PRODUÇÃO ANIMAL E GESTÃO DE RESÍDUOS: Tem sempre um médico-veterinário cuidando do meio ambiente
20/10/2020 – Atualizado em 30/10/2022 – 9:03pm
A produção animal, principalmente em tempos de pandemia, enfrenta o permanente desafio de equilibrar sua relação com a preservação do meio ambiente. A médica-veterinária Paula Helena Santa Rita, professora e doutora em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária, explica que o essencial é reduzir os impactos ambientais gerados pela pecuária.
“Deus perdoa sempre, o homem às vezes e a natureza nunca. Toda ação contra o meio ambiente gera uma reação por parte da natureza. A produção sustentável é uma conduta, como um todo, é uma postura que o produtor deve assumir, pois não é possível produzir sem causar impacto no ambiente. O que precisamos é diminuí-lo”, resume.
O Brasil encara esse desafio enquanto ocupa o posto de maior exportador de carne bovina e de frango in natura do mundo, além do quarto lugar nas exportações de carne suína. No primeiro semestre de 2020, esses três itens geraram um total de US$ 7,5 bilhões em vendas para o exterior, tendo grande peso na pauta exportadora brasileira. Produzir com sustentabilidade representa uma necessidade também econômica, pois trata-se de uma exigência da maioria dos países compradores.
Entretanto, uma publicação da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), que aborda a produção animal e seus impactos ao meio ambiente, aponta muitos problemas ocasionados pelo setor agropecuário. De certa forma ignorados até algum tempo atrás, nos dias atuais eles fazem parte dos principais temas relacionados à produção de alimentos de origem animal. Tornou-se imperativo o manejo adequado em cada uma de suas etapas, pois qualquer negligência, em qualquer fase, pode resultar em problemas sanitários e/ou ambientais. Portanto, ao avaliar esse contexto, há uma necessidade de sistemas produtivos e adequados, que resultem numa produção animal ecologicamente correta, introduzindo conceitos de sustentabilidade nas fazendas, granjas e todos os outros estabelecimentos envolvidos.
Paula explica que cabe ao médico-veterinário auxiliar e promover a melhora das condutas em toda a cadeia produtiva. Ela afirma que não somente os dejetos da produção animal são um problema, pelo contrário, pois hoje podem ser convertidos em energia.
Para a doutora em meio ambiente, é obrigação do médico-veterinário na produção animal é manter os padrões sanitários, a qualidade de vida e bem-estar dos animais de produção. “A preocupação com a sanidade e com a qualidade de vida destes animais, têm que ser tão intensa quanto a preocupação com o lucro no final. Pois, hoje o mundo cobra que este produto final esteja dentro deste padrão de sanidade e bem-estar dos animais”.
Esse profissional tem que ser presente em todas as atividades, tem que repassar para o produtor os cuidados que precisam ser realizados e acompanhados nos mínimos detalhes da recomendação na lida dos animais. “O médico-veterinário tem que se fazer entender, ou seja, explicar as técnicas que domina, não só para o produtor rural, mas para o peão que é o primeiro no clico de manejo dos cuidados com os animais. Não se esquecendo do consumidor, pois ele tem que saber dos cuidados que foram tomados para que os produtos de origem animais que ele consome estão dentro dos protocolos de segurança alimentar”, pontuou.
O médico-veterinário tem o compromisso com o meio ambiente, condutas na prática da medicina veterinária que vão contra o meio ambiente, como por exemplo, como o uso indiscriminado de antibióticos, é um grande risco. O profissional éo responsável não só pela prescrição, mas também da aplicação dos antibióticos no animal.
Outro fato que tem chamado atenção é a falta de preocupação com a manutenção das matas e das grandes árvores, é comprovado atualmente que as áreas de sombreamento são muito benéficas para a criação de gado de corte, porém, muitos profissionais, ainda adotam o desmatamento como cultural, fazendo vista grossa para o meio ambiente.
“Não adianta tratar os dejetos e abater a onça que preda dois animais no meu rebanho. Não adianta tratar dejetos e colocar veneno em cupinzeiro, matando tamanduás e outros animais silvestres que utilizam cupins como recurso alimentar, nem esperar chegar de madrugada para promover incêndios nas minhas áreas de pastagens e falar que foi acidental”, enumera.
Segundo a médica-veterinária, o tratamento de dejetos é uma das situações inseridas no universo da produção sustentável. “A sustentabilidade está sendo imposta à humanidade. Muitos países, como a própria China, vivenciam hoje o reflexo de muitos anos de agressão aos seus recursos naturais”, exemplifica.
Sendo assim, a intensidade da ação contra o meio ambiente gera uma resposta. “Está claro que não podemos contra a reação da Natureza. Existem vários estudos, nos quais muitos médicos-veterinários e zootecnistas estão envolvidos, na busca de uma produção animal mais sustentável, incluindo a conversão energética dos dejetos gerados por essas produções. Penso que o caminho é esse”, afirma Paula, que é doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária da Universidade Católica Dom Bosco (MS) e mestre em Ciência Animal pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS).