mais isolados, como o de uma fábrica de manteiga nos Estados Unidos. O produto vazou, desestruturando a plumagem de muitas Aves, que acabaram morrendo por hipotermia. Mas em geral os maiores impactos estão relacionados ao petróleo. Esse é o grande problema, não só no caso dos grandes vazamentos, como também nos pequenos cuja origem desconhecemos – disse Silva.

O centro da FURG é referência no país e tem parceria com a Petrobras. Como as demais empresas que atuam na área no país, a estatal é obrigada por lei a obter uma licença de operação concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). O documento só é outorgado se a empresa apresentar um Plano de Emergência Individual, documento que descreve o que farão os funcionários da plataforma, equipes de segurança em terra e embarcações no caso de vazamento de óleo no mar. É nesse ponto que entra a parceria com os profissionais em resgate da fauna marinha.

E é por causa desse plano de emergência que eles já estão participando do planejamento de exploração do pré-sal. Projeções indicam que, até 2030, 25% das perfurações em campos de petróleo acontecerão em águas profundas o que, para especialistas, deve tornar mais frequentes casos de vazamento.

Os grandes derramamentos de petróleo são os mais devastadores. Mas o maior risco é mais silencioso. Segundo a presidente da comissão científica do congresso, Valéria Ruoppolo, médica veterinária com mais de 15 anos de experiência no assunto, o maior problema é o lançamento de óleo no mar, mesmo em pequenas quantidades. Embarcações menores são menos fiscalizadas e, com frequência, jogam litros de diesel que deterioram a plumagem de animais e os obrigam a sair da água para a superfície, fugindo do frio.

– As manchas órfãs, que não têm dono, são o pior problema enfrentado pelos animais marinhos. Pinguins sofrem, assim como outras Aves e mamíferos, como lontras e lobos marinhos. As tartarugas estão entre os animais marinhos as mais afetadas pelo lixo que é, sistematicamente, jogado na água.

Com frequência os centros de tratamento recebem animais que ingeriram plásticos, entre outros resíduos – disse Valéria.

O lixo na água é outro desafio das equipes de resgate, como a sobrepesca, que reduz a quantidade de alimentos no oceano e faz com que cada vez mais animais apareçam debilitados nas areias das praias brasileiras.