Distúrbios

20/12/2011 – Atualizado em 31/10/2022 – 9:01am

A acupuntura é uma técnica da Medicina Tradicional Chinesa, que utiliza estímulos físicos como método terapêutico. No Brasil, a técnica é comum em tratamento de seres humanos, mas uma pesquisa desenvolvida no curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Alagoas traz uma novidade: o uso da técnica como tratamento dos distúrbios comportamentais em cães. O estudo, desenvolvido como trabalho de conclusão de curso da aluna Carla Ferreira Loureiro Lima, da unidade acadêmica de Viçosa, integrada ao Campus Arapiraca, abre um novo espaço para Medicina Veterinária em Alagoas.

O trabalho de Carla Loureiro foi apresentado em julho deste ano e conseguiu destaque nacional, com a divulgação na recente edição da revista “Nosso Clínico”. Para demonstrar a eficácia do método, o tratamento foi dividido em nove sessões – uma a cada semana, com duração de 20 minutos e com a presença dos proprietários dos caninos.

No projeto, 14 cães foram avaliados, dos quais 12 obtiveram mudanças expressivas no comportamento. “A avaliação do resultado da acupuntura foi feito pelo relato dos proprietários, que foram vendo a mudança comportamental – e, também, do veterinário. A escolha dos animais foi feita através do relato do proprietário, que chegava à clínica onde trabalho atualmente, questionando o comportamento dos cães, e dos profissionais, que conheciam o histórico dos animais”, destacou.

Segundo Carla Loureiro, as mudanças no contexto familiar ao qual o animal está inserido, como aumento da atenção destinada a ele, também auxilia na evolução do seu quadro comportamental. Mas, para comprovar a pesquisa, cientificamente, só as técnicas dos pontos acupunturais foram utilizadas.

Com o êxito na resolução de diferentes distúrbios, por meio desse único mecanismo, muitos animais não passaram pelo processo de abandono. “Tivemos um caso em que a proprietária tinha, há anos, um cão que apresentava um comportamento agressivo. Posteriormente, a dona do cão engravidou e o animal começou a sentir ciúmes da criança. Como não tinham outra saída, a proprietária pensou em entregar o cachorro para doação. Mas com o tratamento e a diminuição da agressividade, o cão permaneceu como integrante da família”, relatou.

Outros animais

Os cães não são os únicos animais que recebem tratamentos por meio da acupuntura. De acordo com a médica, tartarugas, cobras, gatos, pássaros e quaisquer outras espécies estão aptos à técnica. “Os primeiros relatos de tratamentos em animais foram em cavalos e bois de tração. No entanto, a grande demanda de casos que chegam às clínicas são referentes ao universo canino. Direcionei meu trabalho para cães porque na clínica onde estagiava e hoje trabalho essa é a maior demanda. Outro aspecto é que o contato íntimo entre os animais de pequeno porte e seus proprietários tende a desenvolver certos distúrbios comportamentais”, revelou.

Além das implicações no comportamento, o método também auxilia na recuperação de pós-operatórios e possibilita a diminuição das dores, no aumento da imunidade e no tratamento de câncer. “No caso do câncer, a tendência é a estagnação ou regressão do tumor. A acupuntura é muita utilizada no caso de neoplasias, pois após a quimioterapia surgem enjoos, náuseas, desconforto e dor. Então, é maravilhoso poder tratar um animal que não pode falar para a gente: ‘estou sentindo dor’”, afirmou Carla Loureiro, orgulhosa de poder contribuir com o bem-estar dos cães.

Para a médica, única veterinária acupunturista em Alagoas, a técnica também tem ação preventiva e, mesmo após a cura, os animais devem continuar o processo. “Depois do tratamento, o animal pode continuar a usufruir das técnicas para não voltar a ter a patologia”.

As vantagens não ficam, apenas, no âmbito da saúde. Os benefícios são constatados na economia que os proprietários dos animais têm com a prevenção e com a redução do uso de medicamentos. “Alguns antibióticos causam resistência a algumas bactérias; alguns anti-inflamatórios podem causar problemas em outros órgãos. A acupuntura, no entanto, não tem esse tipo de contraindicação, ou seja, torna-se mais viável”, alertou.

O trabalho é fruto de um estudo realizado por Carla Loureiro em parceria com professor da Ufal Pierre Barbabé e com a médica veterinária Simona Sanches Ferri. Mesmo recente, a pesquisa científica é reconhecida nacionalmente pelos resultados obtidos e pela inovação.

Estudo foi desenvolvido como trabalho de conclusão de curso de Carla Ferreira Loureiro Lima, aluna de Medicina Veterinária da Ufal