Tratamento

11/06/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:48am

Considerada idosa aos 11 anos, a poodle Khiara vive bem após vencer um
câncer de mama detectado e tratado graças aos recentes avanços da Medicina
Veterinária. A doença começou com um pequeno nódulo, cresceu rápido e foi
preciso retirar toda a glândula mamária. Para que o tumor não se espalhasse
para outros órgãos, a cadelinha passou por cinco meses de quimioterapia.

O caso de Khiara é um exemplo de animais domésticos que se curaram de
doenças até pouco tempo atrás fatais. Os gastos com diagnóstico, cirurgia e
tratamento são altos, mas, para muitos donos que consideram seus "pets"
verdadeiros membros da família, o custo-benefício é igualmente grande.

"A quimioterapia terminou há um ano e hoje ela está ótima, nem parece que
teve câncer. Só caíram os pelos, mas nasceu tudo de novo", conta a dona da
poodle, a consultora comercial Carla Cardenuto, que ainda tem em casa um
jabuti, uma coelha, uma papagaia, um peixe, dois canários e quatro
periquitos.

Segundo a médica veterinária especializada em oncologia Gabriela Rodrigues,
as drogas quimioterápicas aplicadas em animais são as mesmas usadas em
humanos, só que em doses bem mais leves e com menos efeitos colaterais.

"A quimioterapia pode ser tanto injetável quanto oral e cada sessão custa de
R$ 200 a R$ 400, de acordo com o tamanho e o peso do animal, pois a dose
varia", diz a veterinária. O tratamento inteiro pode incluir de quatro a
oito sessões, com intervalos de duas a três semanas entre cada aplicação.

Exames e procedimentos modernos

A área de diagnóstico por imagem também tem avançado na Medicina
Veterinária. Nos últimos dois anos, cresceu muito o número de ressonâncias
magnéticas e tomografias computadorizadas feitas em cães e gatos, para
detectar e prevenir doenças, afirmam os veterinários ouvidos pelo G1.

Isso tem permitido que os animais vivam em média 15 anos – quanto menor o
porte, mais longa é a expectativa. A relação entre a idade humana e a canina
ou felina oscila de três a cinco vezes mais que a dos homens. Ou seja, um
cão de 11 anos tem entre 33 e 55 anos na nossa contagem, dependendo da raça.

Exames como ressonância e tomografia têm um custo médio de R$ 800, porque
envolvem também anestesia geral – são raros os procedimentos em animais
realizados em estado de total consciência, já que eles precisam ficar
calmos. Os aparelhos são os mesmos usados nos seres humanos, mas muitas
vezes passam por adaptações.

Já as ultrassonografias têm sido oferecidas no meio Veterinário há uma
década. Na área cardiológica, por exemplo, servem para avaliar o fluxo
sanguíneo, as variações da pressão arterial e a irrigação do coração e dos
tecidos. Tudo isso é monitorado por meio de um "ecodopplercardiograma", um
ultrassom colorido que dá um panorama geral do músculo cardíaco e sai por R$
150 a R$ 200.

Além desse exame, já é possível realizar um cateterismo no animal com
artérias obstruídas por gordura e colocar marcapasso para corrigir arritmias
cardíacas. O primeiro custa cerca de R$ 5 mil e o segundo, de R$ 8 a R$ 10
mil.

"Esses procedimentos ajudam o animal a ter uma vida mais tranquila,
confortável e com melhor qualidade. Um cão com 15 anos, se for bem tratado,
pode viver mais um ano ou dois", destaca o Veterinário especializado na
aérea de cardiologia pelo Instituto do Coração (Incor) Robinson Moreira.

Moreira diz que o ideal é que um animal de até 7 anos faça pelo menos um
check-up anual. A partir dessa idade, a frequência precisa ser semestral. Se
tiver uma doença cardíaca comprovada, a ida a uma clínica deve ser
trimestral.

Genética, idade, problemas renais ou infecciosos e até tártaro nos dentes
podem afetar o coração. As raças também influenciam: boxers têm mais
fragilidade cardíaca, enquanto poodles, malteses e outros cães pequenos
apresentam mais deficiências em válvulas.

Com saúde na terceira idade

Aos 13 anos, o poodle Leonardo da Vinci é um idoso com regalias de filho
único. Faz acupuntura contra dores na coluna provocadas por um bico de
papagaio, só consome carne com baixo teor de proteína (como carneiro,
coelho, rã e peixe) para não sobrecarregar os rins malformados e vai ao
oftalmologista duas vezes por ano por causa de um envelhecimento na córnea,
que resseca os olhos e demanda aplicação constante de lágrimas artificiais.

Os donos do cãozinho, a biomédica Rachel Chebabo e o administrador de
empresas Ricardo Leuzzi, fazem uma avaliação médica completa nele duas vezes
por ano. Isso porque Leo, como é chamado, também tem arritmia cardíaca,
gases e agora uma dor de garganta. Para manter a saúde em dia, ele ainda
toma um complexo vitamínico e já recebeu vacinas contra alergias.

"Estamos prolongando a vida dele com qualidade e saúde, sem exageros ou
intervenções. Quando papai do céu achar que é a hora dele, ele vai", diz
Leuzzi, que, assim como a mulher, leva Leo para todo canto. Entre passeios
terrestres e aéreos, o poodle já viajou por todo o Brasil e conhece ainda
Argentina, Uruguai e Paraguai.

"Ele já fez rafting em Bonito (MS), andou de maria-fumaça e fica sempre com
a gente na cabine do avião", conta o administrador. Ultimamente, por conta
da idade avançada, os donos não viajam mais para longe nem mudam os móveis
de lugar em casa, para o animal não bater em algo ou se machucar por conta
da visão prejudicada.

O gasto médio com Leo gira em torno de R$ 500 por mês, incluindo despesas
com Veterinário e pet shop. Entre as intervenções complexas que ele já fez
está uma cirurgia aos 9 meses de idade para reconstruir três costelas
quebradas após a mordida de uma labradora. Para não abrir os pontos, o
cachorro não podia latir, e o casal "interditou" o andar em que mora para
ninguém subir e causar uma reação inesperada.

O cãozinho também já foi "ressuscitado" depois de sofrer duas paradas
cardíacas ao levar uma anestesia geral para limpar os dentes. A traqueia
dele, que já é estreita, se fechou e o coração, sem oxigênio, parou de
bater.

"Só submeto esse bichinho a uma nova cirurgia se for para salvar a vida
dele. Também não vou deixá-lo sofrer nem ser egoísta a ponto de preservá-lo
ao máximo. Se necessário, não descartamos a Eutanásia", afirma Rachel.

Cirurgia de catarata

Uma das cirurgias que mais avançaram e tiveram resultados satisfatórios na
área da saúde animal é a que remove a catarata, doença que causa opacidade
do cristalino dos olhos. O problema está geralmente associado à velhice e ao
diabetes, mas também pode ser genético e surgir em animais jovens, de 2 ou 3
anos.

De acordo com a veterinária especializada em oftalmologia Angélica Safatle,
que cuida de Leo, raças de pequeno porte como poodle, lhasa apso, shih-tzu e
yorkshire têm mais incidência de catarata por uma questão hereditária.

"A cirurgia é rápida, dura 30 minutos, mas é delicada, porque o animal
precisa ser entubado", explica a médica. Operações oftalmológicas em bichos
de até 15 anos também são feitas em casos de traumas, tumores e pálpebras
viradas para dentro.

O procedimento para retirar a catarata custa de R$ 2 mil a R$ 3 mil, mas tem
um custo-benefício igualmente alto. O animal passa a andar mais rápido, cair
e bater menos em obstáculos. E o problema não corre o risco de voltar,
segundo Angélica. No pós-operatório, é preciso aplicar um colírio durante um
mês.

Sete vidas

Não são só os cães que vivem mais: os gatos também, e não por causa das
hipotéticas seis vidas extras. Aos 17 anos, o siamês Milu é um idoso com
diabetes totalmente sob controle. A dona e bióloga Célia Pavan aplica
insulina no animal duas vezes por dia, pela manhã e no fim da tarde.

A doença foi descoberta há três anos, pois o gato estava urinando muito e
bebendo mais água que o normal. Por conta disso, Milu mantém uma dieta
especial, com ração própria para diabéticos e carpaccio de carne ou filé de
peixe. Segundo Célia, ele também adora requeijão, queijo branco e leite
condensado, mas atualmente está impossibilitado dessas regalias.

"Acho que é o comecinho do fim. Descobrimos uma pancreatite nele. Há uns
dias, o Milu está com hipertensão e insuficiência renal", cita a dona, que
tem aplicado soro diariamente no bichano.

Por mês, Célia gasta com o animal de estimação cerca de R$ 300, o que inclui
ração, areia e tapete para o xixi, cobertores e mantas. Nesse valor, também
estão somadas as despesas do cãozinho Oliver, um lulu-da-pomerânia que é o
xodó do marido dela.

"O Milu dorme na minha cama desde os 45 dias de vida. Agora ele merece todo
o tratamento, conforto e bem-estar do mundo. Se a gente não cuidasse, ele já
teria ido embora. O que puder fazer, dentro das minhas possibilidades, vou
fazer", diz Célia, que chama carinhosamente o gato de Gugu.

Plano de saúde

Para manter o controle dos gastos com os animais, alguns donos já optam por
um plano de saúde. Há várias opções em todo o Brasil e muitas têm cobertura
nacional.

Segundo a assessoria do plano Mister saúde animal, que atua em São Paulo há
dez anos, a empresa oferece dois tipos de convênio: executivo e plus. O
primeiro custa R$ 67 por mês e abrange 70% das necessidades do animal, como
vacinas, exames e cirurgias simples. O segundo sai por R$ 96 mensais e
inclui exames e cirurgias de alta complexidade, unidade de atendimento móvel
e até unidade de terapia intensiva (UTI).

O valor independe da idade do paciente e é o mesmo para cães e gatos. Os
dois planos também cobrem pré-natal e eventuais cesarianas, indicadas em
caso de feto morto ou impossibilidade de parir, pelo tamanho ou pela posição
dos filhotes.

Há apenas um pré-requisito: os donos não podem ficar sem usar o plano. A
cada 60 dias, precisam comparecer a uma clínica credenciada para submeter o
animal a, pelo menos, um exame clínico.

Apesar dos aparentes benefícios, donos e veterinários de clínicas
particulares costumam ser contra o serviço, pois acham que ele não inclui
tudo o que pode ser necessário e, principalmente, coloca à disposição apenas
os profissionais da rede conveniada – o que impossibilita a escolha de um
Veterinário de preferência da família.