revolta

10/05/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:49am

Projeto na Universidade Federal de Santa Maria removia parte de mandíbulas e maxilares para colocação de placas de titânio

É inquestionável o avanço que as pesquisas científicas têm proporcionado no desenvolvimento da medicina humana e veterinária. Mas muitos desses estudos, que utilizam experimentação animal, são polêmicos e deixam indignados quem simpatiza com os bichos.

Em Santa Maria, o projeto de um doutorando da Pós-Graduação de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) revoltou alunos, funcionários e professores do curso.

O experimento consistiu em criar e testar uma placa de titânio para recomposição de mandíbulas e maxilares de cães que, por causa de um câncer na boca, tenham passado por cirurgia de remoção de parte ou de toda a mandíbula. O projeto testou o desempenho de próteses humanas e de uma placa específica desenvolvida pelo doutorando com ajuda de engenheiros para a anatomia dos cães. O estudante usou cães cobaias que tiveram parte ou toda a mandíbula retirada para a colocação e teste das placas. O doutorando Cristiano Gomes e o orientador dele, professor Ney Luis Pippi, negaram os maus-tratos.

Imagens enviadas ao jornal Diário de Santa Maria – as pessoas que mandaram pediram suas identidades preservadas – mostraram os animais magros, trancados em gaiolas, deitados em meio à própria urina, com pratos de ração virados e vazios, em um ambiente sem condições de higiene.

– O problema foi que houve descaso no cuidado com os animais. O Cristiano praticamente não acompanhou o pós-operatório, deixando tudo para estagiários que, muitas vezes, não sabiam nem o que fazer – disse uma estudante, que preferiu não se identificar.

Gomes diz que os cães estavam sob os cuidados de 12 pessoas – além dele, quatro doutorandos, três mestrandos e quatro bolsistas da graduação. O estudante teria ficado na cidade até março, acompanhando os animais e, depois, teria mudado para Tubarão (SC), onde passou em um concurso. Segundo ele, depois do seu afastamento, os demais membros do projeto permaneceram cuidando dos bichos.

Ainda segundo Gomes, no pós-operatório, os animais teriam ficado cerca de uma semana, recebendo medicação (anti-inflamatórios e antibióticos), diariamente, de manhã, à tarde e à noite. Conforme o doutorando, todos eram alimentados por sonda com ração umedecida e batida no liquidificador.

UFSM diz que não sabia dos desdobramentos da pesquisa

Tanto a coordenação da pós-graduação em Medicina Veterinária quanto a direção do Hospital Veterinário e a reitoria da UFSM não tinham conhecimento dos desdobramentos da pesquisa sobre câncer de boca em cães.

– Fiquei sabendo da história na última sexta-feira. A coordenação (da pós) não tem ingerência sobre os experimentos dos pós-graduandos. A coordenação não tem como sair e inspecionar os cento e poucos alunos que temos – disse a coordenadora da pós-graduação em Medicina Veterinária, professora Sonia Terezinha dos Anjos Lopes.

A coordenadora comentou que iria se informar com o doutorando Cristiano Gomes e com seu orientador, Ney Luis Pippi, sobre o ocorrido no projeto.

– A área física é a do hospital, mas o hospital não interfere nem nas aulas nem nas pesquisas da pós – disse Luiz Sérgio Segala de Oliveira, diretor do Hospital Veterinário da UFSM.

A reitoria disse que só se manifestará sobre o assunto depois do pronunciamento do Comitê de Ética.