Gaviões

06/02/2012 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:00am

Apesar de migratória, ave chegou há 20 anos e não deixou o arquipélago.
Garças representam risco para a aviação e para alguns animais nativos.
Fernando de Noronha deu início a mais uma tentativa para controlar a população de garças no arquipélago. A administração do distrito fez parceria com uma empresa do Rio Grande do Sul e levou pra Noronha três gaviões, que estão fazendo a captura das garças vaqueiras (Bubulcus ibis), aves que se estabeleceram no arquipélago e são responsáveis por uma série de problemas. Entre outros transtornos, elas representam um risco a aviação, porque chocam-se contra as aeronaves, com frequência, podendo até causar acidentes graves.

Além do risco para os aviões que pousam e decolam na ilha, as garças também representam um desequilíbrio ecológico. Segundo a bióloga Lourdes Alves, pesquisadora do meio ambiente de Noronha há mais de 20 anos, as garças estão expulsando as aves nativas dos locais de procriação e matando os filhotes. Eles também se alimentam de mabuias, lagartixas endêmicas que só existem no arquipélago.”O ideal é que as garças sejam eliminadas por completo. Elas são malvadas e têm um alto poder de reprodução quando sentem que a espécie está ameaçada”, avalia a bióloga.

Os gaviões são treinados para a atividade e fazem o chamado “controle ecológico”. Eles são levados para áreas onde as graças se concentram – a pista do aeroporto e a usina de lixo são os principais locais de ação. Extremamente ágeis, eles fazem o ataque seguindo a ordem do adestrador, que ficam numa viatura, em média a 50 metros da presa. Dado o sinal, imobilizam a garça e só não a matam de imediato porque as garras estão protegidas por miçangas. “As miçangas foram colocadas para evitar o sofrimento da vítima. Depois de capturada, aplicamos um anestésico e, em seguida, fazemos a eutanásia. As garças são mortas sem dor, conforme protocolo firmado com o Conselho Federal de Medicina Veterinária”, explica Carlos Diógenes, veterinário do distrito que está coordenando o trabalho.

As garças vaqueiras são migratórias, vieram da África para uma temporada na ilha e ficaram. Isso aconteceu há quase 20 anos e, de lá para cá, a população dessas aves só fez crescer. Por conta do perigo aviário, o Ministério Público Federal determinou a eutanásia em 2007. Várias reuniões foram realizadas com órgãos ambientais e o trabalho de captura com armadilhas foi executando durante três anos, quando cerca de 580 aves da espécie foram eliminadas. Segundo estimativas dos pesquisadores em Noronha, ainda existem aproximadamente 800 garças na ilha. O controle tem sido acompanhado de perto pelo Instituto Chico Mendes: o diretor do Parque Nacional Marinho, Ricardo Araújo, tem participado das ações de captura realizadas com os gaviões.

Em Noronha, são utilizadas três gaviões fêmeas, animais com maior porte do que os machos. Rápidas, elas seguem à risca as determinações dos treinadores. Depois da captura de cada garça, recebem como prêmio carne de codorna. Os gaviões têm visão privilegiada, enxergam com acuidade oito vezes maior que o ser humano.
Entre a captura com gaviões e com armadilhas, na primeira fase do trabalho, concluída neste mês de fevereiro, foram eliminadas 168 garças, incineradas após a eutanásia. O objetivo é reduzir em 80% a população das garças vaqueiras .”Estamos muito satisfeitos com o resultado desta primeira fase. Para reforçar a ação, na próxima etapa vamos implementar o ‘tapete de laços’”, informou Fernando Magalhães, representante da Vigilância Ambiental da ilha que participa do trabalho. O tapete de laços a que ele se refere é a armadilha terrestre que prende as patas da garça quando ela pisa.

A atividade será feita por dez dias todo o mês, até o final do ano. Os gaviões são transportados do Rio Grande do Sul para Fernando de Noronha acompanhados pelos adestradores. A empresa que executa o trabalho é Haybusa, e o custo da operação é apenas a viagem e manutenção da equipe em Noronha. Para a empresa gaúcha, a atividade está sendo realizada como uma ação ambiental.