Carne

10/04/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 8:50am

O brasileiro ainda consome pouca carne suína, mas o acesso ao produto poderia ser maior caso não houvesse falhas na cadeia industrial. "Além disso, há pouca divulgação e a distribuição é deficitária", destaca a administradora de empresas Maria Stella Saab. Na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), ela conduziu uma pesquisa sobre o perfil do consumidor nacional que analisou diferentes pontos do contato da população com a carne do porco. O objetivo do estudo foi identificar os hábitos dos compradores para que fosse possível adaptar o produto final de acordo com o seu gosto.

A tese de doutorado – Comportamento do consumidor de alimentos no Brasil: um estudo sobre a carne suína (arquivo PDF – 4,12 Mb) – está inserida dentro de um projeto maior, o Q-PorkChains, iniciado em 2001 e concluído em 2007. Comandado pela União Europeia (UE), o projeto convidou Brasil e China a participarem – os dois países são grandes produtores e consumidores. Maria Stella e seu orientador, o professor Marcos Fava Neves, também da FEA, foram convidados para representar o nosso País.

Maria Stella aplicou questionários em 480 pessoas das duas regiões de maior produção de carne suína: o sul e o centro-oeste. Foram escolhidas duas cidades de dois estados de cada região, totalizando oito cidades: Curitiba e Ponta Grossa, no Paraná; Porto Alegre e Santa Rosa, no Rio Grande do Sul; Cuiabá e Campo Verde, no Mato Grosso; e Goiânia e Rio Verde, em Goiás. O enfoque que ela deu para sua tese de doutorado foi diferente das abordagens que levou para o encontro europeu, mas o questionário base do projeto foi o mesmo do Q-PorkChains.

Questões culturais e o marketing

O consumidor ainda vê a carne suína como uma carne de baixa qualidade. Segundo Maria Stella "ainda existe no imaginário das pessoas a ideia de que o porco é um animal com pouca higiene, que se alimenta de lavagem e é criado em um chiqueiro". A pesquisadora explica que esse tipo de criação, a cultura doméstica, é cada vez menor e a produção industrial é que não para de crescer.

Para reverter esse quadro e levar uma nova ideia do produto às pessoas, permitindo que elas criem uma concepção diferente de sua qualidade, é preciso que seja feito um grande trabalho de marketing.

É preciso que se faça entender que a carne suína é de qualidade no Brasil e que chega ao consumidor de maneira segura, sem oferecer riscos para sua saúde. Além disso, destacar que esse alimento tem importância nas dietas. "O que se percebe é que a opinião de nutricionistas e médicos conta muito para as pessoas. Por isso é preciso fazer um trabalho junto à esses formadores de opinião, de modo que eles incentivem as pessoas a comerem carne suína e a partir disso criem esse hábito", explica.

Maria Stella destaca que hoje em dia a carne é muito menos gordurosa, pois se desenvolveram raças com menos gordura e mais carne. "Antes, a banha valia mais do que a carne, então o produtor incentivava a gordura no porco. Quando se desenvolveu o óleo de soja, esse mercado perdeu espaço e hoje os cortes são muito mais leves."

Outro ponto destacado para o baixo consumo é o preço, que ainda é considerado alto no Brasil. "É preciso que o consumidor tenha conhecimento da diversidade de produtos derivados da carne suína. Existem produtos acessíveis a todas as classes", garante.

Além disso, com a expansão do mercado nacional, a tendência é que a produção aumente e se diversifique ainda mais. Um dos pontos que Maria Stella notou incomodar os compradores é o tamanho das peças que é muito grande. Proporções menores e mais práticas atrairiam uma outra gama de pessoas. "Ainda são poucos os produtos de preparo rápido, por exemplo, como empanados e hambúrgueres. Existe um amplo caminho que pode ser explorado", completa.

Os diversos pontos destacados a respeito da visão do consumidor sobre a carne suína evidenciam que ele gosta do produto. O que ainda não existe é o hábito na maioria das pessoas de comprá-la e isso acontece ora pelo preço, ora pelos estigmas da cultura popular. Mas todas essas questões são reversíveis, segundo Maria Stella, que acredita no crescimento do mercado no Brasil.